Os Flintstones

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Os Flintstones chegam a DC Comics com um plano de fundo mais adulto, sério, e filosófico, resultando em uma crítica social de primeira linha.


Era uma vez um belo dia de 2016 em que a DC Comics decidiu adaptar os desenhos clássicos da Hanna-Barbera – incluindo Scooby-Doo, Corrida Maluca, Future Quest e a família pré-histórica que gerou esse texto – em uma série de histórias em quadrinhos adultas e estilizadas. Uma decisão ousada que deixou muita gente curiosa e, assim como tudo que a DC tem feito ultimamente, dividiu opiniões entre os fãs mais hardcore. Não posso adiantar o resultado das outras revisitações, mas posso afirmar que Os Flintstones deu origem a uma das melhores e mais inteligentes críticas sociais que você vai ler em 2018.

As tramas dos dois volumes lançados até agora no Brasil mantém a mesma pegada da história original e acompanha os mesmos personagens que aprendemos a amar na nossa infância. A diferença é que a remodelação do contexto e tom que originou o selo em questão acaba inserindo dilemas mais complexos na vida dos protagonistas, adaptando diversos elementos icônicos às características desse universo e, consequentemente, adicionando mais caldo a sopa.

Em outras palavras: a HQ funciona como um remake mais adulto e ácido que leva alguns pontos para uma zona bastante cinza e inesperada. O fato do clube frequentado por Fred e Barney ser um grupo de apoio a veteranos de guerra, enquanto o Yabadabadu é transformado num mantra ensinado por um psicólogo é um ótimo exemplo de uma dessas reinvenções loucas que, além de funcionarem na história, adicionam uma seriedade muito bem-vinda.

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O roteiro de Mark Russell (Prez) acerta em cheio nessa remodelação da história, dos cenários e dos personagens, orém seu texto brilha com a intensidade que merece quando o objetivo é construir contextos mais rico em relação tanto ao background, quanto às relações entre os diversos personagens. São nesses momentos em que ele coloca o dedo na ferida da sociedade atual, usando a pré-história (e alguns acontecimentos mais cartunescos, como uma invasão alienígena) como meras metáforas para discussões sobre religião, consumismo, escravidão, política, luto, paternidade, amor, família e responsabilidades.

E, pra melhorar, tudo isso chega embrulhado por diálogos incríveis, espetadas claras nos “Trumps” e “Bolsonaros” da vida, flashbacks de guerra bastante pesados, pterodáctilos comendo pessoas, reviravoltas eficientes e até mesmo uma subtrama sobre suicídio que vem como uma inesperada pancada na boca do estômago.

Fora esses aspectos mais sombrios, Russell também mostra algum talento quando volta seu olhar sagaz para o material original com o objetivo de expandi-lo. A maneira como ele escolhe dar vida ao eletrodomésticos (que continuam sendo animais da época reposicionados) é um ótimo exemplo disso. Em certo momento das HQs, ele aposta numa amizade entre o aspirador de pó e a bola de boliche que não só é divertida e emotiva na medida certa, como também rouba os holofotes quando recebe algum pouco espaço para si. Apesar disso, minha única tristeza é ver esses animais tendo mais importância que o Dino, mas entendo e aceito os motivos que cercam tal decisão.

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Por fim, a arte ultra colorida e realista até a medida certa de Steve Pugh (Superman vs. The Terminator: Death to the Future) cai como uma luva no projeto. Sua visão acerca do visual dos protagonistas é muito interessante – com destaque para uma Pedrita meio nerd e meio hipster -, a movimentação das sequências preenchem muito bem os quadrinhos e as cores saltam das folhas com vivacidade. Definitivamente, um trabalho de mestre que acaba sendo a cereja de um bolo que já veio recheado com personagens ricos em camadas, um texto de primeira qualidade e críticas que parecem ter sido feitas sob medida para os Flintstones. Imperdível!


OBS 1: A recriação das marcas de acordo com o contexto pré-histórico é sensacional…

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