Dois Dias, Uma Noite

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Os diretores franceses Jean-Pierre e Luc Dardenne já são reconhecidos internacionalmente por seus filmes extremamente artísticos. Esse ano, pela primeira vez, eles viram uma de suas obras ser, merecidamente, indicada ao Oscar. E não importa que isso seja alcançado somente por causa de Marion Cotillard.

O filme conta a história de Sandra, uma mulher que descobre, após se curar de uma depressão, que será demitida de seu trabalho para que os outros empregados ganhe um bônus de 1000 euros. Para tentar salvar seu emprego, ela precisa convencer as pessoas a abrirem mão do dinheiro por ela em apenas dois dias e uma noite.

Esse é o típico filme dos irmãos Dardenne, que mesmo tendo um viés artístico poderoso, usam isso para contar histórias cotidianas onde personagens são levados aos seus limites. A narrativa do longa é bem lenta e simples, mas tem ali os momentos onde faz um interessante estudo da sociedade, da economia e outras instituições sociais. Um bom exemplo está no fato de crise econômica ter sido a culpada da empresa não poder dar um bônus e manter Sandra.

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Ou seja, não fique preocupado se alguma informação ficar implícita ou se nada de interessante acontecer durante toda a projeção. Como eu disse, os filmes dos irmãos usam situações do cotidiano para fazer todo o seu estudo e, por isso, a história de Sandra é tratada de maneira crua, de maneira próxima do trabalho feito em Boyhood . A vida nem sempre tem grandes emoções ou finais felizes, mas a gente faz o possível para alcançar algum objetivo e é isso que resume Dois Dias, Uma Noite.

A direção dos irmãos já tem aspectos mais complexos, mesmo usando técnicas comuns nos seus outros trabalhos. Esse filme é formado quase todo de planos-sequência colados entre si e sua única diferença para o trabalho feito por Iñarritu em Birdman é que, aqui, os cortes são expostos. Os Dardenne não tem o objetivo de transformar o filme em outra coisa, então os takes únicos estão ali para dar ao público uma proximidade com os personagens e criar uma sensação de tempo real para os acontecimentos.

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É uma leitura minimalista daquele ambiente e dos seus componentes, mas é exatamente nessa simplicidade que está a grande força do filme. Você se sente próximo da protagonista e torce por ela, mas também entende os motivos que impediriam sua vitória na votação. O filme desenvolve isso sem escancarar os fatos ou levar bandeiras e isso dá mais intensidade ao filme dos Dardennes.

Para que tudo dê certo, eles contam com a ajuda de um elenco interessante. Marion Cotillard já merecia ser indicada novamente há algum tempo e tem um papel muito bom aqui. Ela tem uma relação interna conflituosa, gerada, principalmente pela depressão, mas ainda assim demonstra ser uma mulher muito forte. Também gosto do seu trabalho em Era uma Vez em Nova York, todavia acho a indicação por Sandra muito mais justa.

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Os outros coadjuvantes também tem ali uma participação importante para o desenvolvimento da situação e para sua conclusão significativa, entretanto é em Cotillard que quase todos os planos se centralizam e em torno dela que tudo acontece. Desses coadjuvantes, acredito que o que mais se destacou foi Fabrizio Rongione, interpretando o marido positivista e amoroso da protagonista.

Dois Dias, Uma Noite não um filme extremamente complexo ou complicado de se assistir, mas é, de fato, um filme que foge do comum para o público internacional. Mesmo sendo lento e introspectivo, a história é interessante e a direção e a atuação de Marion valem o tempo dedicado ao filme. Não é um filme com o qual você vai criar uma empatia imediata, entretanto ele tem sua beleza e merece ser assistido.

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