Antes do início do filme de abertura da 49ª edição da Mostra de São Paulo, o público é informado que um dos significados do seu título, Sirât, é: ponte que separa/liga dois mundos, céu e inferno.
A história de Sirat
Um pai em busca de sua filha se vê em uma situação inesperada quando é obrigado a atravessar o deserto marroquino ao lado de seu filho caçula, em meio a Terceira Guerra Mundial, a caminho de uma festa rave, onde espera encontrar a garota desaparecida.

O que achamos do filme
A trama já se inicia com uma longa sequência de dança e festa marcada pelo ritmo estridente da música eletrônica que faz tremer as caixas de som de uma rave. Porém, ao invés de animado, o tom atmosférico pesado é um prelúdio dos desastres que estão por vir, as batidas ecoam como se fossem trombetas anunciando o apocalipse que não tardará a chegar.
Então aparecem os militares, interrompendo a festa para alertar sobre a Terceira Guerra Mundial. E é quando você é induzido a pensar que a partir daí o filme tomará um caminho, que o diretor te surpreende e vira na direção oposta – algo recorrente durante toda a narrativa, mas que, ainda assim, consegue pegar o público desprevenido.
Lá pela metade do filme, um acontecimento deixa claro, de uma vez por todas, a disposição do diretor em levar sua história até as últimas consequências, ninguém estará seguro. E mesmo esperando o inesperado, as surpresas continuam vindo de forma eficiente. A sensação de instabilidade vivida por aqueles em tela é sentida diretamente pela audiência em seus assentos que começam a parecer tão desconfortáveis quanto a estrada áspera que percorrem os personagens.
O choque não vem necessariamente de cenas gráficas encharcadas de sangue e gore, mas sim dessa construção ambiental que combina o árido deserto impiedoso, filmado em longos planos que escancaram sua imensidão imponente, com uma trilha sonora marcada pelas batidas agressivas da música eletrônica, que ressoa estridente nos ouvidos, como se transformasse em melodia os pensamentos acelerados e o caos mental dentro do protagonista.

Até os movimentos de dança são bruscos e ágeis, sempre frenéticos, sem pausas para descanso. Nada é gratuito, e o sofrimento, apesar de explorado de maneira espetaculizada, é genuíno. O próprio espetáculo é construído pela forma como as coisas acontecem e não apenas pelos acontecimentos por si só.
As comparações com Sorcerer (1977) parecem inevitáveis, porém se por um lado William Friedkin constrói a tensão a partir de um perigo conhecido, as cargas de dinamite em uma ponte instável – que pode ou não se concretizar, aqui em Sirât, por outro, Oliver Laxe deixa claro que algo vai dar errado a qualquer momento, sem dizer o que, como ou quando. Sabe-se que a ameaça existe, mas não se sabe exatamente de que forma ela virá.
Mesmo ao final do filme, só é possível relaxar completamente quando os créditos finalmente sobem na tela, como se nos últimos segundos algo novo ainda pudesse destruir o pouco que restou. E quando finalmente podemos respirar, não nos sentimos tão aliviados assim, o gosto da desesperança segue amargo na boca até depois que as luzes se acendem.
Sirāt foi visto na 49ª Mostra de São Paulo, que acontece dos dias 16 a 30 de outubro de 2025.

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