“Cured” é um documentário convencional que não deixa de chocar o espectador, ao mostrar que pouca coisa mudou
O documentário de Patrick Sammon e Bennett Singer começa com um aviso. Ele não é recomendado caso você seja homossexual, e tenha enfrentado violência intelectual. Débil mental. Aberração. Doente. E que precisa de cura. Estes foram alguns dos termos psiquiátricos utilizados para descrever lésbicas e homens gays nos anos 1950, 1960 e começo dos anos 1970.
Conforme estabelecido pela classe médica, toda pessoa gay – não importa quão bem ajustada – sofre de uma desordem mental. E já que lésbicas e homens gays eram “doentes”, o avanço em direção à igualdade era impossível. “Cured” narra a batalha travada por um pequeno grupo de ativistas contra a APA (Associação de Psiquiatras da América) – e a vitória crucial que obtiveram, no moderno movimento LGBTQIA+ por igualdade.
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“Cured” é um daqueles documentários onde o tema se sobressai a questão estética, afinal, você verá depoimentos de figuras importantes da época, fotos, e opiniões absurdas, além de tratamentos nada humanos sugeridos pelos psiquiatras, a fim de “curar” os homossexuais.
O filme também aborda o conceito de união da comunidade, já que na época era cada um por si. Passando por Stonewall em 1969, “Cured” mostra a importância que a mídia, principalmente o audiovisual, tiveram na consolidação da cultura gay americana, na época, uma sociedade muito mais conservadora.
Sammon e Singer fazem questão de exaltar a coragem dos ativistas, nada mais que um pequeno grupo disposto a mudar a cabeça de uma grande corporação, algo visto como impossível nos anos 70. Ao mesmo tempo, “Cured” não é apenas uma celebração do passado, já que a maioria dessas pessoas incríveis estão vivas, e os créditos mostram que aquilo foi apenas o começo de várias outras conquistas.
A produção caminha no limiar entre o pessimismo e a esperança. Os tempos são outros, mas muitas opiniões continuam as mesmas. Em contrapartida, muitas vidas foram mudadas e continuam lutando por mais direitos, servindo como uma espécie de inspiração para os mais jovens.
A persistência e a resiliência sempre estiveram do lado certo, e a intolerância nos faz questionar quem são os verdadeiros doentes.
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