A despeito das declarações infelizes de Guillermo del Toro, Frankenstein prova – mais uma vez – que o diretor é sim um mestre do terror e tem muito conhecimento – e amor – pelo gênero, ainda que tente negá-lo.
A história de Frankenstein
A clássica história de Mary Shelly ganha uma nova adaptação para as telonas, dessa vez transformada em um verdadeiro espetáculo audiovisual sob condução de del Toro. O médico, Victor Frankenstein, decidido a vencer a morte, tornando-se um Deus na terra, desafia as barreiras da fé e da ciência e acaba criando um “monstro”, com o qual não sabe lidar.

O que achamos do filme
Frankenstein, dividido em dois atos principais e um prelúdio, começa comprometido pelo excesso de expositividade nos diálogos e narrações em off, a princípio se desenvolvendo de maneira um pouco truncada. Em contrapartida, o show de áudio e visual confeccionado por del Toro, acaba sendo tão poderoso que rouba para si toda a atenção e não permite que a verborragia do texto prejudique tanto a experiência.
Quanto mais a história avança, menos explicações são fornecidas e o filme para de narrar aquilo que está sendo tão bem mostrado pela fotografia assinada por Dan Laustsen – que já trabalhou com del Toro em A Forma Da Água. O reencontro da dupla em Frankenstein é marcado pela criação de momentos imageticamente impactantes, por meio das quais o diretor constrói a atmosfera gótica daquele mundo, enfatiza suas construções monumentais e dá destaque aos exuberantes figurinos.
A cereja do bolo fica por conta da trilha sonora de Alexandre Desplat que dá o tom macabro pedido pelo filme, imergindo o público nessa obra de fantasia – assim como fez em suas composições para Wes Anderson e para a franquia Harry Potter. Del Toro transforma uma equipe competente em uma máquina perfeitamente engrenada que cria um espetáculo, com as peças se encaixando uma a uma, tais quais os membros da criatura de Frankenstein.

Oscar Isaac abraça o papel que lhe foi dado e assume um tom dosadamente caricato para viver o clichê do cientista maluco, com um exagero que casa tão bem com o restante do filme. Já Mia Goth, apesar não se destacar, também não compromete a narrativa, que não sabe muito bem o que fazer com ela. Mas o inegável destaque fica por conta de Jacob Elordi, que desaparece no papel por baixo das cicatrizes e surge como uma figura monstruosamente humana.
O ator, que prova ser um gigante não só pela estatura física, intercala momentos de doçura com repentes de agressividade, que o tornam tão ameaçador. A cena em que ele faz amizade com o velho cego – e, portanto, incapaz de julgá-lo pela sua aparência – já é um dos destaques do ano.
A partir de um visual chamativo, acentuado pelas notas de Desplat, del Toro tece comentários sobre a própria natureza humana, em sua versão de um dos maiores clássicos da literatura de horror gótica. Um filme que apesar de imperfeito, certamente ficará marcado na memória de quem assistir.
Frankenstein foi visto na 49ª Mostra de São Paulo, que acontece dos dias 16 a 30 de outubro de 2025.

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