Better Things é uma sensível tragédia feminina

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Better Things é uma das comédias dramáticas mais aclamadas pela crítica, mas infelizmente o talento de Pamela Adlon não é tão conhecido assim

A abertura de “Better Things” ao som de Mother de John Lennon, sintetiza a tragédia que vamos acompanhar ao longo de três temporadas. Mas não se engane, estamos diante de uma série de comédia, que se utiliza de absurdos para contar uma história de amor, maternal, a profissão e a si próprio. A série acompanha Sam (Pamela Adlon), uma atriz veterana que já fez muito sucesso em séries e hoje pega qualquer trabalho desde comerciais a dublagem de desenhos. Sam vive uma boa vida, mas precisa conciliar seu trabalho na criação das 3 filhas: a adolescente irritante Max (Mikey Madison), a pré adolescente transgênero Frankie (Hannah Alligood) e a fofa e curiosa Duke (Olivia Edward).

A dramédia criada por Pamela Adlon e Louis C.K., quase acabou graças aos escândalos revelados contra C.K., mas ganhou uma sobrevida e uma arrebatadora terceira temporada, tendo todos os episódios dirigidos pela própria Adlon. Ela é a estrela da série. É como se acompanhássemos uma semi-autobiografia, já que a atriz também tem trabalhos consolidados de dublagem, e também cuida de suas filhas.

Além disso, Sam precisa conviver com o sotaque britânico e as peculiaridades da mãe, Phyllis (Celia Imrie). Entre trancos e barrancos, ela é o pilar da casa que não tem uma figura masculina e paterna. A mesma precisa se desdobrar, pois além de cuidar da sua carreira, das filhas e da mãe, precisa cuidar de si própria, sua saúde e vida pessoal.

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O relacionamento com as filhas não é fácil e é muito difícil sentir empatia por elas ao ver Sam se esforçando para dar tudo e mais um pouco, enquanto lida com a ingratidão. Ao mesmo tempo, Better Things sintetiza a vida real e as pessoas que encontramos, sem cair no clichê do jovem sábio e que muda completamente ao ouvir uma lição de moral. O amadurecimento é um processo, por vezes longo, e a série não se limita a apressar tal desempenho. A demora para que Sam e suas filhas aprendam como devem ser comportar consigo mesmas e com os outros, não se deve a uma falta de desenvolvimento, pelo contrário, é nos detalhes que percebemos tal evolução.


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As outras relações de Sam, fora do âmbito familiar por exemplo, servem para acompanharmos sua vida de atriz e sempre trazem episódios emblemáticos, como o do comercial repetido inúmeras vezes. Assim vemos que sua rotina não é nada fácil. A relação com as amigas também é um show à parte, com Sam sempre prezando pelo apoio, sororidade e ausência masculina, que é quebrada pelos maridos, trazendo a ira de nossa protagonista. Não há um ódio à todos os homens, mas Sam sente que às vezes, as mulheres precisam de momentos feitos por elas e para elas, sem a necessidade de estar cuidando de alguém, ou até mesmo ouvindo piadas de gosto duvidoso.

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A sensibilidade de Adlon é refletida em sua direção e no seu texto repleto de discussões sobre machismo, desigualdade salarial entre homens e mulheres, desprezo por atrizes com uma idade avançada (como numa das cenas que abre a série, lá em 2016), até abuso sexual.

Better Things não é apenas um panfleto sobre como garotas devem se comportar e agir em algumas situações. É emocionante na medida certa, seja nas interações entre Sam e as filhas (o episódio do “falso” velório é um dos melhores da série), como nos relacionamentos mal sucedidos de alguém que foi tão privada do amor de outro homem, que não se imagina mais tendo nenhum relacionamento recíproco.

O universo feminino é o ponto de partida e também o de chegada de Better Things, preciso em sua veia cômica e ao mesmo tempo dramática, auxiliado pela trilha sonora pontual, uma câmera “afetiva” e uma fotografia receptiva, que parece se adaptar aos nossos olhos. As vezes transitando entre a fantasia e a realidade, a série de Pamela Adlon mostra que mesmo após os 50, ainda há muito o que viver.

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