O Presente

Um embrulho recheado de paranoia


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Não é nem um pouco incomum ver atores tentando novos caminhos no cinema através de outras funções, como diretor ou roteirista, por isso não é tão surpreendente saber que O Presente é escrito, dirigido e estrelado por Joel Edgerton. A grande surpresa fica por conta dele apresentar muito talento em todas as funções e conseguir entregar um ótimo filme de terror e drama sobre a paranoia e a vingança.

A história segue um casal que se muda para os arredores de Nova York após o marido conseguir um novo emprego. As coisas começam a ficar complicadas quando um homem do passado dele começa a visitar sua casa, deixar presentes um tanto quanto questionáveis na varanda e ameaçar revelar um segredo sombrio de 20 anos atrás.

O roteiro sabe construir esse clima muito bem, dando um desenvolvimento lento e certeiro para os primeiros 30 minutos. É ali que o texto e a direção vão dando pequenas dicas sobre cada um daqueles personagens, vai apresentando suas relações e desenvolvendo uma dinâmica que é essencial para só depois jogar a história em um furacão de medo e terror.

Nesse segundo ato, o filme continua apresentando um ritmo lento e incomum para os filmes de suspense da atualidade, mas decide começar a brincar com alguns clichês do suspense, alguns sustos e, principalmente, com as pequenas reviravoltas que são apresentadas aos poucos e conseguem prender a atenção do público com muita eficiência.

Claro que nem todas funcionam e o filme começa a perder um pouquinho da sua intensidade até mostrar a que realmente veio, já que O Presente é muito mais do que uma boa história de stalker. O terceiro ato do filme apresenta um mudança total no clima e, sem abandonar o suspense e as boas reviravoltas, passa a ser um drama forte e importante sobre o bullyng e as suas consequências. É aí que ele ganha fôlego e muda toda a perspectiva do espectador, apesar de escolher caminhos bem comuns para trabalhar o tema.

Considerando que esse é seu primeiro trabalho, a direção de Joel acompanha tudo isso com muita facilidade e segurança, indo além da ótima construção climática dos primeiros minutos. Ele sabe como utilizar a casa através de alguns planos longos entre os cômodos e paredes, abusa dos travellings de corredor que são tão comuns nos filmes de terror, acerta em cheio nos sustos e, com a ajuda de uma boa música e de uma edição certeira, consegue dar intensidade para as cenas mais importantes onde o roteiro parece escorregar um pouquinho.

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Além disso, Joel mostra que sabe conduzir a sua própria atuação e a dos outros atores. Ele apresenta a boa atuação de sempre no papel do suposto vilão do filme, Rebecca Hall ganha certo destaque por ser o centro de toda a paranoia criada aqui e o grande destaque cai surpreendentemente no colo de Jason Bateman. O seu trabalho um pouquinho caricato não é necessariamente o melhor do longa, mas é completamente diferente de tudo o que eu já vi o ator fazendo, misturando o seu carisma habitual com uma personalidade um pouco mais sombria que demoramos para aceitar de uma vez por todas.

Com isso, O Presente é um filme que consegue prender e mexer com os nervos do espectador durante toda a projeção, enquanto também apresenta uma discussão que, infelizmente, nunca vai perder a importância na nossa sociedade. Não é um filme que tem o objetivo de explodir cabeças e é possível que muita gente acabe entendendo o final bem antes dele chegar, mas isso não vai tirar a qualidade do filme ou os méritos do bom trabalho multifuncional de Joel Edgerton. Merece ser visto!


 

OBS 1: A melhor parte é que ele já está na Netflix.


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