Fleabag – Rindo pra não chorar

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Disponível na Amazon Prime Video, Fleabag, série escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge, traz o que há de melhor no humor britânico.

O humor britânico é peculiar, por vezes até chocando o espectador por conta de seu desprendimento e total aversão aos bons modos e a normalidade. A série da talentosa Phoebe Waller-Bridge (responsável também por “Killing Eve”), segue esta cartilha ao contar a história de uma jovem inconsequente, viciada em sexo, que possui um humor ácido e uma relação familiar nada boa. Sua mãe faleceu recentemente, seu pai vai casar com sua madrinha que não gosta muito dela e da irmã, que também tem um casamento nada feliz com um marido abusivo e que vive dando em cima de Fleabag (a chamamos assim porque em nenhum momento, o nome da personagem é mencionado). Para completar, sua melhor amiga e sócia Boo (Jenny Rainsford) sofreu um acidente, e tal evento tem influência direta dela, que tenta manter seu negócio em meio à trancos e barrancos.

Fleabag - Rindo pra não chorar 4

Escrita e estrelada por Waller-Bridge, o texto da comédia é inteligente, a todo momento subvertendo a condição da mulher com mais de 30 anos. Fleabag tem uma vida ativa sexualmente, tem opiniões fortes e é considerada por muitos alguém inconveniente, só pelo fato de ter uma voz altiva. Ela ri de situações absurdas ao mesmo tempo em que chora com as coisas do cotidiano, que fazem com que lembre de seu passado nada exemplar. Os homens são tratadas como descartáveis, provindos de pouco profundidade em seu maioria, com exceção do namorado (ou ex) sensível. Existe uma inversão de valores que em nenhum momento soa artificial ou vingativa. A naturalidade com que a figura masculina é tratada como mimada e “emocionada” é perfeitamente fluída.

A direção de Harry Bradbeer nos 12 episódios (divididos em 2 temporadas), é ágil, fugindo da Londres turística e a tornando mais pessoal para o espectador, que além de observador é cúmplice, já que Fleabag quebra a quarta parede com frequência, em diálogos e expressões faciais igualmente hilárias. A relação com irmã Claire (Sian Clifford) alterna entre momentos de sororidade e pura aversão, tanto pela forma como se tratam, quanto pelo sistema construído especialmente para que as duas discutam, algo nada facilitado pelo pai e a madrasta sem noção, vivida pela vencedora do Oscar, Olivia Colman (“A Favorita”).

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Rindo da tragédia, Fleabag quer incomodar não apenas pelas situações cômicas, mas por sua atmosfera nada convidativa. Vivemos em um ambiente dramático, guiados por uma mulher que sofreu e ainda sofre com traumas do passado e presente, mas que enfrenta isso com muito bom humor, muitas vezes usado para disfarçar uma vida repleta de tristeza. Quando tudo vai bem (como no início do segundo ano), nossa protagonista tenta se auto-sabotar de todas as formas, a ponto de tentar se envolver com um padre, vivido pelo excelente Andrew Scott.

Em meio a relação incomum, é praticamente impossível não torcer por Fleabag. A personagem é apaixonante e desde os primeiros minutos a identificação e empatia é imediata. Ela, ateia, traz ricos debates religiosos com o charmoso padre e enquanto conversam sobre a vida e universo, tentam lidar com o que sentem, sem cair nos clichês românticos, sempre com o pé na realidade. Podemos dizer que ela evoluiu de uma temporada para outra, sem perder a essência. Mais madura, é incrível o que Waller-Bridge consegue fazer em episódios com pouco menos de 30 minutos, tornando seus personagens humanos, sem grandes falas, mas com detalhes que o fazem únicos.

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A série da BBC, que chega ao Brasil pela Amazon Prime Video é orquestrada por uma trilha em tom apoteótico, às vezes exagerado, mas que não perde a simplicidade, ao trazer a história de uma mulher que acaba nos fazendo rir pelos absurdos de uma vida feita para dar errado, mas que acaba encontrando um propósito maior que ela.

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