Êxodo – Deuses e Reis

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Ridley Scott é alguém que tem experiência com épicos e isso é inegável. Já acertou no ótimo Gladiador e errou – pelo menos, na minha opinião – em Cruzada. Aquele ele acabou ficando em cima do muro nesse Êxodo, que é um bom filme sobre política e guerra escondido sob um mediano épico religioso.

O filme conta a já batida história de Moisés, então a única coisa que não pode ser criticada é o fato da história ter um desenvolvimento óbvio. A história está na Bíblia, já foi adaptada milhares de vezes e, olhando por esse lado, temos uma visão um pouco diferente do normal. Mas voltando a história, temos a adaptação da vida adulta de Moisés, sua liderança para os hebreus como um general, suas disputas com o irmão e seus encontros com Deus.

Gostei quando filme não começou com aquela típica tomada da cesta com Moisés descendo o rio. Isso é tipo a morte dos Wayne: todo mundo sabe e não precisa ser refeito em todo filme. Ponto positivo para Scott, que conseguiu, pelo menos, fazer algo novo de certa maneira. Mas isso não é bom necessariamente.

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Acho que uma das coisas que me incomodou foi o fato do filme não se decidir e não focar em um aspecto da história. No início, ele é todo filme de guerra, mas depois, principalmente a partir do ponto em que começa a missão de Moisés, isso fica meio confuso. Ora acompanhamos situações completamente divinas, ora nos deparamos com preparações para guerra que fogem um pouco do ritmo do filme.

Isso consegue ter aspectos interessantes e outros que não funcionam. Começando pelo bom, gostei muito da representação de Deus e as consequências de seu aparecimento. Achei sensacional que Deus seja representado por uma criança, como Person of Interest fez há pouco tempo. Também gostei de como só Moisés vê ele e tudo é tratado por um viés de loucura, inclusive pelo próprio protagonista. Essa interpretação consegue fazer com que Christian Bale e a criança tenham os melhores diálogos do filme, com exceção de alguns acessos de raiva de Deus sem muito sentido.

Mas esse lado da guerra também vem acompanhado com o lado pela disputa meio pessoal entre os irmãos, que não funciona em nenhum momento. Os personagens não tem força suficiente para carregar o filme, então essa relação soa artificial desde os primeiros minutos. Talvez se tivessem algum flashback deles mais novos, isso poderia ser mais verdadeiro.

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Ainda assim, não ia funcionar, porque o roteiro no geral me incomodou muito. O desenvolvimento da história é arrastado, os diálogos são fracos e os personagens pobres. Por causa disso, as mortes não emocionam e até as criticas passam batidas. O filme é longo, mas falta um preenchimento textual que prenda e interesse o público. Nem as partes mais grandiosas visualmente conseguem ter o impacto desejado, mesmo sendo perfeitas.

São problemas que também podem ser encontrados em Cruzada, então podemos dizer que Ridley não aprendeu com seus erros. Não adianta ter sets gigantescos, tomadas aéreas belíssimas, efeitos sensacionais e um grande elenco, se o texto não tiver o comprometimento e a grandiosidade necessária.  Dois bons exemplos são as pragas, que são perfeitas visualmente, mas não tem pouco impacto geral e a abertura do mar, que é ofuscada – de maneira errada – pela disputa pessoal entre os irmãos.

Entretanto, em todo seu vislumbre, a direção ainda peca um pouco pelos excessos. Ainda que o lado realista seja predominante, o viés religioso garante algumas licenças poéticas, mas é apelo mostra Moisés bater em uma pedra durante o fechamento do mar para depois ele sair sem mancar nem nada.

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O elenco é muito bom, mas é quase todo desperdiçado. Christian Bale e Joel Edgerton tem muito tempo de tela, mas sofrem com o texto fraco. Enquanto isso, outros grandes atores, como Aaron Paul, Sigourney Weaver e Ben Kingsley, entram mudos e saem quase calados, sem ter real importância pro desenvolvimento da história. O único que teve tempo de tela adequado e algumas boas falas foi John Turturro como o faraó.

É um filme que funciona muito bem como espetáculo visual, por conta da ambição de Ridley Scott, mas falha no roteiro, que não consegue passar tensão ou emoção nenhuma. É um filme que acerta na guerra propriamente dita, mas pisa na bola no restante do épico. É inaceitável que, em um filme que precisa de uma carga dramática maior, o momento mais emocionante seja Ridley oferecendo o filme para seu irmão – e também diretor – Tony Scott, que faleceu em 2012.

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