Entre inúmeros clichês, O Pergaminho Vermelho reúne RPG e folclore numa animação restrita para o público infantil
Enquanto estava fazendo minha lista de possibilidades, eu esbarrei em O Pergaminho Vermelho e decidi que iria vê-lo. Não sabia nada sobre a história, mas achei que seria legal dar moral para um gênero que é pouco valorizado no Brasil. A maioria das animações nacionais ficam restritas a festivais de nicho e só estreiam nos cinemas quando fazem muito barulho lá fora (vide O Menino e o Mundo).
A animação segue Nina, uma menina de 13 anos que fica intrigada com seus pesadelos recorrentes. Um belo dia, fugindo das pressões de sua casa, encontra um pergaminho vermelho que a leva para um mundo mágico chamado Tellurian. Lá, ela se junta a um grupo de heróis numa missão para derrotar o temido Lorde Dark, senhor dos pesadelos, e conseguir voltar pra realidade.
Apesar de sugerir alguns subtextos mais psicológicos, a proposta de O Pergaminho Vermelho é voltada total e unicamente pro público infantil. Não é um filme que conversa comigo em quase nenhum aspecto e, obviamente, isso prejudicou minha experiência. Tanto que eu cheguei a pensar que não seria justo escrever esse texto até começar a refletir sobre outros pontos que me incomodaram.
Mas o “público-alvo” não é um desses erros, afinal temos espaço para filmes voltados pra todas idades. Por isso, eu vou fugir dessa parte da discussão e tentar falar de maneira bem pessoal sobre o que funciona ou não, independentemente dessa escolha inicial.
Por exemplo: mesmo sendo expositivo (e quiça preguiçoso) demais nos nomes ou nas sugestão imagéticas de algumas criaturas, eu gosto de como Nelson Botter Jr. mistura RPG e folclore. Também posso dizer o mesmo sobre o lado musical, apesar de pensar diversas vezes que estava diante de conceitos interessantes presos numa cidade-furacão habitada por estereótipos e clichês.
Entretanto, não posso negar que essa decisão simplória conversa com um detalhe decisivo para o filme: o fato dele ser uma história infantil com as bases fincadas em um terreno bastante educativo. Em outras palavras: um conto focado em ensinar boas lições para seus pequenos espectadores.
Uma missão realizada com sucesso através dos traços computadorizadas que remetem a diversas produções feitas para esse mesmo público. Ora se aproxima de uma série animada pensada como conteúdo para o Youtube, ora me fez pensar no Sesinho (um personagem que estrelava histórias em quadrinhos educativas do Sesi).
Ou seja, um visual que, mesmo não sendo necessariamente arrojado ou inovador, funciona para o caso de O Pergaminho Vermelho. Ajuda a criar um espaço onde a criança vai se sentir confortável para aprender e se divertir.
Só que é justamente pela maneira como essas escolhas parecem fazer sentido dentro da proposta que eu me incomodei bastante com o jeito de falar dos personagens. Em vários momentos, eu fiquei com a impressão de que Nina não falava de forma condizente com sua idade por conta de certas frases mais formais.
Isso me fez pensar que o longa tinha um público, mas não tinha certeza sobre como se aproximar dele, por isso atirou para diversos lados. A própria protagonistas tem atitudes condizentes com uma criança de sete ou oito ano, porém fala dessa forma “certinha demais”. Tudo isso enquanto a preguiça que surge como coadjuvante fala como se seu alvo tivesse no máximo dois anos.
Admito que talvez eu esteja velho demais pra entender o conteúdo de O Pergaminho Vermelho. Isso é muito possível, porém não posso fingir que gostei de uma das experiências mais clichês e bobas da Mostra desse ano. Até porque convenhamos que ter um vilão chamado Lorde Dark parece ser preguiçoso demais, né?
O Pergaminho Vermelho foi conferido na Mostra de São Paulo 2020
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