CREED | Nascido para Lutar: A luva em uma mão e o lenço na outra

Creed III é um dos filmes mais aguardados de 2023
Foto: Divulgação

Creed não é um filme perfeito, mas os pequenos erros são facilmente perdoados pelo espectador quando o filme demonstra todo o seu amor pela franquia


Tenho certeza que todos os fãs de Rocky se perguntaram pelo menos uma vez sobre a necessidade de ressuscitar a franquia depois de dez anos e uma conclusão agradável. Eu também fiz essa pergunta, mas abandonei todas as dúvidas no momento em que o gongo soou, as luvas se tocaram mais uma vez e a primeira lágrima escorreu do meu rosto.

Creed, idealizado por Ryan Coogler nos bastidores de Fruitvale Station, apresenta Adonis Johnson, um filho de Apollo Creed nascido fora do seu casamento, que decide largar tudo o que conquistou para seguir a carreira de lutador profissional. Para isso, ele sai de Los Angeles e vai para a Filadélfia procurar Rocky Balboa, o antigo adversário e amigo de seu pai, para que ele possa treiná-lo para enfrentar o atual campeão mundial.

É muito fácil perceber que a trama inicial de Creed tem muitas semelhanças com os outros filmes da franquia, entretanto isso não quer dizer que o longa se prende nisso por muito tempo. A ideia principal e o grande acerto do roteiro, escrito por Ryan Coogler e Aaron Covington, é utilizar esse passado com uma espécie de alavanca para criar um novo filme que seja algo realmente novo dentro da franquia, assim como Jurassic World e O Despertar da Força fizeram no ano passado.

Pensando nisso, o roteiro faz um ótimo trabalho na apresentação de um protagonista crível, no desenvolvimento de relações cercadas por um humor muito forte e na construção de um dilema pessoal que tem tudo a ver com as histórias de superação de Rocky sem esquecer de dar espaço para o antigo brilhar e se desenvolver de uma maneira diferente. Isso é perfeitamente retratado na presença de Balboa, porque ele realmente tem importância na história e sua própria luta pessoal enquanto acompanha o treinamento de Donnie.creed

Além disso, o tratamento dado para a nostalgia é muito sutil e consciente. Quem já assistiu todos os seis filmes vai acabar percebendo pequenas referências a momentos e frases marcantes em todo lugar (incluindo a camisa do protagonista em uma cena de treinamento), mas também vai ver que tudo aquilo está conectado ao desenvolvimento da narrativa. É só lá no terceiro ato que o roteiro se entrega de vez ao fan service ao trabalhar com duas visões diferentes da clássica cena da escadaria e fazer a platéia vibrar com a utilização brilhante da música-tema.

Enquanto isso, o trabalho de Coogler na direção de Creed é muito mais focado na atualização da franquia, inclusive porque o seu estilo de direção é completamente diferente do de Sylvester Stallone e John G. Avildsen. Assim, ele apresenta uma Filadélfia muito mais urbanizada, uma batida marcante e muito mais ligada à cultura negra e um ritmo mais ágil que faz bem para o filme, que é o mais longo da franquia. Mesmo assim, Coogler aproxima a câmera dos personagens e aproveita os planos-sequência no máximo para dar – com sucesso – uma fluidez maior ao andamento do filme.

Creed

CREED | Nascido para Lutar: A luva em uma mão e o lenço na outra 3E para a nossa alegria, o ápice do seu trabalho chega exatamente nos momentos mais marcantes de Creed: as lutas. Todas elas tem um estilo próprio que consegue trabalhar de alguma forma a emoção, o suspense e a visão do público em relação aos lutadores, mas o destaque certamente fica com a primeira luta profissional de Adonis. E não podia ser diferente, afinal é toda filmada em único take que explora a coreografia de maneira brilhante e incluí até truques de maquiagem.

E para fechar, logicamente, temos um elenco principal que só não está perfeito porque o vilão do filme e o seu interprete são muito fracos. O jovem Michael B. Jordan (que já trabalhou com o diretor no próprio Fruitvale Station) carrega o filme nas costas em muitos momentos, contribuindo para desenvolvimento aprofundado do protagonista e alcançando um trabalho físico digno durante os treinamentos e lutas. Ao seu lado, temos Tessa Thompson, que interpreta de maneira decente a sua versão mais independente e atual da Adrian.

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Mesmo assim, a grande estrela de Creed acaba sendo Sylvester Stallone, que aproveita a transformação do seu personagem em uma espécie de Mickey para entregar sua melhor interpretação de Rocky Balboa de todos os tempos. É difícil saber quem é o lutador e quem Stallone, mas o ator demonstra uma entrega total pelo papel, possui muita química com Jordan, passa todas as dores de um personagem que realmente sente o peso do passado nas suas costas, arranca lágrimas de boa parte do público em um monólogo avassalador e mostra que é merecedor do Globo de Ouro que recebeu na última semana.

Para finalizar, eu tenho que admitir que Creed não é um filme perfeito, mas os pequenos erros são facilmente perdoados pelo espectador quando o filme demonstra todo o seu amor pela franquia, faz a platéia vibrar e arranca lágrimas de muitos marmanjos. É um filme que sabe reverenciar o passado como poucos e ainda marca o início de uma nova franquia que pode aproveitar os nossos personagens favoritos sem ser dependente deles. No fim das contas, Creed é o melhor filme da franquia desde o original e merece ser assistido o mais rápido possível.

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OBS 1: Eu não assisti Creed na CCXP ou em alguma sessão especial e mesmo assim a platéia realmente vibrou quando a música-tema ressoou.

OBS 2: Falando nisso, é realmente interessante a maneira como eles misturam algumas notas dessa música ao hip-hop durante todo o filme para só no final utilizá-la. E o melhor, de maneira inesperada e divertida.

OBS 3: Estou oficialmente torcendo para o Stallone levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para casa!


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