Cozinhar Fder Matar tem seu título seguido à risca, numa trama cercada de estranheza e falta de objetividade
Nosso vocabulário é formado por fábulas e ditos populares – onde na maioria deles – o mais forte se sobressai ao mais fraco, sempre com uma lição de moral no fim. “Cozinhar Fder Matar”, pode ser lido como uma fábula violenta sobre um homem falho, que tenta inúmeras e até repetidas vezes, ultrapassar seus próprios fracassos.
No filme, Jaroslav (Jaroslav Plesl), um tímido motorista de ambulância, tem um relacionamento complexo com a esposa, Blanka (Jazmína Cigánková), que usa os três filhos do casal como chantagem para conseguir o que quer. Jaroslav, por sua vez, esconde que tem ciúmes patológicos de Blanka e pavor de que ela o abandone com os três filhos.
A estranheza do filme de Mira Fornay, lembra demais a dos filmes de Yorgos Lanthimos. Mas, se comparamos com a do diretor grego, falta objetividade a “Cozinhar Fder Matar”. Jaroslav é um personagem desprezível, cercado de pessoas como ou até piores que ele.
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Planos abertos mostram o personagem sozinho, mesmo que esteja cercado de pessoas. Por vezes ele nem fala. É como se Jaroslav não tivesse voz, e a falta de respeito com a qual é tratado durante as quase 2 horas de produção, evidenciam isso.
“Cozinhar Fder Matar” é ambicioso, mas em certo momento não sabe para aonde ir, tornando sua mensagem repetitiva. A câmera contínua e instável, denota relacionamentos abusivos baseados em insegurança, mas de certa forma, faz uma relação metalinguística com a produção checa.
Tudo está condicionado a alguma coisa, numa cadeia de situações bizarras. Aos poucos, a narrativa se torna um jogo de gato e rato, separados entre aqueles que sofrem, e aqueles que assistem, numa versão bizarra daquela sua vizinha fofoqueira que fica na janela.
As crianças, que não são culpadas de nada, quase não aparecem. Algo ressaltado num belíssimo plano de todos sentados a mesa, com os respectivos assentos dos pequenos vazios, mostrando que o que estamos vendo, é apenas uma batalha de egos. Pouco importa o que vai acontecer com a prole.
Essa violência e abuso familiar é sentida até os minutos finais de “Cozinhar Fder Matar”, quando não importa a casca em que Jaroslav esteja, ele nunca cumprirá as expectativas, e sempre será um derrotado, atraindo tragédia, na mesma medida em que a provoca.