Crítica: O Grinch – Um típico conto de Natal

Histórias de Natal sempre ocuparam (e vão continuar ocupando) um lugar especial na mídia e no coração das pessoas. São histórias encantadoras que mexem com nossa imaginação através de velhinhos que distribuem presentes, trenós voadores e muitas mensagens de felicidade. São histórias que invadem os palcos escolares, as televisões e os cinemas com inúmeras adaptações de Charles Dickens, A Felicidade Não se Compra e tantas tramas que marcaram gerações. Dentre essas, O Grinch – criada originalmente por Dr. Seuss – é uma das mais conhecidas, incluindo uma ótima e surtada versão estrelada por Jim Carrey. Agora é a vez do clássico ganhar às telas como uma animação infantil, divertida e relativamente eficiente que, por muito pouco, não alcança seu potencial máximo.

Quem já viu a primeira adaptação nas Sessões da Tarde da vida, conhece a história de cor e salteado: um monstro verde e amargurado pela ausência do espírito natalino decide roubar o Natal dos Quem porque não suporta a felicidade dos moradores da pequena vila durante as festas. Apesar de vender a ideia de ser uma adaptação mais fiel ao livro original, a animação segue praticamente a mesma trama. Entram algumas pequenas histórias paralelas e alguns momentos mudam de posição no tempo da narrativa, mas nada que altere o quadro final do que foi feito tanto por Dr. Seuss, quanto por Ron Howard e Jim Carrey.

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No entanto, por mais que seja impossível ão citar algumas semelhanças e diferenças, o foco desse texto não é ficar apenas comparando os longas. Até mesmo porque o roteiro não esconde Michael LeSieur (Vizinhos Nada Secretos) e Tommy Swerdlow (Neve pra Cachorro) não esconde certa proximidade com a produção em live-action. A maior – e talvez única – exceção dentro desse aspecto está no fato da animação optar, propositalmente, por construir um Grinch um pouquinho mais palatável, já que estamos de uma produção quase exclusiva para o público infantil. É claro que o personagem cumpre sua quota de vilanias, mas as atitudes são amaciadas, as palavras menos sarcásticas e algumas relações consegue soar bonitinhas desde o início. E, por mais que isso seja mais uma escolha do que um problema de fato, ver o Grinch pedir desculpas ou fazer certas bondades cria um clima contraditório que pode influenciar em outros aspectos no decorrer do longa.

Fora isso, o roteiro segue pelos caminhos convencionais e deixa a maior parte das novidades nas costas dos diretores Yarrow Cheney (Pets: A Vida Secreta dos Bichos) e Scott Mosier (Bons de Bico). E, na maior parte do tempo, eles acertam na construção de um longa ágil, colorido e cheio de sequências inventivas com potencial pra prender a atenção de pessoas de todas as ideias, incluindo algumas boas piadas que se casam muito bem com tom do Grinch e com a voz do Lázaro Ramos (e provavelmente do Benedict Cumberbatch). Além disso, eles usam o fator animação para criar uma extensão daquele universo em termos de criaturas e possibilidades fantásticas, como ver o protagonista ser quase um Inspetor Buginganga dentro de um universo que não sofre com as limitações de uma adaptação em live-action. Tudo é permitido e isso é muito bem aproveitado por Cheney e Mosier.

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O único problema do longa dá as caras quando o roteiro começa a deixar coisas importantes de lado, incluindo a personalidade completamente maldosa do personagem. O coração pequeno – que possui grande importância na “mitologia” – é estabelecido no começo, mas acaba sendo ignorado quando o texto coloca o Grinch fazendo bondades antes do aprendizado final. E o mesmo acontece com personagens que somem para voltar como deus ex machina, relações entre coadjuvantes que perdem força por serem deixadas de lado durante muito tempo, o próprio passado do Grinch (citado de maneira bem rasa sem nunca mais ser aproveitado) e o fato dos presentes serem considerados peças importantes do Natal.

Esse último elemento, por exemplo, é o típico caso de potencial desperdiçado por pura falta de cuidado no texto, porque gera consequências negativas que poderiam ser evitadas com uma única cena de pessoas loucas comprando presentes. A ideia de que o Natal não é feito apenas de consumismo ocupa um lugar central no material original pra poder comprovar que a alegria e as relações são mais importantes que os presentes, mas isso não é feito da maneira correta aqui. O roteiro não o trata como um tema marcante dentro da animação e isso por si só não seria um problema maior do que uma adaptação com pequenas diferenças do livro. Algo normal que passaria despercebido, se essa informação não surgisse do nada para ser usado como motor da lição moral que marca o terceiro ato.

O resultado é um clímax fraco que também sofre com a ausência de um mergulho mais profundo no passado de seu protagonista e com mais tempo de tela para a relação entre o monstro verde e a pequena Cindy Lou. Isso deixa aquela sensação de que está faltando um ingrediente, sabe? É claro que isso não impede que O Grinch ainda seja um filme de natal típico, divertido e bonitinho, mas faz com ele não consiga emocionar como as grandes histórias dessa época. Fica a lição de moral sobre família e bondade, mas faltam as lágrimas que certamente cairiam do meu olho se o roteiro fosse mais cuidadoso.


OBS 1: O filme é feito pra criança e alguns escorregões podem ser justificados com esse argumento. No entanto, o filme precisa lembrar que criança pode rir de piadas físicas e simplórias, mas não são nada bobas em relação a certos artifícios narrativos.

OBS 2: Não poderia terminar esse texto sem dizer que o Max é um dos personagens mais divertidos e fofos do ano!

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