DOM | Crítica: A construção, desconstrução, e destruição de um bandido playboy

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Inspirada em várias produções brasileiras, a nova série da Amazon Prime Video conta a história de Pedro Dom


Início nos anos 90, baile funk, com a música “Rap das Armas” tocando ao fundo de uma narração in off. O ator Fabio Lago faz um traficante carismático. e o ator André Mattos faz um corrupto. Eu poderia estar descrevendo o início de “Tropa de Elite” para vocês, mas na verdade esse é o início de DOM, nova série do Amazon Prime Video, criada por Breno Silveira e Vicente Kubrusly.

Na verdade, as similaridades com obras brasileiras famosas do cinema nacional não param por aí, mas antes, vamos de história.

Qual o enredo da série?

Livremente inspirada nos livros: “DOM” de Tony Belloto e “O Beijo da Bruxa” de Luiz Victor Lomba (pai de Pedro), a série conta a história de um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência, colocando-o no caminho para se tornar o líder de uma gangue criminosa que dominava os tabloides cariocas no início dos anos 2000: Pedro Dom.

Alternando entre ação, aventura e drama, a série também acompanha o pai de Pedro, Victor, que, na adolescência, faz uma descoberta no fundo do mar, denuncia às autoridades e acaba ingressando no serviço de inteligência da polícia. A produção mostra a jornada de pai e filho vivendo vidas opostas, muitas vezes se espelhando e se complementando, enquanto ambos enfrentam situações que confundem os limites entre o certo e o errado.

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Foto: Divulgação Amazon

Quem foi Pedro Dom, que inspirou a série?

Pedro era filho de um ex-policial carioca que integrou o Esquadrão da Morte, uma espécie de milícia dos anos 70 na cidade do Rio de Janeiro e se envolveu com o tráfico de drogas muito cedo em sua vida, aos 9 anos de idade. 

Quando pequeno, Pedro roubava para financiar seu vício e chegou a ser internado pela família, ainda jovem, para tratar do vício e parar com os furtos dentro de casa.

Ao todo, Pedro teve catorze internações clínicas até ser preso em 2001 por porte ilegal de armas. Após um período, ele foi solto para se curar do vício das drogas mas desapareceu por dois anos, até surgir novamente em 2004 liderando uma quadrilha especializada em assaltos a edifícios luxuosos no Rio de Janeiro. 

Ele possuía fama de violento e as vítimas o descreviam como um personagem de cenas de terror, colocando, por exemplo, uma granada na cabeça de uma criança para forçar as vítimas a dizer onde guardavam seus pertences valiosos.

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Foto: Divulgação Amazon

Para sustentar o vício em cocaína, Pedro vivia escondido na favela da Rocinha, no Rio, e integrava a facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), mas seu estilo extravagante e luxuoso chamava muita atenção de quem o via nas ruas da cidade.

Pouco antes de completar 24 anos, em 2005, foi morto por um tiro de fuzil, em um corredor de um prédio na Lagoa, bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro. Pedro fugia de uma arapuca armada pela polícia para prende-lo, usando escutas telefônicas e agentes infiltrados. 

O que achamos da série?

Quem conhece o trabalho de Breno Silveira, showrunner da série, sabe que, como ninguém, ele sabe trabalhar relações de pai e filho. Diretor de “Dois Filhos de Francisco” e “Gonzaga”, Breno já é um dos principais nomes do cinema nacional recente, e a tônica da série, está na construção do relacionamento entre Pedro e Victor.

A série propositalmente se divide entre o final dos anos 90/início dos anos 2000, com a ascensão de Pedro, e os anos 70, na juventude de Victor, isso porque, Breno está interessado em apresentar narrativas que se complementam, ao mesmo tempo em que tomam caminhos opostos.

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Foto: Divulgação Amazon

Victor passa por todos os percalços da vida que Pedro escolheu ter, mas opta pelo lado da lei. Já Pedro, resolve ir para o lado do crime, e muito antes que alguns possíveis leitores deste texto venham dizer que a produção romantiza o bandido, aconselho a deixar o viralatismo de lado, já que obras de assassinos lá de fora, são aclamadas.

Por vezes, esse jogo de gato e rato entre Victor e Pedro, onde um sempre está no limite e a beira da morte, e o outro em busca de ajudá-lo, cansa, muito por conta do roteiro inchado, escrito a 8 mãos. Se a escolha de Breno Silveira foi acertada para dar profundidade as relações, não pode-se dizer o mesmo das cenas de ação pouco inspiradas.

A série tem elementos do já citado Tropa de Elite, mas também bebe da fonte de “Cidade de Deus” (quando uma tragédia muda os rumos e a personalidade de Pedro, assim como fizeram com Zé Pequeno). A trama de Victor (no presente), pouco agrega ao todo, diferentemente do passado, onde temos uma rica ambientação.

Mesmo com esse problemas, é absurdo não destacar as atuações de Gabriel Leone (que pode até nos tirar um pouco de órbita com sua lente azul), e Flávio Tolezani. A química de ambos é palpável, e é possível acreditar nas dores apenas com um olhares e gestos. Raquel Villar e Isabella Santoni também dão tudo de sim ao viverem os amores de Pedro.

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Foto: Divulgação Amazon

Abordar a infância e adolescência de Pedro também foi um acerto, já que acompanhamos o início do seu vício, as internações, a relação dele e de Victor com a cocaína, suas personalidades violentas, além da obsessão por adrenalina. Tudo auxiliado por uma câmera na mão sempre presente, que exalta a atuação dos atores, tentando parecer real, seja na intensa gritaria, ou na calmaria do silêncio.

DOM ainda traz comentários ao privilégio branco de Pedro, suas barreiras com a corrupção, além de ser uma série perfeita para maratonar. Com alguns dos 8 episódios terminando em cliffhangers, e uma história que consegue atiçar o espectador que anseia por um desfecho (que não vem nesta primeira temporada), está próximo o fim iminente do bandido playboy.


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