Quando Walter Mitty saiu correndo pelo mundo, ele tinha clara a ideia na cabeça de sentir cada momento da vida. Viver o instante, sentir o vento no rosto, o som da cidade, das árvores se mexendo, o barulho dos pássaros.
Essa ode à vida faz com que sentimos um prazer muito grande em estarmos vivos. Pra poder sentir isso também e viver nossas experiências.
Soul, novo filme da Pixar lançado no Natal, é exatamente isso, só que com um tempero Pixar, que cria figuras de linguagem para temas abstratos e nos enche os olhos com uma história vibrante, emotiva e recheada de paixão. Pela vida e pela música.
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Sobre o filme Soul
Em Soul, entramos na pele de Joe Gardner, aqui dublado originalmente por Jamie Foxx, um professor de música que sonha em fazer parte de uma banda e realizar seu sonho da vida. Após conseguir a vaga em um quarteto de jazz, Joe sofre um acidente e volta ao estado de alma, em um lugar onde todas as almas são formadas, ganhando suas personalidades e prontas para nascerem na terra.
Sua missão é sair de lá e voltar para o corpo terreno a fim de fazer sua tão sonhada apresentação.
De fato a morte é um tema delicado mas que a Pixar adora falar e representar das mais variadas formas. E, ao desenhar todo um mundo pré-vida, Soul diz pra gente que, por mais que tenhamos nossos desejos, são os nossos propósitos que formam nossa vida e que fugir deles pode ser um problema.
Soul joga na nossa cara que aceitar a morte pode sim ser doloroso, mas se negar a viver pode doer ainda mais.
E quando alguém que não quer morrer se choca com alguém que não quer viver, temos uma das mais belas histórias contadas pela Pixar até hoje. Soul é um fascínio em todos os sentidos. Dos abstratos até os mais palpáveis.
O seu propósito e você
Se você morresse amanhã, o que te deixaria mais feliz olhando pra trás?
A princípio isso pode soar como uma frase de um coach qualquer, mas com um olhar mais aprofundado, descobrimos que raramente teríamos aquela fagulha que de fato nos deixaríamos orgulhosos pelo que fizemos.
Cada segundo conta na sua vida e Soul faz questão de nos mostrar isso. Ao dar o momento de maior catarse na vida de um homem, e logo depois tira-lo disso, é como se projetasse em nós a frustração de ter um sonho interrompido na metade, por coisas que vão além das nossas atitudes.
E tudo isso dentro de uma animação lindíssima, em uma Nova York igualmente bela e um campo das ideias abstrato e genial. Misturar discussões filosóficas e sociais com um homem, um gato e duas almas é o maior efeito Pixar que podemos ter.
Em certo momento da história é impossível não pensar o meme do “mlk transcendeu”. Pois é exatamente isso que acontece e te encaixa numa vontade de achar o que transcende da mesma forma.
Por isso, o grande trunfo de Soul é te questionar: Qual é o seu propósito e o que você vai fazer quando finalmente encontra-lo?
O Jazz e Nova York
Aqui, o som leva a história e o jazz é a alma do personagem. Num filme chamado Soul, onde sua alma descola do corpo, tirar a música de Joe é atestar sua morte sem um último suspiro no sax.
Por isso ele corre tanto atrás da vida. A música é o que lhe mantém vivo, apesar de descobrir outras razões pra viver. E Nova York não poderia ser tão especial nisso.
Na maior e mais cosmopolita cidade do planeta, o som das pessoas, do trem passando, do artista de rua que ganha uns trocados no metrô e até das árvores balançando com o vento, viram música pra vida.
Os momentos de contemplação criam os sons e cada um deles faz mover os personagens, e como no melhor solo de jazz, o filme diz pra gente:
Deixe viver.
Soul é uma daquelas obras certeiras da Pixar que nos deixa emotivos, vibrantes e com inúmeros questionamentos sobre a sua vida. Chorar aqui não é o intuito mas sim mostrar que, apesar dos pesares, a vida pode ser linda.
Viver é um dom e que bom que estava aqui pra assistir esse filme.