Tenso, Mentira Incondicional trabalha a desconfiança, mas se perde nas próprias reviravoltas
Quando Roman Polanski fez o seu “Deus da Carnificina” em 2011, ele sabia do efeito que as crianças tinham sobre a atitude dos pais. Uma simples ação e rebeldia impensada, pode afetar o equilíbrio de uma relação de pais e filhos, e entre pais.
Pensando nisso, a criadora de The Killing, Veena Sud, traz esse clima desconfortável a “Mentira Incondicional” (The Lie, no original). O filme segue dois pais desesperados na tentativa de encobrir um crime horrível, quando sua filha adolescente confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga, levando-os a uma complicada teia de mentiras e engano.
Antes de começar é importante deixar claro: apesar de fazer parte da parceria entre Amazon Prime Video e Blumhouse, e ser lançado no mês do Halloween, Mentira Incondicional não é um filme de terror. O que vemos é um drama, por vezes eficiente ao criar suspense, outras vezes falho em seu ritmo, que tornam 95 minutos, quase 3 horas.
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A trama anda em círculos, já que no início suspeitamos de vários pormenores, provindos da criação de Kayla (Joey King, ótima). A menina sempre foi mimada, e esteve envolta de uma bolha, com o pai Jay (Peter Sarsgaard), acobertando toda e qualquer malcriação.
A partir disso, alguns detalhes começam a ser percebidos, tanto na relação de Kayla com os pais, como nas pessoas que os rodeiam. Um ciúmes exagerado, provindo principalmente da falta de rédeas e possível falta de hierarquia dentro do lar.
A direção quer criar momentos de catarse, mas acaba gerando vergonha alheia na maioria das revelações. Quando o suspense cresce, logo é estragado por uma revelação maior. Se vários momentos de Mentira Incondicional são o ápice, então nada é.
Isso fica ainda mais claro quando sabemos que o filme é de 2018, e só agora arrumou espaço para estrear no Welcome to The Blumhouse. É perceptível a confusão de tons, já que o roteiro de Veena Sud, não sabe qual caminho seguir. A tensão funciona perto do ato final, mas o caminho até lá é dolorosamente desgastante.
Quando fala sobre o fato de não conhecermos direito nossa família e aqueles que vivem conosco, Mentira Incondicional faz algo parecido com o que Buscando… fez em 2018. A diferença é que o filme de Aneesh Chaganty é muito mais chocante, e a família muito mais agradável.
O que fica é a ótima atuação de Mireille Enos, como a mãe Rebecca. Desesperada, ela se une a dualidade da personagem de Joey King, para montar um ambiente cercado de estranheza, e uma bola de neve (quase literal), de mentiras.