“Walden” fala de liberdade, ao mesmo tempo em que não se desprende dos erros do passado
“É triste ver pessoas que no passado colocavam sua esperança no futuro, e agora, no futuro, colocam sua esperança no passado”
Essa é uma das falas mais potentes de “Walden”, filme que fala sobre sonhos frustrados e da luta emigratória por uma vida melhor. Na história, depois de 30 anos de exílio em Paris, Jana viaja de volta a Vilnius, capital da Lituânia. Ela quer ver novamente o lago que Paulius, seu primeiro amor, chamava de Walden.
Sintetizado como um conto da juventude lituana antes da queda do comunismo, o filme da cineasta tcheca Bojena Horackova narra duas histórias, que de cara parecem distintas, mas logo depois revelam sua unidade, separadas apenas pelo tempo, passado e futuro, tão importantes aqui.
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Horackova apresenta uma história de amor e esperança por uma vida melhor, mas não foge muito disso. Seu afastamento natural da câmera em relação aos personagens, pode até ser proposital, mas de certa forma afasta o público, e empatia é essencial para contar um romance afetado por questões maiores que os indivíduos.
Essa relação de causa e consequência nos transporta aos tempos de primeira paixão, muito por conta da boa fotografia de Eitvydas Doskus e Agnès Godard. A relação da diretora com a história parece pessoal, o que torna “Walden” (com o perdão do trocadilho), um lago de ilusões.
A produção esbarra na impessoalidade, mas ao mesmo tempo está interessada em contar um relato de juventude vs amadurecimento, atitude vs comodismo. É clichê, mas a vida fez de Jana (Ina Marija Bartaité), uma pessoa sem esperança, o que é perfeitamente normal depois de tudo que passou.
Melancólico, o tempo é o principal fator de “Walden”, e as memórias motivam os personagens. Apesar da simplicidade e tranquilidade em que a produção se desenrola, existe certa ambiguidade na protagonista, que infelizmente não se traduz na maniqueísta trama.