A sensibilidade e a falta de experiência, fazem de “Mamãe Mamãe Mamãe”, um filme de extremos
Um dos melhores filmes de interação entre garotas é o turco “Cinco Graças,” da diretora Deniz Gamze Ergüven. Afinal, só uma mulher é capaz de trazer a sensibilidade necessária a uma trama cercada de meninas, que precisam enfrentar seus maiores medos, às vezes provindos do próprio ambiente social e familiar.
Aqui em “Mamãe Mamãe Mamãe”, a argentina Sol Berruezo Pichon-Riviére, também entrega uma história repleta de naturalidade, ao mesmo tempo em que mostra os benefícios da união feminina, e de como tragédias podem ser superadas.
Numa manhã de verão, uma garota se afoga na piscina de sua casa. O pequeno corpo fica lá até que sua mãe (Jennifer Moule) o encontre. Ela deixa a outra filha, Cleo (Agustina Milstein), sozinha em casa por horas. A menina fica à espera da tia (Vera Fogwill), que chegará com suas primas: Leoncia (Matilde Creimer Chiabrando), Manuela (Camila Zolezzi) e Nerina (Chloé Cherchyk).
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Com pouco mais de 1 hora, “Mamãe Mamãe Mamãe” emula toda a tristeza que poderia transparecer. A mãe retorna, e não sabemos exatamente o que aconteceu com a filha, mas espera-se que – devido as reações dos adultos – foi uma grande tragédia.
Riviére acerta ao colocar “Mamãe Mamãe Mamãe” na perspectiva de Cleo. Ao mesmo tempo em que sabemos de poucas coisas – afinal, poucas coisas são ditas a uma criança – é possível notar uma ausência de experiência da diretora, que quer abordar inúmeros assuntos, como a sexualidade, a primeira menstruação e o luto, em pouco tempo.
De certa forma – também – essa falta de tato se alinha com o jeito imperativo e por vezes caótico de uma criança. A medida que o tempo passa, aquele ambiente de tristeza, se torna palco de grandes alegrias e descobertas, evidenciando a importância da socialização.
Dito isso, “Mamãe Mamãe Mamãe” se trata da perda da inocência, não no mau sentido, mas um novo respiro, para uma nova fase da vida. O filme de estreia de Riviére – que tem na produção várias mulheres – é estritamente feminino, e os horrores do mundo esbarram na força de pequenas meninas, que serão grandes mulheres.