O Que Arde traz a jornada de um filho pródigo que volta para casa sem perspectiva ou visão de futuro
A parábola bíblica do filho pródigo que Jesus conta aos discípulos termina quando o tal filho volta para casa e o pai o acolhe de braços abertos, gerando a ira de seu irmão mais velho, que acaba indo embora. Mas não se sabe o que aconteceu depois disso. O filho teve uma relação saudável com a família? Ameaçou ir embora novamente? Conseguiu resistir as tentações? É isso que “O Que Arde” (Fire Will Come), procura responder ao contar a saga de Amador Coro (Amador Arias), um homem condenado a prisão após provocar um incêndio.
Ao sair da prisão, ele não vê ninguém a sua espera e decide ir para a casa de sua mãe numa pequena vila das montanhas da Galícia. Lá, os dias parecem não passar devido a monotonia e a relação silenciosa com a mãe não ajuda. Amador não se enturma com ninguém, ouve brincadeiras calado e parece não pertencer mais a esse lugar. Um novo incêndio na região não ajuda sua reputação. Seu mundo cai e os amigos e a família perderam a confiança nele.
A natureza se conecta com a humanidade e o diretor Oliver Laxe faz com que o fogo e a fuligem tomem conta da tela vagarosamente, como os dias de Amador e sua mãe Benedicta (Benedicta Sánchez). Mesmo libertado, o protagonista permanece preso. A volta pra casa infeliz é o melhor exemplo disso. Entretanto, a lentidão que pode ser inspiradora também incomoda nos 85 minutos de O Que Arde, que parecem ser muito mais longos.
Vencedor do prêmio do júri da Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes 2019, “O Que Arde” é um conto de desafeto entre duas pessoas que são obrigadas a viver juntas entre si e a inóspita natureza. O visual aterrador parece engoli-los, deixando tudo cinza, como o afeto discreto que não tem mais cor.
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