A crise criativa de Hollywood e a interminável onda de remakes e continuações de filmes fez várias vítimas nos últimos anos, incluindo alguns exemplares que encontraram seu espaço e conquistaram novos fãs. A primeira temporada de Scream conseguiu entrar nessa lista ao encher seu roteiro de ótimas referências cinematográficas, apresentar mortes dignas do gênero e trazer um pouquinha do clima dos filmes para a TV, mas a segunda temporada fez o favor de apagar toda essa diversão com uma sequência de erros bobos e covardes.
[Você gosta de filmes de terror? Fique atento por que o spoiler está solto e armado por aqui.]
Quem conhece a franquia de filmes e suas continuações já sabe que a nova temporada vai aproveitar um cúmplice desconhecido de Piper (Amelia Rose Blaire) para trazer de volta o assassino mascarado, abusando sempre das relações familiares e dos personagens extremamente clichês. Algo que seria aceitável dentro desse contexto, se o roteiro não ficasse perdido em conexões rasas, decisões medrosas e referências que saem da fluidez dos diálogos para ficarem restritas ao títulos dos episódios.
Apesar de continuar a história dos sobreviventes do primeiro ano, o grande erro dos novos episódios foi simplesmente apagar quase todos os acertos anteriores, incluindo a crítica rasa ao uso indevido da internet e o uso razoável da temática adolescente. Tudo isso dá espaço a um clima cansativo de Malhação, romances desnecessários e um assassino que usa novos formatos de tecnologia para fazer entradas teatrais que não ameaçam ninguém. Sem nenhuma explicação, a opção foi criar um assassino covarde para alongar a história, tirando completamente o foco das ligações misteriosas, perseguições no escuro e mortes cheias de sangue. Em outras palavras, essa temporada desperdiçou todos os potenciais de terror que existiam na série.
O roteiro também peca gravemente ao enrolar muito tempo para revelar uma primeira morte que pareceu ser algo corajoso nos primeiros momentos, foca vários episódios na óbvia e fraca loucura de Emma (Willa Fitzgerald caricata e muito chata), apresenta novos personagens unidimensionais que só estão ali pra morrer, coloca as evidências nos momentos errados, joga no lixo um ótimo plot de Audrey ao explorar apenas o lado emocional disso e, no fim das contas, também perde a conexão com os fãs do longa original ao se levar a sério demais. Claro que alguns – poucos – bons episódios surgem dessa confusão, mas a série perde todas essas vantagens quando coloca suas fichas em um gancho que é claramente uma mentira.
Pelo menos, a revelação do assassino foi coerente. Recheada de clichês, mudanças de voz para deixar a atuação bem brega e mais um gancho que – talvez – possa ser bem trabalhado, mas coerente tanto com o início do show quanto com os finais dolorosos dos filmes originais. É interessante perceber que várias pontas são amarradas com a presença de Kieran em baixo da máscara, mas mesmo assim eu fiquei com a sensação de que ele precisaria de um cúmplice que tivesse maiores habilidades com o espetáculo e conhecesse os segredos do passado que foram sugeridos e simplesmente ignorados no último episódio.
De resto, a única coisa que realmente se salva é uma pequena parte do elenco. Bex Taylor-Klaus consegue tirar leite de pedra ao apresentar algumas camadas novas de Audrey, John Karna mantém sua relação carismática com o público e preocupa nos momentos onde Noah é ameaçado e Carlson Young surpreende por conduzir os picos emocionais de Brooke com facilidade e realismo. esmo assim esses aspectos positivos aparecem aos trancos e barrancos, já que ainda temos o lado que reúne Willa aos personagens fracos e mal aproveitados de Amadeus Serafini, Tracy Middendorf, Bryan Batt, Kiana Ledé, Santiago Segura, Anthony Ruivivar e Sean Grandillo.
Obviamente, o resultado não poderia ser outro a não ser uma temporada arrastada, fraca e extremamente covarde. O roteiro acertou em poucos momentos, a direção sofreu com a falta de bons momentos de horror e o elenco precisou trabalhar em dobro pra tirar coisas boas de um show de diálogos péssimos. Scream desperdiça o pouco potencial que ainda tinha, deixa a experiência do público extremamente angustiante (no lado ruim da palavra) e não chega nem perto de fazer justiça a uma das melhores franquias de terror já feitas. Quem sabe a próxima temporada consiga?
OBS 1: A Netflix informou pelo Twitter que a temporada vai ter mais dois episódios especiais de Halloween.
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