Master of None (2ª Temporada)

“Maestro di tutti”


Master of None (2ª Temporada) 3Antes de qualquer outra sentença, eu preciso admitir que Master of None não é uma série necessariamente fácil de se assistir. Os episódios são curtos e o clima leve na maior parte do tempo, porém a primeira temporada demora pra esclarecer sua proposta e cativar de uma vez por todas o espectador. Eu só entendi seu humor sutil a partir do quarto episódio, mas terminei classificando-a como uma das cinco melhores produções originais da Netflix até então. Quase dois anos se passaram e a comédia de costumes escrita, dirigida e protagonizada por Aziz Ansari (Parks and Recreation) continua nesse lugar privilegiado.

[Eu sou o mestre do nada. Não me responsabilizo pela presença de spoilers nesse texto…]

Dessa vez as desventuras sociais de Dev Shah começam na Itália, dando continuidade as decisões do protagonista e preparando o terreno para uma versão levemente deturpada de Chef’s Table. Parece que Ansari (ao lado do co-criador, Alan Yang) faz questão de se afastar cada vez mais das sitcons sobre amizade só pra deixar claro que está cagando para as regras pré-estabelecidas pelas comédias tipicamente americanas. Partindo do pressuposto de que espectador já está acostumado com esse lado subversivo de Master of None, fica um pouco mais fácil entender e aceitar algumas “pirações” propostas durante os dez episódios.

As misturas entre linguagens audiovisuais continuam no topo dessas loucuras. É completamente normal que alguns episódios pareçam ser uma espécie de documentário temático exibido no Globo Repórter, enquanto outros brincam com edições inusitadas, longos planos-sequência, ausência de sons e até um episódio todo em preto e branco que evoca o clima dos grandes clássicos europeus, como Ladrão de Bicicletas. Existe muita genialidade na forma como a equipe por trás de Master of None aproveitas suas referências cinematográficas, brinca com escolhas visuais (o espelho separando o casal na dança do último episódio, por exemplo) e captura os detalhes da realidade humana.

Outro destaque continua sendo a foma como a série consegue se desprender das suas amarras, abrindo assim espaço para coadjuvantes – recorrentes e desconhecidos – roubarem os holofotes. Essa leva de episódios guarda pérolas sobre um relacionamento passado de Arnold (o sempre ótimo Eric Wareheim), a magnífica relação do feriado de Ação de Graças com a homossexualidade de Denise (Lena Waithe) e uma divergência bastante aleatória envolvendo o pai de Brian (Kelvin Yu). Sem contar ainda com um episódio inteiro sobre religiões e outro que aborda a vida de vários habitantes de Nova York naquele que deve ser o melhor – e mais surpreendente – momento da série até então.

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Por outro lado, os roteiros dessa temporada investem um pouquinho mais de tempo na construção de uma linha narrativa consistente, evoluindo personagens e focando seu desenvolvimento em dois arcos principais que nos apresentam Francesca e Jeff. Adições valiosas para o elenco, la bella ragazza Alessandra Mastronardi (Para Roma, com Amor) e Bobby Cannavale (Homem-Formiga) possuem uma química valiosa com Aziz Ansari e funcionam como trampolim para problemas e mudanças reais na vida do protagonista durante os últimos episódios.

relacionamento entre Francesca e Dev é estabelecido que uma forma tão genuína que o público torce por um resultado positivo, aproveitando a recriação de alguns dos maiores clichês dos filmes de romance e culminando em um dos diálogos mais francos sobre rompimentos que eu já vi. Enquanto isso, o grande cozinheiro Jeff vai de parceiro em um programa de TV para problema profissional em um piscar de olhos quando a série revela que ele usa sua posição para assediar mulheres. Qualquer semelhança com algum caso recente é mero acaso, mas essa discussão só adiciona ainda mais estofo para os constantes questionamentos sobre relacionamento, amizade, emprego e sexualidade.

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O resultado é óbvio: mais uma leva de episódios praticamente perfeita. Master of None consegue entregar uma temporada mais pesada e madura que a anterior, sem abrir mão daquele humor que tira sarro justamente das ironias e sutilezas que cercam o cotidiano de qualquer ser humano. Os dilemas dos personagens são palpáveis e verdadeiros, enquanto o humor certeiro faz com que americanos, italianos e brasileiros reflitam sobre coisas que já passam despercebidas de tão comuns aos nossos olhos. Master of None não pode mais ser classificada como uma mera surpresa de 2015, mas merece continuar no pódio das séries originais mais inteligentes e bem-humoradas que o streaming já viu.


OBS 1: Master of None é uma obra extremamente pessoal e Aziz Ansari é a alma dela. O cara destrói e merece pelo menos um prêmio como ator, diretor ou roteirista.

OBS 2: O hall de participações especiais também foi ampliado nessa temporada, contando com as presenças ilustres de Raven-Symoné, Angela Bassett, Cedric the Entertainer e John Legend.

OBS 3: Andy Samberg também faz uma pequena e hilária ponta com sua voz. Deixo o desafio de encontrar esse momento…


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