Os 33

Apenas mais uma boa história de superação


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A atenção que o Deserto do Atacama recebeu em 2010 foi impressionante e o resultado foi uma história de superação real e extremamente emocional. A adaptação desse evento (que demorou mais do que eu esperava pra ser realizada) consegue passar toda essa emoção, mas deixa claro que faltou algum ingrediente que mostrasse o quanto aquilo foi incrível e importante para todos.

O filme conta a história mundialmente reconhecida de sobrevivência dos 33 mineiros chilenos que ficaram presos após um desabamento fechar a única saída de uma mina de ouro. A partir daí eles precisam aprender a conviver e racionar o pouco que tem para conseguirem sobreviver até o resgate, que só vem depois de 69 dias de muita insistência.

O roteiro, escrito por José Rivera, Mikko Alanne, Craig Borten e Michael Thomas, é decente e sabe conduzir muito bem o desenvolvimento da parte dramática, mas o seu principal acerto está em utilizar o ponto de vista dos mineiros durante boa parte do longa. Essa decisão acertada consegue fazer com que o público se importe com a história, descubra fatos que não foram veiculados por boa parte da mídia e, no fim, sinta um pouco da tensão mesmo sabendo qual seria o final.

O grande problema do filme é que ele foi feito para o público internacional e isso faz com que o roteiro abra espaço para o didatismo, para os personagens caracterizados em personalidades estereotipadas e para os diálogos clichês, além de obrigar o elenco multinacional a falar um inglês cheio de sotaque, que soa mais estranho do que Wagner Moura falando espanhol em Narcos.

Os 33 3

E se não bastasse isso, a produção ainda acaba abrindo mão de se aprofundar em algumas criticas, principalmente em relação aos responsáveis pela mina, em detrimento de contar algumas histórias desnecessárias vindas dos familiares dos mineiros. Claro que alguns desses momentos são importantes para reforçar o sofrimento daqueles que estão presos e trazer alguma comoção no terceiro ato do longa, mas eu não consegui entender porque a relação entre as duas amantes de Yonni precisa ser mais explorado do que as questões contrárias aos grandes empresários e até ao governo, que não foi esse herói todo durante o processo.

A direção da mexicana Patricia Riggen também é competente à primeira vista, acerta a mão nas cenas mais tensas e me incomodou bem menos do que o roteiro no geral. A única coisa que acabou soando um pouco estranha foi a maneira como ela insistia trabalha a presença da fé dentro da história. O fato dela ser parte importante da sobrevivência deles é algo acreditável e bem explorado, mas Riggen exagera um pouco na quantidade de metáforas visuais que insistem em lembrar disso, como a posição da luz no rosto do protagonista quando a perfuratriz chega ao refúgio.

E no meio de tudo isso ainda existem muitos personagens que possuem seus próprios arcos de superação e intérpretes que demonstram muito comprometimento com a história. Claro que o fato do roteiro não ter como dar espaço de desenvolvimento para todos e só abordar aspectos estereotipados faz com que nenhum deles tenha uma atuação espetacular, mas é o suficiente para chamar a atenção e emocionar o público no bem conduzido terceiro ato.

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Dentro da mina, o destaque óbvio fica com um carismático e determinado Antonio Banderas, que faz o líder dos trabalhadores e fica conhecido como Super Mario, mas Juan Pablo Raba, Tenoch Huerta e Lou Diamond Phillips conseguem dar uma dimensão um pouco menos clichê para os seus personagens. Já o lado de fora tem mais rostos conhecidos trabalhando com menos espaço em cena, sendo que o destaque fica quase todo com Rodrigo Santoro, Juliette Binoche, Kate del Castillo e Gabriel Byrne.

No final das contas, Os 33 é um filme que decidiu focar o seu desenvolvimento na parte de sobrevivência e consegue criar um relato emocionante e muito rico sobre os mineiros. Entretanto, o final deixa a impressão de que esse filme é como qualquer outro desse subgênero, que falta um cuidado maior com o roteiro, coragem para colocar o dedo em feridas não exploradas e, principalmente, que esse  não é exatamente o filme que esses nobres chilenos mereceriam.


OBS 1: A parte mais legal é ver os verdadeiros mineiros no final e perceber que todos foram valorizados pelo elenco.


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