No Other Choice – Crítica | A Violência do Mercado de Trabalho

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Foto: Divulgação

No Other Choice, o novo filme do diretor sul-coreano Park Chan-wook (Decision to Leave) fez sua estreia internacional na competição do Festival de Veneza desse ano e após ser recebido com críticas majoritariamente positivas, se tornou o representante do país no Oscar 2026.

A história de No Other Choice

Após ser demitido e humilhado, um veterano da indústria de papel entra em um estado de desespero e aos poucos sucumbe a loucura, enquanto busca uma alternativa para contornar o desemprego, recorrendo a medidas drásticas, por acreditar que não tenha escolha.

Foto: Divulgação

O que achamos do filme

Em No Other Choice, Park Chan-wook retrata como a selvageria do mercado de trabalho desencadeia uma sensação de impotência perante ao sistema, fazendo com que dizimar a competição, pareça ser a única forma de sobrevivência. Após perder seu emprego e o sustento de sua família, o protagonista passa a perceber que seus anos de contribuição para o mercado não valeram de nada e todo seu conhecimento adquirido pode ser facilmente substituído por novas tecnologias que carregam toda competência humana, sem suas fragilidades inerentes.

Yoo, que, até então, vivia uma vida confortável de classe média alta, vê sua realidade ruir diante dos seus olhos. Um simples acontecimento – sua demissão – estremece, não só sua estabilidade financeira, como também suas relações interpessoais com as pessoas à sua volta e a própria imagem que possui de si. Tudo que lhe era familiar parece abandoná-lo e o espiral de loucura a qual o personagem rapidamente sucumbe, parece, ao mesmo tempo, absurdo, porém totalmente crível dentro da proposta do filme

Afinal, faz todo sentido o sacrifício da vida alheia, no contexto daquele ambiente corporativo que não mais enxerga as pessoas como seres humanos e relega-as à condição de ferramentas para serem prontamente descartadas como lixo, assim que não tiverem mais utilidade. Yoo não é um homem mau, tampouco bom, ele é um instrumento e um produto de um sistema do qual não consegue escapar. Ele inicia o filme vendo seus colegas de trabalho como partes de um todo, porém aos poucos passa a perceber que na lógica do sistema no qual estão inseridos, eles não são nada além de competição.

Foto: Divulgação

Suas ações horríveis possuem motivações nobres, que não as justificam, mas faz com que o espectador se coloque do lado dele, algo que só é possível dentro da fantasia e por isso a abordagem estética plastificada de Chan-wook funciona tão bem. Se adotasse um tom realista, mais dramático, poderia cair no mau gosto. A forma como explora o cinema de gênero – tanto a partir da comédia, quanto do thriller – cria a atmosfera perfeita para sedimentar essa aliança entre público e protagonista.

É sempre interessante perceber um cineasta de gênero que se orgulha do tipo de cinema que faz, sem usar suas pautas sociais para tentar agregar valor a uma obra vazia, como se um filme fosse seu tema. Chan-wook faz o raciocínio reverso, usa-se dos códigos de gênero para reforçar suas temáticas, e torna-as visualmente cativantes e cinematograficamente relevantes.

Ainda que seja um projeto imperfeito, com um ritmo nem sempre constante, sobressaem-se os aspectos positivos: a pompa de Chan-wook para filmar suas cenas com todo cuidado artístico, construindo imagens chocantemente belas que ficam grudadas na memória, graças a elegância com a qual ele constrói a violência, sem tirar seu impacto, mas sim reforçá-lo. As imagens pensadas pelo diretor são tão graciosas quanto brutais. Nada é higienizado, apesar de possuir um senso de beleza estética. É essa combinação que torna o filme tão interessante, refletindo tão bem seu realizador.

No Other Choice foi visto na 49ª Mostra de São Paulo, que acontece dos dias 16 a 30 de outubro de 2025.

Foto: Divulgação

Confira também: Nouvelle Vague – Crítica | Os divertidos backstages de Acossado

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