Eu falei na introdução da critica de Mesmo se Nada der Certo que não sou o maior fã de musicais. Claro que existem exceções, como Moulin Rouge, mas quase sempre eu vejo a música como uma muleta que tira a força da história. Caminhos da Floresta é um filme com potencial, mas que poderia ser bem melhor. E a música é o menor dos problemas.
O filme segue cinco histórias diferentes: a do casal de padeiros, a de João e sua mãe, a de Cinderela, a de Chapeuzinho Vermelho e a da Bruxa. O casal quer ter filhos, mas não consegue porque existe uma maldição sobre a família. A Bruxa aparece e oferece uma chance deles terem uma criança. É a partir disso que esses muitos contos de fada clássicos começam a se cruzar para criar uma história completamente nova.
A introdução do longa é muito boa, apresentando de maneira orgânica, ágil e bem editada todas as histórias que vamos seguir através de uma música. Entretanto, essa velocidade vai se perdendo aos poucos no decorrer do longa. A primeira metade do filme, que conta basicamente as histórias conhecidas com pequenas mudanças geradas pela inclusão do padeiro, é interessante e conseguiu me prender, mas a necessidade de fazer algo mais faz com que o filme opte por conclusões afobadas e reviravoltas bruscas.
É a partir dessa grande virada, que impede o narrador de falar o clássico “felizes para sempre”, que o filme realmente se perde. As histórias já tinham se cruzado de uma maneira inesperada e divertida, mas eu não consigo enxergar a necessidade da união realizada nessa segunda parte, que é muito arrastada. Os draminhas bobos se afloram, as conclusões ficam mais precipitadas, as motivações ficam fracas e apenas alguns pontos fora da curva podem ser aproveitados aqui. Eu fiquei com a impressão de que essa parte só existe para que mais músicas sejam cantadas e uma moral seja criada.
As músicas são interessantes, bem escritas e produzidas, como era de se esperar de uma adaptação de uma peça musical. Existem algumas canções, como a da introdução e a da culpa, que realmente se encaixam dentro da narrativa e chegam a substituir bem os diálogos, mas – infelizmente – a maioria só está ali para funcionar como muleta dramática. A questão é que isso não funciona comigo, porque eu não acho que uma fala cantada tem maior apelo do que um bom diálogo.
Outra coisa que era de se esperar de uma adaptação desse tipo é o uso contínuo da teatralidade e uma coisa que me agradou muito foi ver isso ser levado além. Muito disso pode ser visto na movimentação dos atores durante as apresentações musicais, mas fica mais interessante quando a gigante aparece. Mesmo estando no clímax do filme, o diretor opta por não se apoiar na computação gráfica e não mostrar o monstro claramente. Sempre usando a névoa, os galhos e alguns movimentos de câmera para encobrir a criatura, Rob Marshall fez com que eu me sentisse dentro de um teatro, que não tem os efeitos especiais, nem todas as regalias de produção de um filme.
O restante do visual funciona em partes. Todo o jogo de câmera de Rob (que tem experiência com musicais) consegue usar bem os cenários, tendo como apoio constante a direção de arte, a maquiagem e o figurino. Entretanto, em alguns momentos esse trabalho mais prático e manual é substituído de maneira brusca por uma computação gráfica não tão boa. Isso prejudica um pouco o trabalho de imersão do público naquele mundo fantástico.
O elenco é estrelar, mas também tem altos e baixos. Alguns são prejudicados pelos seus personagens, mas pelo menos nenhum deles estraga as canções como Russell Crowe fez em Os Miseráveis. Todos os escalados sabem cantar de maneira digna e interpretam as canções de um jeito correto e justo.
Entre aqueles que ganharam personagens bem construídos estão Anna Kendrick, Chris Pine, Emily Blunt, James Corden, Tracey Ullman e os jovens Daniel Huttlestone e Lilla Crawford. Todos se saem bem, cantam bem e conseguem carregar o filme em algum momento, mas que Corden é quem mais me agrada. Ele, que já tinha me chamado a atenção em Mesmo se Nada der Certo, é um ótimo cantor e tem mais carisma do que qualquer outro nome do elenco.
Outros atores são simplesmente mal aproveitados, ficando basicamente com o clichê do filme. Entre eles estão Christine Baranski, Mackenzie Mauzy, Billy Magnussen e o veterano Johnny Depp. O último, que faz o Lobo, tem pouquíssimo tempo de tela e nem tem muito espaço para fazer suas extravagâncias.
A indicada ao Oscar Meryl Streep não entra em nenhum dessas categorias, porque tem personagem instável. A Bruxa tem uma boa construção e é importante para o funcionamento da história, mas tem suas motivações mal trabalhadas e soa repetitiva em muitas aparições. Streep faz um bom trabalho com o que tem em mãos, mas focou muto claro para mim que ela foi indicação só pela força do seu nome.
Um filme que tem uma história interessante e com potencial, mesmo sendo bem próxima da HQ Fábulas ou da série Once Upon a Time. O grande problema é que o filme tem altos e baixos constantes em todos os seus quesitos. O roteiro não funciona durante todo o longa e deixa alguns momentos arrastados. O visual e as atuações também tem problemas pontuais, que atrapalham o desenvolvimento da história. Gostei, mas acho que poderia ser muito mais do que um simples musical cansativo e arrastado.
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