Rachel, Jack and Ashley Too é um Hannah Montana adulto

Rachel, Jack and Ashley Too

Rachel, Jack e Ashley Too é o retrato do artista de calibre mundial. Miley Cyrus (Sexo, Drogas e Jingle Bells) passou por isso. Lady Gaga também. Britney e tantos outros já tiveram suas carreiras guiadas por um padrão estético visual que, de uma forma ou de outra era categorizado por seus produtores. Mais dia, menos dia o artista se rebela e mostra seu verdadeiro eu, com suas vontades e batendo de frente com a indústria que o formou ao bel prazer.

Ver isso em Black Mirror é muito interessante. É uma série que propõe o debate pelo absurdo e de fato é o que acontece em Rachel, Jack e Ashley Too. Uma metáfora artística que passeia entre o mundo introspectivo das celebridades e paixão incontrolável dos fãs.

O terceiro e último episódio da quinta temporada de Black Mirror acompanha dois grupos paralelos. O da própria Ashley O (Miley Cyrus) e de duas irmãs, Rachel (Angourie Rice) e Jack (Madison Davenport). Essas duas garotas são um duotone da personalidade da própria Ashley e Charlie Brooker, criador e roteirista da série, faz questão de deixar isso bem claro. Enquanto uma é roqueira e e introspectiva, a outra é mais efusiva e expansiva. Esse espelho das duas é justamente o que a cantora quer ser, mas é travada por sua tia produtora.

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Percebe que ainda não falei de tecnologia aqui? Pois é. Em Rachel, Jack and Ashley Too, ela fica em segundo plano para dar espaço ao drama humano terreno. Claro que a própria tecnologia é o elemento que faz toda a história andar, porém passa longe de ser a discussão central que Black Mirror sempre estipulou.

O roteiro deixa claro mais um oposto nisso tudo. Num primeiro lado, o robô com inteligência artificial simula a personalidade da cantora pop e, quando desbloqueado, se transforma na real essência da artista. No outro, a própria artista se desliga, mesmo que involuntariamente, e passa a usar um limitador de consciência pra se manter viva. É uma premissa interessante, quando se propõe a debate-la e em um primeiro momento poderia ser o foco de Rachel, Jack and Ashley Too. Mas não é…


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Black Mirror abre mão de fazer algo tão bom, como fez em Black Museum e White Christmas, pra se transformar numa aventura caricata digna de Sessão da Tarde. Essa mudança de tom no meio do episódio tira sua conexão com a série e faz perder o que ela tinha de melhor. O espanto pela similaridade e o medo do real.

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Quando ela se propõe a ser mais presente do que futurista, como nos dois últimos episódios, é completamente aceitável. O problema é digerir o divertimento pelo divertimento a partir de situações bizarras e “pastelonas” que nunca foram o foco da série. Contudo, quando olhamos para a tecnologia em si, dá pra salvar Rachel, Jack and Ashley Too de um fiasco completo.

A assistente virtual é o retrato da Alexa, da Amazon. Entende seus gostos particulares, seu vocabulário e sua personalidade. Te dá dicas e encoraja em situações onde o ser humano persiste em ter dúvidas. A partir do momento que acreditamos nisso, esquecemos o fator lógico da programação, e levamos em conta a amizade que se constrói. Temos um Her em mãos. Se apaixonar pela figura que o robô se moldou pra você é fácil. Difícil é olhar pra fora e enxergar as nuances que o ser humano entrega. Mas robôs não dão broncas, não mudam de ideias e nem pesam sentimentos. Robôs não vivem.

Rachel, Jack and Ashley Too também explora o lado perverso das produtoras que extraem de um artista toda sua criatividade, justamente como se fosse um… robô. Induzir Ashley ao coma e usar suas ideias para compor músicas mostra bem o que vemos hoje em dia na indústria. São artistas moldados por terceiros que entendem que aquilo vende mais que isso. São artistas que deixam suas personalidades serem encaixotadas pelas linhas finas do contrato. Mais Hollywood que isso, impossível.

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Charlie Brooker erra mão dessa vez, tentando ser mais direto em seus diálogos. Sem rodeios e mais expositivo, ele derrapa na companhia de Anne Sewitsky, que assina a direção do episódio. É um filme mal dirigido sem um futurismo que sempre foi característico. A narrativa não é convincente dentro desse universo que já acostumamos a ver, mas que apresenta discussões interessantes acerca da fã base e seus ídolos.

No fim das contas, Rachel, Jack and Ashley Too é um episódio de aventura com os mocinhos se dando bem contra um vilão malvadão. Eu gostava de ver isso em Hannah Montana, não aqui. Dessa vez isso não foi muito Black Mirror…

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