Lua Vermelha é uma experiência sensorial que leva o homem ao cerne de seus pecados mais íntimos
O cinema experimental é o mais abstrato que existe, pois tem a capacidade de fazer-nos refletir e nos atingir de diferentes maneiras. O uso de imagem e som – por vezes fora de sintonia – são essências para criar um clima único e nos absolver com maestria, algo que “Lua Vermelha” faz com louvor.
O tempo parece ter parado em uma vila na costa da Galícia, na Espanha. Os habitantes aparentam uma espécie de paralisia, mas ainda conseguimos ouvir suas vozes: eles falam sobre fantasmas, sobre monstros, sobre a lua vermelha. Três mulheres descem das montanhas e chegam ao povoado em busca de Rubio, um marinheiro que desapareceu no mar.
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A produção espanhola de Lois Patiño flerta com horror, pois a sensação inicial é o total desconhecido. Apesar do roteiro de Patiño explicar um pouco da história – na maior parte do tempo estamos apenas contemplando as imagens – e imaginando o que poderia ter acontecido aos habitantes da vila.
Eles parecem perdidos no tempo e castigados por brincarem com a natureza. Rubio é o culpado. E os personagens repetem isso aos montes. Fantasioso e por vezes mitológico, “Lua Vermelha” parece um teatro performático filmado, daqueles em que cada imagem merece ser enquadrada, e tem a fotografia do próprio Patiño.
A presença de atores não profissionais, deixa a paralisação desse universo muito mais autêntica. O final é uma imersão a própria viagem, como se fosse possível ser ainda mais poético e introspectivo, ao dizer que somos a origem do mal.