Creed 2 é uma continuação forte e emocionante

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Creed II não é tão inovador e surpreendente quanto original, mas é um filmaço que arranca lágrimas e vibrações como um bom filmaço de boxe.


Eu provavelmente falei algo parecido na crítica do primeiro Creed, porém preciso reafirmar que Rocky é uma daquelas franquias marcou o cinema por gerações com suas lutas, roteiros inspirados e frases motivacionais que caem como luvas (ba-dum-tss) no Facebook.

Mas tudo que é bom acaba em algum momento e convenhamos que ninguém esperava que um spin-off focado no filho de um coadjuvante pudesse alcançar o mesmo status que o material. Pois Creed não só conseguiu realizar essa façanha como agora está nos presenteando com uma continuação que mantém a força de vontade e a emoção como protagonistas da luta.

A trama de Creed II – que funciona quase como uma sequência espiritual de Rocky IV – acompanha dois lados da moeda: a vida de Adonis após o primeiro longa e o retorno de um Ivan Drago vingativo através da figura do seu filho boxeador. Quando este último chama o filho do grande Apollo para a uma luta apoiada pela mídia, o passado volta à tona para reacender antigas mágoas, afetar relacionamentos e ameaçar as carreiras de todos.

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Uma premissa clássica e cheia de clichês para quem já acompanha filmes de esporte, incluindo o retorno de figuras do passado e as boas e velhas lutas que colocam a vida em risco. O uso dessas ideias repetidas, o espelhamento de certas partes da trama de outro longa e a própria maneira como isso é encaixado na saga de Adonis Creed fazem com que o texto escrito pelo próprio Sylvester Stallone (Rambo: Programado para Matar) ao lado do novato Juel Taylor soe bem mais simples e óbvio que o do longa anterior.

E ele de fato é tudo isso, no entanto não deixa de ser eficiente como continuação.O roteiro realmente consegue desenvolver os personagens, se aprofundar no “universo” ao qual fomos apresentados anteriormente e dar ainda mais espaço para que Adonis seja o verdadeiro protagonista da franquia que recebe seu nome.

Outro grande acerto do texto está na maneira como o filme é fortalecido pela decisão de preencher todas as subtramas com uma temática que vá além dos ringues e da sombra que Apollo deixou sobre seu filho. Na verdade, Sly e Juel pegam esse elemento (que já havia recebido algum foco no longa original) e o expandem ao ponto de praticamente transformar Creed II em um filme sobre paternidade na figura de Adonis, Rocky e Ivan.

Todos eles possuem uma ou mais relações paternas que funcionam como linha narrativa dentro da história e guiam, junto com as lutas, o espectador a vários gatilhos emocionais. Um deles, inclusive, guarda uma participação que fez algumas gotas de suor caírem do meu olho.

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A direção de Steven Caple Jr. (The Land) acompanha tudo isso com um ótimo equilíbrio entre a pancadaria e os momentos de intimidade, construindo um cenário onde o público entende as decisões de cada personagem, se apega a eles e eventualmente sofre no duelo final. É verdade que ele não possui a inventividade de Ryan Coogler (Pantera Negra), mas acerta ao substituir a fluidez que havia ditado o ritmo do longa anterior pela potência da porrada.

Creed II é mais um filme sobre força do que sobre agilidade e ver a câmera apostar numa dinâmica de lutas onde a brutalidade e o peso de cada soco são mais importantes combina com o todo. O resultado disso está impresso nas lutas poderosas, na montagem de treinamento impecável (uma das melhores entre os oito filmes) e na conclusão absolutamente brilhante.

Michael B. Jordan (Quarteto Fantástico) ressurge com ainda mais fôlego e aproveita os holofotes sobre seu personagem pra tomar conta do filme, brilhando tanto fisica quanto emocionalmente. Florian Munteanu segue pelo mesmo caminho e faz uma boa transição dos ringues para a atuação, colaborando com o realismo das sequências de luta e surpreendendo quando o assunto é dar camadas emocionais para seu Viktor Drago.

Stallone aproveita a ausência de uma subtrama tão forte quanto um câncer em cima de Rocky para cumprir seu papel de maneira mais econômica, roubando a cena só no terceiro ato e nos clássicos discursos motivacionais. Tessa Thompson (Westworld) surge mais à vontade e esbanja talento através da evolução de Bianca como personagem e cantora. E, por fim, Dolph Lundgren (Aquaman) aparece menos do que o esperado, mas não fica pra trás no quesito de boas atuações.

creed ii thompson

A combinação de todos esses elementos citados resulta, indiscutivelmente, numa continuação poderosa que merece sua atenção graças a expansão das tramas, ao merecido aprofundamento nos personagens, as referências a um clássico da década de 80 e um clímax que mexe com o espectador na hora da luta e no seu posterior.

Não vou negar que Creed II talvez seja inferior e menos impactante que aquele maravilhoso material que deu origem a esse ótimo spin-off, mas isso não chega nem perto de levar a lona um filmaço que emociona e faz vibrar mesmo tendo o final mais óbvio possível. E isso é sim indiscutível!


OBS 1: A trilha original de Rocky demora pra aparecer e, mais uma vez, toca nos momentos exatos.

OBS 2: Ver esse filme na CCXP foi uma experiência única, porque, além de ser a primeira exibição no país, um auditório com três pessoas te coloca praticamente num ginásio onde vibrar é permitido.

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