Diário FICCI: Quarto e quinto dia

Cine de Cartagena

Pode parecer um pouco preguiçoso escrever sobre os dois últimos dias do FICCI no mesmo post, mas eu garanto que não. A verdade é que eu simplesmente não fiz/vou fazer muita coisa diferente nesses dias e tampouco achava válido escrever dois ou três parágrafos sobre cada um deles. Mas agora vamos superar esse triste acontecimento para os dias e falar sobre eles, né?

O domingo foi basicamente reservado para quatro coisas: descansar um tiquinho (todos necessitamos disso), começar a deixar a mala o mais arrumada possível, ir a sessão de conversa com Owen Wilson e assistir o Oscar. Não preciso comentar sobre os dois primeiros, nem me estender no papo sobre o Oscar porque o nosso podcast já deve ter todas as opiniões Ou, ao menos, aquelas que não foram cortadas pelo editor.

Já Owen Wilson, por outro lado, merece seu espaço nessa cobertura. Logo de cara, ele me obrigou a ficar numa fila bem desorganizada, onde os responsáveis não conseguiam impedir que outros guardassem espaços, e atrasar meu delicioso almoço preparado sob encomenda no Subway. Mas isso não foi nenhum grande incômodo, porque a fila estava razoavelmente normal e eu garanti minha entrada sem perder o sono.

Almocei, terminei a crítica semi atrasada de As Boas Maneiras no hostel e voltei quando restavam somente cinco minutos para liberarem a entrada. Tudo para encontrar um lugar razoável postar fotos no Instagram do site e escutar ela falar seu começo como roteirista, sua carreira como escritor, a forma livre como gosta de trabalhar, suas inspirações e, dentro do tema principal da conversa, a diferença entre fazer comédia e drama.

Diário FICCI: Quarto e quinto dia 3

Foi um papo realmente encantador e interessante que já começou com Owen – estiloso, simpático e realmente engraçado – entrando com o celular na mão para gravar a reação da platéia que, logicamente, o recebeu com muita alegria, palmas e gritaria. Entre os assuntos citados acima, ele também contou um pouco sobre sua relação com Wes Anderson e Woody Allen, a maneira surtada como Jackie Chan dirige suas próprias cenas de ação e incorpora elementos do cenário no total improviso, o fato de ter feito Vício Inerente sem entendê-lo direito por amor a Paul Thomas Anderson e muito mais.

Foram tantos assuntos que prefiro separar algumas coisas que aprendi com e sobre o Mr. Wilson em tópicos curtos e esclarecedores:

  • Começa toda frase com um “Well…” cheio de sotaque;
  • Mesmo que um roteiro seja ótimo, ele sempre mexe em algumas coisas para dar fluidez ao seu jeito de falar;
  • Ele compreendia Jackie Chan através do humor e isso fez com essa experiência fosse uma das melhores de sua carreira;
  • Assiste filmes com frequência e comprovou isso ao citar Trama Fantasma e A Forma da Água na mesma resposta;
  • Acha que filmes sérios também podem – e devem – ter momentos engraçados;
  • Acredita que a diferença entre ser engraçado e escrever comédia está no fato do primeiro ser um tanto quanto natural e do segundo depender da sua capacidade de enxergar, de fora para dentro, o que é engraçado sobre si próprio ou qualquer situação cotidiana.

O último dia do grande Festival Internacional de Cartagena começou com mais uma das típicas sagas para garantir os ingressos do dia. O objetivo era assistir, principalmente, Zama e O Labirinto do Fauno. O primeiro destes já estava com a sala esgotada, então troquei meu ingresso garantido pelo chileno La Casa Lobo (mais uma animação latina que foi indicada por um diretor de curtas que dividiu o quarto do hostel comigo por alguns dias) e me certifiquei que estaria na projeção da obra-prima do atual vencedor do Oscar de direção. O tributo era em nome de Maribel Verdú, porém o que eu queria mesmo era homenagear o Del Toro.

Com os ingressos na mão, voltei para o hostel, tomei café, assisti uma sériezinha e relaxei até a hora de ir para o cinema, disposto a enfrentar – pela primeira vez – a fila de última hora para ver Zama. Tive que esperar bastante tempo e ver meu celular descarregar graças ao uso entediante, mas entrei. E fiz isso só pra encarrar um filme bonito e arrastado que não me prendeu a atenção. Tirando a interessante atuação de Matheus Nachtergaele como o vilão da história, ela se tornou minha pior experiência cinematográfica desde o começo do festival.

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Logo depois de almoçar, La Casa Lobo conseguiu reverter o quadro de satisfação depois de quase me forçar a tirar um cochilo no comecinho da projeção e, por fim, O Labirinto do Fauno encerrou tudo com chave-de-ouro. Não tenho muito para falar sobre elas aqui, mas garanto que assistir a obra-prima do terceiro mexicano a levar o Oscar nos últimos anos me fez ter certeza de sua qualidade e perceber que seu roteiro tem tantas similaridades com A Forma da Água que poderíamos criar as regras da fórmula de Del Toro.

Observe, pra começar, que ambas as produções são fábulas cujas protagonistas são tratadas como princesas na cena de abertura. Como se isso já não fosse uma bela de uma semelhança, os dois longas usam alguma guerra como plano de fundo, tem espiões e monstros como parte fundamental da trama e apostam em um vilão que beira a psicopatia. Além disso e da presença de Doug Jones em tudo que seja feito com maquiagem ou computação gráfica, as duas protagonistas terminam mortas para viverem felizes em outra realidade.

São coincidências demais, mas elas só revelam o estilo de Del Toro e jamais diminuem a qualidade desse filmaço perfeito para encerrar essa cobertura. Obrigado a todos que acompanharam e até a próxima!

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