Da instabilidade para a covardia
Esse texto tem spoilers. Muitos deles.
The Walking Dead possui um dos melhores fonte que eu já li na minha vida e tantas outras qualidades que abrem um leque de boas oportunidades para criar uma série praticamente perfeita. Algumas dessa oportunidades foram aproveitadas nos últimos episódios da 6ª temporada e o programa alcançou uma sequência incrível de bons episódios para jogar tudo fora em um final arrastado e completamente covarde.
A segunda metade da temporada começou exatamente onde tudo tinha sido interrompido e, apesar de atrasada, a resolução da invasão zumbi à Alexandria foi resolvida de forma rápida e bem próxima dos quadrinhos. Contando ainda com uma das cenas mais bem editadas de toda a série, esse episódio mostrou toda a qualidade que a série possui na direção, nos efeitos especiais e na criação de momentos catárticos que podem ser bem aproveitados.
Esse foi o pontapé inicial para que The Walking Dead conseguisse fazer algo quase inédito: criar uma sequência de episódios interessantes, que, mesmo em momentos mais lentos, se apoiaram no desenvolvimento de personagens e na preparação do terreno para mais um grande vilão sem deixar a peteca cair. Tivemos boas interações, momentos assustadores, a apresentação de Jesus (Tom Payne), um arco um pouco forçado de Carol, muitas discussões éticas e confrontos de tirar o fôlego que elevaram a qualidade da temporada de uma forma que eu não esperava. Mas aí chegamos no último episódio…
Não comecem essa parte do texto pensando que eu não gostei do episódio, porque eu gostei. No entanto, alguns erros incomodaram bastante e tiraram certos méritos de um final que tinha tudo para ser o melhor de toda a série. O primeiro grande problema de “Last Day on Earth” foi a decisão de aumentar o tempo do episódio sem nenhuma necessidade. Isso tornou o episódio arrastado, quando o público poderia ter sido poupado de uma boa parte da discussão desnecessária entre Carl (Chandler Riggs) e Enid (Katelyn Nacon), da perseguição a um sobrevivente desconhecido e da repetição constante dos bloqueios feitos pelos Salvadores.
A mesma coisa também poderia ser facilmente repetida na conclusão do arco de Morgan (Lennie James) e Carol (Melissa McBride). Eles ocuparam muito tempo de tela com um jogo de gato e rato que trouxe de volta aquele clima de enrolação da primeira metade, mas fizeram o plot valer a pena com a aparente evolução de Morgan e com a primeira aparição dos sobrevivente do Reino, um novo grupo que deve ser introduzido no futuro.
Depois de tudo isso, finalmente chegamos a tão esperada e anunciada aparição de Negan nos últimos 10 minutos. A construção da cena foi muito boa, o desespero no olhar de cada membro do grupo de Rick (Andrew Lincoln) foi marcante, o suspense preencheu a sala e Jeffrey Dean Morgan tomou conta do palco em um monólogo espetacular. Mesmo sem os característicos xingamentos do vilão, Jeffrey construiu sua cena de forma brilhante, aproveitando muito bem a mistura entre carisma e medo que o personagem exala nos quadrinhos.
O grande problema é que o roteiro decidiu apostar mais uma vez em um gancho vazio e não teve culhões para entregar a morte que tanto prometeu para os seus espectadores. É muito fácil listar os motivos que levaram a série a tomar essa decisão, mas esse exercício não vai diminuir a covardia e frustração que marcaram aquela cena final em primeira pessoa. Nada disso vai mudar o fato de que os roteiristas abriram mão de uma cena chave para a história e atrapalharam a introdução de um dos vilões mais fodas de todos os tempos. Nada disso vai impedir que o público fique seis meses pensando na identidade do morto ao invés de sentir a impotência de não saber quase nada sobre esse sujeito que matou alguém importante.
Com isso, The Walking Dead segue seu caminho sem ser uma série de primeiro escalão por pura sabotagem de sua própria equipe. Essa sexta temporada começou de forma incrível, passou por momentos instáveis, se recuperou gloriosamente e estava se encaminhando para ser a melhor da série, mas mais uma vez tropeçou em uma decisão idiota e sem nenhum respeito pelos seus fãs. Não foi uma temporada ruim, mas certamente poderia ter sido muito melhor se não fosse tão instável e medrosa.
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