Não se engane.Crazy Ex-Girlfriend é uma série musical da CW, mas é diferente de tudo que você está pensando que vai assistir.
Começo esse texto dizendo que Crazy Ex-Girlfriend é uma série atípica. Digo isso porque ela se difere de todas as outras que seu canal original julga fazer. A série é sim uma produção do canal americano CW, mas nela não existe nenhum casal adolescente, nem muito menos algum mistério clichê a ser resolvido. Aqui a série abre espaço para problemas como ansiedade, egoísmo, feminismo e porque não doses de psicopatia?
Crazy Ex-Girlfriend gira em torno de Rebecca Bunch (protagonista e co-criadora, Rachel Bloom), uma advogada de sucesso que depois de se encontrar casualmente com o ex-namorado da juventude na rua, decide largar o emprego – e uma promoção importante – e segui-lo até a pequena (ou seria minúscula?) cidade de West Covina, Califórnia, nos arredores de Los Angeles, na esperança de reconquistá-lo. Clichê? Aí que você se engana.
Através do humor, a série zomba dos clichês típicos de uma comédia romântica e explora questões como a saúde mental e as pressões de ser mulher no mundo moderno. A sequência de abertura por exemplo, já no início cita o nome da série “Crazy Ex-Girlfriend” como um termo sexista.
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A protagonista Rebecca é independente financeiramente, tem orgulho de ser uma profissional bem-sucedida, cursou Harvard e aparentemente é um exemplo para a sociedade, certo? Errado! No decorrer dos episódios Rebecca se mostra egoísta, emocionalmente instável, hipócrita, viciada em remédios e cheia de traumas que carrega da infância. Pode parecer pesado, mas note que já estamos no quarto parágrafo e em nenhum momento citei a forma como isso é mostrado da na série: ela é um musical.
Desde o desaparecimento de Glee, as grades de programação tornaram-se órfãs de séries musicais. E aqui esses números dão um toque “non sense” à trama que a torna especial. Com no mínimo 2 números musicais originais por episódio, a série trata de temas mentais com sarcasmo e ironia. As músicas, inspiradas na Broadway são inteligentes, politicamente incorretas e fazem críticas ferrenhas ao momento em que a personagem passa.
Além de suas canções, personagens ou enredos, por trás do Crazy Ex-Girlfriend, encontramos algumas mensagens importantes sobre comportamentos prejudiciais em nossa sociedade. Durante seus dois primeiros anos os números musicais da série abordaram temas diversos, sempre com seu habitual tom sarcástico, como o alcoolismo, as traições ou os triângulos amorosos. Outros tópicos truculentos abordados durante os dois anos iniciais do show, e que deram um pouco mais de vida às séries foram: o aborto, as infidelidades ou a difícil conciliação do trabalho com a vida familiar.
Em determinados episódios a série ainda se permite focar nos coadjuvantes Josh Chan (Vincent Rodriguez III), Paula (Donna Lynne Champlin), Greg (Santino Fontana), Darryl (Pete Gardner), e Heather (Vella Lovell), e no fim, acabamos percebendo que problema atinge muito mais do que só Rebecca. Todos ali têm algum tipo de problema, cada um à sua maneira.
Com uma terceira temporada recém-chegada na Netflix, poderemos continuar desfrutando de mais uma leva de episódios dessa comédia engenhosa, melodicamente nova e autoconsciente, cuja sátira e clichê social parte de uma simples história romântica, além da constante análise psicológica que torna sua mentalmente irregular protagonista, eles fazem ser muito mais do que uma simples “série musical”.