Capitão Phillips é um dos melhores filmes do ano. A adaptação da história real do sequestro do Maesrk Alabama na costa da Somália reúne ótimas atuações, criticas sociais e muita tensão em seus movimentados 134 minutos.
O filme é baseado no livro “A Captain’s Duty: Somali Pirates, Navy SEALS, and Dangerous Days at Sea”, escrito pelo próprio sequestrado, Richard Phillips, junto com Stephan Talty. A história segue o Capitão durante uma viagem pela costa somaliana, mundialmente conhecida pelos constantes ataques de piratas. O capitão sabe disso e deixa essa preocupação clara desde o inicio do filme. Infelizmente, o ataque realmente acontece e, mesmo com todas as medidas inteligentes tomadas pelo capitão, os piratas conseguem entrar no navio. A partir daí não posso explicar muito sobre os acontecimentos para não estragar o filme.
O roteiro do filme é primoroso. Billy Ray (Jogos Vorazes) conta a história de maneira bem equilibrada. Nenhum elemento se sobressai durante toda a projeção. As cenas de ação são pontuais e estão cercadas por uma tensão contínua e agoniante. As criticas sociais também estão presentes, mas não tiram o foco do sequestro.
A história é contada detalhadamente (é fácil perceber isso, mesmo se você não leu o livro). Tudo parece estar no lugar. As funções da tripulação, as regras do navio e as manobras evasivas feitas pelo capitão são bem recriadas, inclusive abrindo espaço para o uso de diversos termos técnicos sem atrapalhar o público leigo. Chego a dizer que você não saber o que ele está fazendo aumenta a tensão.
O roteiro também deixa clara a importância do Capitão Phillips para a história. Ele assume todas as responsabilidades, enfrenta os piratas com determinação e faz de tudo para salvar sua tripulação (observem como ele vai dando dicas dos seus passos através do rádio ou de suas falas). O truque do vidro é um dos melhores exemplos dessas dicas dadas pelo capitão para a tripulação.
As já citadas criticas sociais também são muito interessantes e importantes. Já na apresentação dos dois lado da história, o roteiro deixa claro a diferença desigual entre a tripulação e os piratas e as motivações para o ataque. Entre os momentos de tensão, essas criticas voltam pontualmente, principalmente em alguns diálogos entre Muse, o chefe dos piratas, e Richard Phillips. Talvez a melhor delas apareça quase no final do filme, quando o capitão fala para Muse que deve haver outras opções de trabalho, além de ser pescador e pirata. A resposta de Muse é “Talvez na América”, deixando clara as desigualdades entre a Somália e os EUA.
O diretor Paul Greengrass também está muito bem e mostra porque se consagrou como um diretor de ação e suspense. Ele controla muito bem o andamento do filme, balanceando os takes aéreos e longos com a câmera de mão e a edição rápida. A câmera de mão é uma das características mais marcantes dos filmes de Greengrass e ela está muito presente para dar um tom documental, jornalístico e urgente ao filme. Entretanto, a intensidade das tremidas foi suavizada se compararmos com os dois últimos Bourne ou O mais recente Zona Verde. Nesse último, algumas cenas chegavam a tremer tanto que o público não conseguia entender o que estava acontecendo.
Outra coisa interessante é como a direção de Greengrass vai mudando com o aumento da tensão. O inicio do filme tem muitos takes longos para mostrar a grandiosidade do navio e do oceano. Entretanto, com o decorrer do filme, o diretor vai deixando tudo cada vez mais claustrofóbico. Os takes passam a ser mais curtos e menos exploratórios (os cenários ficam restritos a ambientes escuros e corredores estreitos) até culminar nas filmagens dentro do bote, que é o auge da claustrofobia. A partir desse momento entra em cena uma edição alternada entre a tensão claustrofóbica presente no bote e as ações militares de resgate.
Para ajudar a direção, o filme tem uma equipe técnica de dar inveja. O destaque vai para o diretor de fotografia Barry Ackroyd (Guerra ao Terror), para o editor (e antigo parceiro de Greengrass) Christopher Rouse (a edição rápida dá um tom de urgência sublime ao filme, principalmente no final) e para a trilha sonora perfeita do experiente Henry Jackman (a trilha entra na hora certa e ajuda no aumento da tensão).
Além do bom roteiro e da ótima direção, Capitão Phillips tem um ótimo elenco. O destaque, obviamente, deveria ir para Tom Hanks, mas quem toma conta do filme é Barkhad Abdi. O estreante mostra muita desenvoltura na composição de um personagem complexo. Muse é violento, inteligente e perigoso, mas possui, ao mesmo tempo, uma ingenuidade que atrapalha sua missão. Os diálogos entre ele e Tom Hanks são muito bons, com destaque para algumas tiradas sensacionais. Digno de uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante.
Isso não quer dizer que Tom Hanks não esteja bem. Até porque é difícil Tom Hanks não estar bem em um filme. Sua atuação começa bem equilibrada e simplória para depois explodir junto com a tensão criada pela invasão dos piratas. A partir do momento em que o centro da ação passa a ser o bote, a atuação começa a exigir mais de Tom e ele corresponde, entregando algo digno de Oscar. Suas reações quanto tenta escrever o bilhete para a família e quando vai ser examinado pela médica são fortes e emocionantes.
O restante do elenco tem pouco destaque, mas alguns merecem considerações. Os outros três piratas também estão muito bem (principalmente o jovem Bilal e o esquentado Najee). Michael Chernus (Shane, o braço direito do capitão) e Max Martini (Chefe dos SEAL) também estão muito bem.
Uma históri
a real tensa e muito bem adaptada que merece ser vista. Seus 134 minutos passam muito rápido e o espectador não consegue tirar os olhos da tela. Um filme com poucas falhas, já que tem um roteiro bom, uma direção segura e uma qualidade técnica invejável. Merece ser assistido o mais rápido possível.
OBS 1: Os atores estreantes só se encontrataram, propositalmente, com Tom Hanks na hora de filmar a invasão à ponte para dar o tom de tensão necessário para a cena.
OBS 2: A última cena, que é umas das melhores do filme graças a atuação de Tom Hanks, foi completamente improvisada. A médica que examina o capitão erra interpretada por uma médica real da Marinha e, após a primeira tentativa de gravar, ela travou. Por isso, Tom Hanks disse que ele deveria ficar em choque e improvisou toda a cena, enquanto ela fazia um “exame” como faz em todos os resgates.
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