Esse filme, que tem uma das piores traduções de títulos de todos os tempos, pode não ser tudo isso que a critica estrangeira estava comentando, mas não merecia ser esnobado no Oscar.
O filme conta a história da negociação e posterior produção do clássico filme Mary Poppins. Antes da história sair do papel, Walt Disney teve que gastar muito tempo e lábia para convencer a amarga e teimosa P.L. Travers a ceder os direitos do livro para seu estúdio.
Tenho que começar essa analise falando do horroroso título em português do filme. O titulo é ruim, mal traduzido e impreciso. Impreciso porque muito pouco do filme se passa nos ditos bastidores do filme. O filme se trata da luta de Walt para conseguir os direitos e cumprir uma suposta promessa. O que vemos é um pouco de uma pré-produção e não os bastidores do filme como o título indica. Em contrapartida, o título original, Saving Mr. Banks, faz referencia ao pai das histórias da babá e funciona no filme.
O roteiro do filme é construído de maneira interessante, se divindo entre 1961 em Los Angeles e a infância de Travers na Austrália. Mesmo que alguns flashbacks interrompam o filme e incomodem um pouco, a maioria destes ajuda a compor a história e, principalmente, a personalidade da escritora.
Também não gostei muito da maneira como a disputa entre Walt e Travers é maniqueísta. Walt é tratado como um santo e um herói que não queria saber dos lucros do filme, enquanto a escritora é vilanizada, quando só tinha uma atitude natural de querer proteger sua maior obra. São personalidades pouco aprofundadas.
Inclusive a sobrinha de Walt criticou o filme, deixando claro que seu tio era racista, sexista e misógino. Ele não seria um demônio, mas não seria o anjo que o filme descreve. Ele tinha todas essas características, mas sabia como deixar as pessoas felizes. É por isso que, independente da personalidade criada para o personagem, a sua cena com Travers em Londres é tão bonita.
A direção de John Lee Hancock é simples e funcional. Não erra, mas também não acrescenta nada de significante ao filme. Tomadas simples que deixam o grande elenco tomar conta do filme. E que elenco é esse…
Emma Thompson está espetacular no papel de Travers, interpretando com genialidade todos os trejeitos da turrona escritora. Definitivamente, Emma merecia uma indicação ao Oscar.
Outro que destrói é Tom Hanks – só pra variar um pouquinho. Dois personagens reais, duas atuações brilhantes e duas esnobadas na mesma premiação. Tom está perfeito no papel de Walt Disney, ainda que a homenagem ao personagem seja um pouco exagerada.
No elenco coadjuvante ainda temos alguns nomes conhecidos que merecem destaque. Colin Farrell vive o pai de Travers e pode ter tido sua melhor atuação nesse filme. Seu personagem é interessante e consistente, fazendo com que ator consiga ter uma boa atuação.
Jason Schwartzman também tem um certo destaque, quase sempre ao lada de B.J Novak, fazendo o músico que criou as icônicas canções do musical. Paul Giamatti também é outro nome conhecido que arrasa. No início, seu personagem parece ser só um figurante de luxo, mas ele cresce durante o longa e tem duas ótimas cenas com Emma Thompson.
A parte técnica do filme também foi totalmente esnobada do Oscar, que só abriu uma exceção para a trilha sonora de Thomas Newman, que é sensacional. A fotografia é ótima, a edição encaixa muito bem no filme (algumas transições entre o “presente” e os flashbacks são brilhantes) e a direção de arte recria os anos 60 com delicadeza e perfeição. Destaque para a espetacular recriação da premiere do filme no Chinese Theater.
Todas essas categorias poderiam ter sido agraciadas com pelo menos uma indicação ao prêmio mais cobiçado do cinema mundial.
Mesmo que o filme seja lento e tenha alguns erros, os acertos facilmente equilibram o filme. Mesmo que muitas liberdades criativas sejam tomadas e algumas coisas sejam simplesmente suprimidas da história para favorecer a homenagem, o filme merece ser assistido pelas ótimas atuações e por esta homenagem a dois gênios e a uma época dourada do cinema americano.
Por Flávio
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