“Murmúrio” é um estudo sobre a vida, e de como a solidão pode ser devastadoramente dolorosa
A diretora Heather Young é conhecida por unir uma estética de documentário, misturada a ficção, utilizando atores não profissionais. Em “Murmúrio”, seu longa de estreia, ela começa filmado sua protagonista bebendo, fumando, e fazendo coisas banais, repetindo esse processo rotineiro de maneira nada usual.
No filme, Donna foi condenada recentemente por dirigir sob o efeito de álcool. Como parte da sentença, ela deve prestar serviço comunitário em um abrigo de animais. Quando um cachorro com idade avançada está em vias de ser sacrificado, Donna decide levá-lo para casa e rapidamente se dá conta de que a companhia do bichinho pode ajudá-la no alívio da solidão.
Em uma tentativa de preencher o vazio que sente, a mulher começa a levar cada vez mais animais para casa e logo vê a situação sair do controle.
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Foto: Divulgação
Os cachorros presos e solitários em jaulas, fazem uma alusão a vida de Donna. Apesar de todos os problemas, ela é vaidosa, faz exercícios, e tenta sem sucesso, se comunicar com a filha. A ocultação dos rostos da maioria das pessoas que interagem com ela, tornam “Murmúrio” uma obra sobre a personagem, com uma câmera que a acompanha a todo momento.
As coisas acontecem a seu tempo, e Young está disposta a filmar essa rotina igualitária, com diferentes pontos de vista, colocando a câmera em pontos cruciais, trazendo beleza a cada detalhe. Por vezes invasivo, esse elemento faz uma relação essencial com o fato de Donna ser super protetora. Medo da solidão? Talvez.


Foto: Divulgação
Por vezes permissiva, Donna aceita aquilo que lhe é imposto, e mesmo com poucos palavras da ótima atriz Shan MacDonald, é possível sentir que há culpa em cada aceitação. “Murmúrio” caminha vagarosamente para uma jornada de autodestruição consciente.
“Murmúrio” é um exercício de paciência, além de fazer uma reflexão sobre vícios, e de como eles são intrínsecos ao ser humano. No fim, o que importa é deixar ir, por mais que doa.
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