Finalmente um filme de terror que vale a pena. Invocação do mal não é um filme inovador, nem o “filme mais assustador de todos os tempos”, mas funciona como filme – independente do gênero. Invocação do Mal é mais do que um bom terror, é um bom filme.
O filme conta um pouco história do casal Ed e Lorraine Warren, demonologistas reais conhecidos mundialmente. O filme aborda um trecho específico relacionado ao caso da família Perron, sem fugir muito dessa história, apesar de mostrar outros casos do casal. Ou seja, o filme nem cita assuntos polêmicos relacionados ao casal, como as acusações de adulterar ou modificar casos sobrenaturais. Talvez isso seja abordado na continuação, que foi confirmada após o filme alcançar mais de 270 milhões em bilheteria mundial.
O caso investigado envolve uma família com cinco filhas que se muda para um casarão no interior e começa a ser assombrada por entidades demoníacas que estão na casa há muito tempo. A premissa é simples e até um pouco clichê. Invocação do Mal tem espíritos, demônios (que parecem um pouco com a Regan de “O Exorcista”), casa mal-assombrada, exorcismo e tudo mais.
O desenvolvimento da história também é bem clichê, entretanto Invocação do Mal não é atrapalhado por esses clichês. Temos a chegada da família, os pássaros, animais de estimação morrendo, o amigo imaginário, etc… Muitos elementos utilizados no longa já foram vistos em outros filmes de terror.
O roteiro pode não trazer muitas novidades, mas nem por isso é ruim. Apesar do clichês, a história é contada de maneira interessante e sem muitos erros. Os diálogos interessantes dão um tom diferente ao filme, trazendo, inclusive, alguns momentos cômicos para o filme.
Se o roteiro não é inovador, o que faz de Invocação do Mal um filme diferente?
A direção é um desses aspectos diferenciados. James Wan já fez vários filmes de terror, mas mostra um certo amadurecimento na direção desse filme. As escolhas feitas por Wan são essenciais para que Invocação do Mal funcione.
Wan filma a casa de maneira excepcional. Ora ele apresenta a casa de maneira charmosa e familiar, ora de maneira assustadora e desnorteante. São tantas perspectivas, tantos ângulos que o espectados se perde dentro da casa e dos personagens. Esse senso de confusão, causada pelas mudanças de ângulos, chega ao seu ápice no clímax do filme, onde Wan movimenta a câmera sem levar em conta as paredes ou os andares. Em uma cena, a câmera começa de cabeça pra baixo filmando o térreo para depois girar e parar na sacada do segundo andar.
Essas escolhas de movimentação também são essenciais para que o filme aterrorize. Mesmo não sendo o filme mais assustador já feito, Invocação assusta muito. Os sustos surgem do nada sem aquela trilha sonora natural, fugindo um pouco do óbvio. Vide a espetacular cena onde a mãe brinca de “cabra-cega”.
O terror criado por Wan também é diferente. As primeiras cenas de suspense preparam muito bem para o clímax. Essas cenas são criadas através de efeitos práticos, movimentos de câmera e jogos de luzes e sombras. É um terror que prioriza a tensão constante e não o sangue e o horror gráfico (como é normal nos terrores atuais). No clímax, Wan abusa um pouco da barulheira e dos efeitos especiais, mas não deixa que as cenas se tornem escatológicas ao extremo.
Outro diferencial do longa é o elenco. O casal de demonologistas é interpretado por Patrick Wilson e Vera Farmiga, atores gabaritados talentosos. Os dois trazem uma ótima credibilidade pro seus personagens e fazem um ótimo trabalho. Mas quem toma conta do filme é a atriz Lili Taylor, que faz a mãe possuída. Ela cria uma mãe recheada de camadas (frágil, firme, companheira…), demonstra muito bem o sofrimento e faz um ótimo trabalho corporal no último ato do longa.
Um filme simples e, ao mesmo tempo, diferenciado. Invocação do Mal é um ótimo filme e merece ser visto pela sua ótima direção e grande elenco. Não é um filme sanguinário, mas é um filme que consegue deixar o público tenso durante toda a projeção. Esse é um dos melhores filmes de terror feitos nos últimos tempos.