Para Sempre Alice

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E se tudo o que você é e foi sumisse da sua memória de uma hora para outra? Para Sempre Alice, que é um dos longas vazados durante a invasão à Sony, é um filme singelo, forte e comovente sobre as mudanças que uma doença degenerativa pode trazer para a vida de uma pessoa.

O filme conta a história de Alice, uma renomada professora de linguística que começa a esquecer palavras ou coisas que faziam parte de sua rotina. Quando vai ao médico, descobre que sofre de uma rara formação precoce e genética de Mal de Alzheimer. A partir daí, toda sua vida e a de sua família vai ser modificada pela doença.

O roteiro, escrito por Richard Glatzer (portador de Esclerose Lateral Amiotrófica, que também é degenativa) e Wash Westmoreland com base no livro de Lisa Genova, é bem simples e de certa erra em alguns aspectos. Seu desenvolvimento funciona bem enquanto acompanha o dia-a-dia de Alice, o avanço gradual da doença e as consequências disso para sua família, entretanto erra no tratamento dessa ideia.

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Eu fiquei com a impressão de que o objetivo dos realizadores era deixar quase tudo de lado para não tirar o foco de Alice, mas isso atrapalha o filme no quesito emoção. Tudo bem que existem muitos momentos onde o drama dos personagens funciona sem ter forçar o choro do público, entretanto todo mundo fica esperando aquela catarse que deixa qualquer um em prantos. Isso pode parecer meio clichê, mas, para um filme cheio de momentos usados em todos os outros filmes de doenças degenerativas, esse não seria um problema, caso fosse bem realizado.

Outro problema é que a conclusão foge um pouco do padrão do filme. Enquanto todo o filme gira em torno de Alice, esse final tenta empurrar uma relação entre ela e sua filha, Lydia, que não engatou da maneira como os roteiristas desejavam. É evidente que essa relação é a que tem maior importância, mas faltam cenas feitas para gerar empatia no público e isso tira a força do último trecho do filme.

Acho que é até por isso que fiquei com a impressão de que o filme é maior do que deveria, mesmo tendo só 100 minutos. Existem pelo menos uns dois momentos de grande emoção no segundo e no terceiro ato que fechariam o filme de maneira mais interessante do que ele é fechado.

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Mas por outro lado, o filme consegue acertar em cheio na maneira como trata a doença. Muitas situações representadas são clichês, mas o filme consegue trabalhar algumas questões inesperadas dentro dessa obviedade. É interessante que, mesmo com Alice e seu marido sendo grandes estudiosos, o filme quase nunca aborda o lado científico do Mal de Alzheimer, fugindo do que normalmente acontece em filmes sobre doenças degenerativas. Aqui o que vemos é uma leitura muito maior sobre o sofrimento da personagem com isso e até uma discussão meio psicológica sobre a perda da identidade através da doença.

A direção (função também exercida pelos roteiristas) funciona muito mais e, na minha opinião, até poderia ser indicada a algum prêmio. No roteiro, eles acabaram falhando na tentativa de apagar o entorno de Alice, mas a direção consegue consertar isso de maneira sutil e bem sentimental. Os diretores usam muitos planos-sequências (tanto acompanhando os personagens caminhando, quanto usando a câmera fixa) e poucos cortes, sendo muito suaves na representação da confusão e das emoções de Alice. O principal trunfo da direção é ser simples o bastante para não ofuscar a história e atuação do elenco.

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Elenco esse que funciona muito bem por conta dos diretores, que devem ter passado uma bela lição de superação dentro do set. Julianne Moore está sensacional na pele de Alice e ela nem precisa daquele momento de catarse para emocionar ou surpreender. Vamos acompanhando as mudanças na vida da personagem dentro de pequenas situações até momentos mais importantes, como o belíssimo discurso que ela dá em uma convenção sobre a doença. Só acho que faltou um pouco mais do estágio avançado da doença, que poderia ter sido responsável por um show maior de Moore e pela emoção tão esperada.

Ainda assim, merecidamente, Moore venceu o Globo de Ouro e é a grande favorita ao Oscar de melhor atriz. Eu acredito que um roteiro poderia ter dado ainda mais material para o estudo de personagem de Moore, mas ainda acho merecido que essa grande atriz seja finalmente agraciada por uma atuação forte e emocionante.

Também acho que outros atores poderiam ter tido mais força no filme, se a relação entre os familiares e Alice fosse mais desenvolvida. O único familiar que consegue realmente ter cenas interessantes e emocionais ao lado da protagonista é Alec Baldwin, que faz seu marido. Dos três filhos, quem tem o maior destaque é Kristen Stewart, entretanto achei que sua relação poderia ser melhor desenvolvida. Isso prejudica a própria Kristen, que vinha demonstrando um grande avanço como atriz e volta, nesse filme, a ter muitos momentos sem emoção.

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Enquanto isso, Kate Bosworth e Hunter Parrish ficam completamente de lado e não tem nem cenas de pouca emoção para trabalhar. Até o médico de Alice tem maior destaque. Como já disse, a protagonista é forte e não tem nenhum problema para carregar o filme sozinho, mas um maior desenvolvimento ou participação poderiam melhorar ainda mais o filme.

É um filme que tem seus problemas, mas acerta muito mais e consegue ser um filme muito forte e convincente, principalmente por causa de Julianne Moore. Inclusive, acredito que sua maneira de falar da doença possa fazer desse filme uma espécie de longa definitivo sobre o Mal de Alzheimer do ponto de vista emocional e psicológico, então merece ser visto.

OBS 1: Achei válido colocar uma imagem dos diretores do filme para encerrar a critica. Eles são os que estão no centro da foto.

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