Doutor Estranho – Uma odisseia pela magia

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Doutor Estranho é um longa divertido, cartunesco e visualmente inovador que apresenta com louvor uma das peças mais poderosas e importantes da Marvel


A Marvel passou por muitas dificuldades durante sua vida e encontrou uma tábua da salvação na produção de filmes que agradassem homens, mulheres, crianças, fãs, críticos (quase todos), deuses e alienígenas, apostando de forma bastante segura na apresentação dos seus heróis. De certa forma, esse status quo só foi relativamente alterado com a introdução dos Guardiões da Galáxia em um ópera espacial bastante surtada. Dois anos depois, Doutor Estranho entra para esse seleto grupo com seu show de dimensões, magias e jóias do infinito.

O longa, logicamente, acompanha a transformação do prepotente cirurgião Stephen Strange após ele sofrer um acidente assustador que o impede de exercer a profissão. Sua busca incessante pela cura chega até o Nepal, onde ele encontra uma Anciã (The Ancient One em inglês), descobre mundos completamente novos e precisa se tornar um mestre das artes místicas para proteger a Terra de um tipo de ameaça que os Vingadores não teriam como derrotar.

É uma história básica de origem e a estrutura narrativa realmente não foge da tão comentada fórmula Marvel, incluindo a inspiração na jornada do herói, a grande quantidade de piadas, os diálogos explicativos e as conexões com o restante do universo da Casa das Ideias. No entanto, eu acredito que esse seja um mal necessário justamente pela necessidade agradar comercialmente todos os públicos e ainda apresentar vários conceitos novos para espectadores que não precisam ter nenhum doutorado na história do personagem.

Eu não acho que essa preocupação com todos seja um ponto negativo e também não vejo essas “regras” como uma limitação para a produção de um bom roteiro. O texto escrito por Jon Spaiths (Prometheus), C. Robert Cargill (A Entidade) e o próprio diretor Scott Derrickson (O Exorcismo de Emily Rose) apresenta as dimensões com fluidez, desenvolve o protagonista de forma certeira, transita entre os gêneros com muita facilidade e encaixa todas as piadas na hora certa. A grande maioria funciona muito bem, mas o roteiro não esquece de tirá-las de cena nos momentos mais dramáticos e emotivos.

A presença de mais um vilão sem personalidade poderia ser um elo fraco, mas Kaecilius e seus olhos queimados tem uma motivação compreensiva e funciona muito bem como aquele tipo de antagonista que trabalha como o degrau para algo maior. Inclusive, eu gosto que o próprio Dormammu já apareça com imponência e algum mistério, principalmente porque sua luta contra o Doutor Estranho entrega uma das soluções mais criativas e divertidas do filme e das outras produções da Marvel. É uma ótima sacada que sabiamente não descarta uma nova aparição desse vilão clássico no futuro.

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Os únicos problemas notáveis residem em alguns diálogos desnecessários e na falta de uma personagem feminina com mais presença, visto que a ótima Anciã não é definida de acordo com esses padrões e Christine Palmer só está ali de passagem nas tiradas cômicas. Apesar disso, eu não acho que esse seja um erro tão grave, porque prefiro ver a médica sendo melhor aproveitada no futuro do que jogada no meio da guerra dimensional para ser apenas a donzela em perigo, como já foi feito inúmeras vezes em Thor e Homem de Ferro.

Na verdade, posso até afirmar que tudo isso deve passar completamente despercebido por grande parte do público, afinal o visual desenvolvido por Scott Derrickson é idêntico aos quadrinhos e ocupa a tela com uma força suprema. Os efeitos especiais são impecáveis, o 3D ajuda a contar a história com a sensação de profundidade, as cenas de ação tem potencial para tirar o fôlego e as sequências psicodélicas mexem com a percepção mental do espectador de uma forma inédita nos longas de super-heróis. A inspiração em A Origem realmente marca sua presença no terceiro ato de Doutor Estranho, mas seria muito injusto reduzir o filme a essa comparação quando os caleidoscópios funcionam melhor do que no próprio material-fonte.

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Além disso, Scott se garante ao acompanhar o roteiro na transição de gêneros propostas durante o desenvolvimento da história. A escolha dos enquadramentos nos momentos mais paradas é bem simples, mas sustentam o drama e a tensão, criam ótimas piadas visuais e ainda adicionam um toque bem leve de horror ao todo. O medo do diferente está presente na utilização das dimensões em uma cena de luta no hospital, nas brincadeiras com os médicos e certamente na construção das viagens surtadas de Stephen Strange.

Um protagonista que, por sinal, encontra um interprete perfeito no britânico Benedict Cumberbatch (O Jogo da Imitação e Sherlock) e uma companhia de viagem maravilhosa na Anciã, interpretada pela genial Tilda Swinton (Expresso do Amanhã). Ele incorpora a personalidade escrota do personagem como se fosse um velho conhecido e encontra uma forma interessante de trabalhar alguns dilemas internos bem complexos, enquanto ela carrega um dos momentos mais dramáticos da história e surpreende por não ser um mestre tão sisudo e clichê quanto o das HQs.

Ao mesmo tempo, ambos se entregam fisicamente nas cenas de ação e encontram parcerias de cena interessantes nas participações de Benedict Wong (Marco Polo e Black Mirror), Mads Mikkelsen (Hannibal e o futuro Rogue One), Chiwetel Ejiofor (12 Anos de Escravidão) e Rachel McAdams (Questão de Tempo). Todos são ótimos atores e funcionam dentro do que foi programado, mas os dois últimos merecem e devem ter participações muito mais intensas no segundo filme que já foi praticamente confirmado em uma das cenas pós-créditos.

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O resultado não foi nem um pouco diferente do que eu esperava. Doutor Estranho é um longa divertido, cartunesco e visualmente inovador que apresenta com louvor uma das peças mais poderosas e importantes para a continuidade desse universo. Até aceito que o filme possui pequenos defeitos e ainda fica de fora do meu TOP 5 (Os Vingadores, Guardiões, Soldado Invernal, Homem de Ferro e Guerra Civil), mas não consegui encontrar problemas que realmente tirassem pontos da nota final. A verdade é que eu sai impressionado e com vontade de avisar pra todo mundo: assistam esse filmaço agora e na maior tela possível.


OBS 1: Assista em 3D e, se possível, em IMAX. Minha cidade não tem, mas deve ficar muito foda.

OBS 2: Fiquem até o final! O filme tem duas cenas pós-créditos importantes para o próprio personagem e sua participação em outros filmes do universo!

OBS 3: Quero só ver Thanos encostar um dedo no Doutor e na sua maravilhosa Capa de Levitação

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