“Os Fortes” conta uma história de amor passageira e verdadeira, em meio ao masculinidade tóxica
O público LGBTQIA+ sempre pediu por produções que contassem histórias de amor genuínas, que não acabassem em tragédia. Geralmente, a maioria dos filmes colocam um casal homoafetivo em meio a uma doença, briga familiar ou apenas dúvidas de ambas as partes, que resultam num fim melancólico. Em “Os Fortes”, uma clássica trama de “amor de verão”, os problemas são outros.
Antes de migrar de vez para o Canadá, o jovem Lucas (Samuel González) faz uma viagem para o sul da Chile na intenção de visitar sua irmã, que vive em um remoto vilarejo. No meio de sua jornada ele se apaixona por Antonio (Antonio Altamirano), um contramestre de um navio, o que deixa seu futuro completamente incerto e o obriga a aprender novamente o que é confiar em alguém.
+++ CRÍTICA: Lingua Franca | Olhar intimista
+++ Escute nosso PODSEIA EXTRA | MOSTRA DE SÃO PAULO 2020
A obra de Omar Zúñiga Hidalgo, baseada no curto “San Cristóbal” de 2015, caminha entre o sutil e o intenso. Pouco se sabe sobre a irmã de Lucas e o porquê dele viajar até os confins do Chile, além de uma má relação com o pai, que é apenas pincelada. Mas, o envolvimento dele com Antonio, é caloroso, recheado de olhares e tensão sexual desde o início.
Após apresentar Lucas e sua vibe misteriosa, “Os Fortes” foca em Antonio e suas relações mal resolvidas num navio de pesca. Como se não bastassem todos os boatos e preconceitos de uma cidade pequena, Antonio vive num ambiente masculinizado, cercado de piadinhas machistas e homofóbicas, escondendo aquilo que sente.
Essa interação e química imediata entre o homem da cidade e o homem do campo, já foi vista em inúmeras produções, mas Hidalgo está interessado na delicadeza de duas figuras masculinas, algo tão condenado pela sociedade. Fomos ensinados que um homem não pode chorar, demonstrar sentimentos, ou beijar outro homem.
“Os Fortes” faz o caminho inverso. Prega a liberdade, ao mesmo tempo em que constrói uma relação equilibrada entre duas figuras totalmente opostas. Quando essa relação se abala, não é por algo bobo. Afinal, Lucas e Antonio tiveram criações diferentes, portanto as relações com suas respectivas famílias também o são. Esse abismo social entre ambos, é o principal impedimento para que sejam plenamente felizes.
São diferentes sonhos. Um mais ousado, outro mais simples, mas ainda sonhos. Essa diferença de raízes e privilégios traz uma nova camada ao filme. Não que “Os Fortes” seja superficial, ele só é comum. Talvez seja isso que um filme de romance com pessoas do mesmo sexo, precisasse.