Sucesso em Filme de Sean Baker, Mikey Madison mistura romance, drama e realidade crua em uma narrativa que desafia convenções e emociona o público
No meio de Anora, o novo filme do diretor Sean Baker, uma única cena muda completamente o rumo da história. Vanya (Mark Eydelshteyn), o filho mimado e carismático de um oligarca russo, está em Las Vegas, aproveitando uma vida de luxo, dinheiro e diversão. No entanto, ele lamenta que logo terá que voltar para a Rússia e assumir o legado da família. A menos que… “Se eu me casar com uma americana, não precisarei voltar”, murmura Vanya.
“Então, com quem você vai se casar?”, pergunta Ani (Mikey Madison), uma acompanhante de luxo com sotaque carregado de Brooklyn. Vanya a encara, e o que começa como uma brincadeira se transforma em esperança. Logo, os dois estão em uma capela de Vegas, com um diamante de quatro quilates e a música Take That tocando ao fundo. A câmera de Baker gira em torno do casal, capturando um momento que parece saído de um sonho americano.
“Tudo aquilo foi filmado ao vivo, com pessoas reais”, conta Madison. Baker, conhecido por usar não atores consagrados em seus filmes, como em Tangerine e The Florida Project, trouxe uma autenticidade única para a cena. “Realmente parecia que tínhamos acabado de nos casar”, ri a atriz. “Acho que não é todo dia que um ator vive algo assim.”
Essa sequência é o ponto crucial de Anora. Antes disso, acompanhamos Ani, que conhece Vanya em um clube de strip e aceita ser sua “namorada” por uma semana. Graças a uma avó que nunca aprendeu inglês, Ani fala russo fluentemente, e o relacionamento dos dois é uma mistura de idiomas e intenções: metade em inglês, metade em russo; metade pago, metade genuíno. O filme não apenas referencia Pretty Woman, mas o reinventa.
Enquanto o clássico dos anos 90 termina com um conto de fadas, em Anora, o casamento é só o começo. Quando as fotos da cerimônia vazam para os tablóides, os pais de Vanya enviam capangas para anular o casamento, e Ani vive o pior dia de sua vida.
Mikey Madison: uma estrela nasce
Mikey Madison, que já havia chamado atenção como uma das assassinas de Once Upon a Time in Hollywood, de Quentin Tarantino, entrega uma atuação de estrela em Anora. “Foi um sonho realizar aquele filme”, lembra a atriz. “Quando penso naquela experiência, lembro do entusiasmo e do amor que ele tinha pela história que estava contando… isso me lembra como quero me sentir em todos os meus projetos.”
Em maio de 2025, Madison foi a sensação do Festival de Cannes, onde Anora levou a Palma de Ouro e ela desfilou com looks da Chanel em todos os eventos. Sentada em um terraço com vista para o mar repleto de iates, a atriz de 25 anos admite que ainda está processando tudo. “Estou apenas absorvendo tudo, para ser honesta”, diz ela, com uma serenidade que contrasta com a personagem barulhenta e confiante que interpreta no filme.
Da fantasia à realidade
Enquanto Pretty Woman é uma fantasia romântica, Anora está profundamente enraizado na realidade. Ani é uma personagem complexa, cuja esperança é frágil e escondida sob uma casca dura. “Ela é alguém muito vulnerável, mas que constantemente esconde isso com uma fachada de força”, reflete Madison. “Adoro que ela esteja disposta a lutar com unhas e dentes pela vida que acha que merece.”
O processo de filmagem, que durou três meses, foi intenso e colaborativo. “Já fiz projetos em que me senti como uma marionete”, admite Madison. “Com Sean, é diferente. Ele é um mestre em criar histórias a partir do meu caos.” Em uma cena no clube de strip, a atriz improvisou tanto que fez o cinegrafista rir até tremer a câmera.
Madison, que já havia impressionado como o assassino Ghostface no reboot de Pânico, conquistou sua primeira indicação ao Oscar em 2025, vencendo como Melhor Atriz. Mas, para ela, o maior elogio veio das acompanhantes que participaram do filme e estiveram presentes na estreia em Cannes. “Algumas delas vieram até mim com lágrimas nos olhos, dizendo o quanto estavam felizes com a representação”, conta Madison. “Isso, para mim, significou mais do que qualquer outro elogio.”
Anora é um filme sobre esperança, resiliência e a luta por uma vida melhor. Com uma narrativa que mistura romance, drama e ação, Sean Baker mais uma vez prova seu talento para contar histórias humanas e autênticas, enquanto Mikey Madison se consolida como uma das grandes estrelas de sua geração.
Confira também: Mestras do Macabro: As cineastas ao redor do mundo | CCBB SP recebe mostra especial que celebra as mulheres no terror
Siga também A Odisseia no Instagram
