Deixando Neverland | É possível separar o artista de sua humanidade?

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“Deixando Neverland” é um relato inesquecível que desmistifica a figura de Michael Jackson, tornando-o um humano doente e cheio de erros


Infelizmente, abusos sexuais já fizeram ou ainda fazem parte do cotidiano de muitas pessoas. Se alguém não sofreu nenhum tipo de abuso, no mínimo ela conhece quem já o tenha sofrido. O foco aqui está no contexto sexual, mas o abuso pode vir de vários formas, seja ela emocional, financeira e/ou controladora. É nesta questão que “Deixando Neverland”, documentário polêmico sobre os abusos realizados por Michael Jackson no início dos anos 90, quer tocar.

O diretor Dan Reed deseja criar laços e vínculos com o espectador e para isso ele apresenta os dois personagens da história – suas origens, famílias e fraquezas, além é claro de tornar a figura de Michael Jackson divina. É interessante notar o teor irônico em exaltar a figura de MJ como o artista completo (que de fato foi), ao mesmo tempo em que destrói sua figura humana. A HBO dividiu o documentário em duas partes, e nas primeiras 2 horas, Wade RobsonJimmy Safechuck falam sobre a relação com MJ, intercalados por fotos e depoimentos de familiares.

O documentário não foge do estilo convencional, buscando força nos relatos de ambos os garotos (agora homens adultos e pais). As histórias são fortes e explícitas, não havendo qualquer filtro. Reed está disposto a arrancar tudo de seus entrevistados e eles parecem dispostos a falar. A grande polêmica sobre a veracidade do caso (já que tudo voltou a tona agora, 10 anos após a morte de MJ), não parece importar muito para os envolvidos – que desejam apenas contar o seu lado da história.

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Acusado de tendencioso, Leaving Neverland (no original) de fato só aborda um lado do todo e mesmo que esse lado não seja o verdadeiro, é impossível não notar que existia algo minimamente errado com Michael Jackson. O cantor era uma figura excêntrica, controversa e suas atitudes demonstravam isso. A infância perturbadora se refletiu em sua peculiar personalidade e este filme só deixa essa afirmação mais evidente. Mesmo que fosse inocente, é correto afirma que MJ era no mínimo doente. Afinal, hoje em dia, qual pai ou mãe deixaria alguém estranho (mesmo sendo famoso), dormir na mesma cama que seus filhos.

Como já afirmado anteriormente, o abuso tinha várias vertentes e uma delas era a manipulação, que pode ser encarada de várias formas e refletida de modo único em cada uma das vítimas. Em dado momento, os familiares sorriem ao ter lembranças de Michael e mostram objetos que ganharam do mesmo – causando controvérsia em tudo aquilo que dizem, mas você já conheceu alguém que sofreu abuso sexual? Algumas pessoas ficam viciadas em sexo, enquanto outros criam completa aversão. O processo de cura é individual e no mínimo o benefício da dúvida deve ser dado a Wade e Jimmy.

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Como obra cinematográfica, “Deixando Neverland” tem seus equívocos e certo amadorismo ao encher o filme de imagens aéreas feitas por drones – principalmente na primeira parte, que parecem desconexas e jogadas em tela. Na últimas e melhores 2 horas seguintes – quando pipocam os casos de assédio na mídia, os depoimentos dão lugar as reportagens e manifestações de fãs indignados, que não aceitam que seu ídolo pode ser um pedófilo abusador. Aliás, será possível separar o artista de sua obra? Indubitavelmente, um não está atrelado ao outro? Numa época em que casos de abuso envolvendo famosos ganham a luz do dia, tem sido mais fácil e ao mesmo tempo mais complicado responder essa pergunta.

Com a ausência de provas, os relatos de ambos acabam sendo suas únicas armas e é perceptível o quanto suas vidas foram divididas em antes de MJ e depois de MJ. Wade e Jimmy ainda tentam conviver e superar o que aconteceu, enquanto lidam com o impacto emocional que ocorreu em suas vidas e na de suas famílias. Mesmo apresentando uma narrativa unilateral – as 4 horas de “Deixando Neverland” merecem ser vistas, pois passam voando perante nossos olhos incrédulos e decepcionados com um ídolo.

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