Crítica: Barry (1ª Temporada)

Não sei que tipo de informação isso passa sobre minha pessoa, mas meu gênero (ou sub-gênero) cinematográfico favorito sempre foi aquele bom e velho suspense policial que acompanha psicopatas, gângsters, policiais e assassinos. Além disso, como todo bom cinéfilo, eu também sou fascinado por tramas que falem direta ou indiretamente sobre a indústria do entretenimento. Quando soube que a HBO iria juntar isso tudo em uma série de comédia, esse que vos escreve já tinha certeza que não poderia deixar de assistir Barry. E, sem falsa modéstia, eu acertei em cheio nessa decisão e acabei encontrando uma pequena obra-prima escondida na programação dos canais fechados.

A inusitada premissa dessa empreitada criada por Alec Berg (Silicon Valley) e Bill Hader (Festa da Salsicha) é acompanhar o dia-a-dia de Barry, um ex-soldado americano que trabalha como assassino de aluguel. As coisas mudam quando uma missão em Los Angeles o leva até um curso de teatro meia-boca que desperta sua vontade de estar no centro das atenções, recebendo aplausos. Isso é o suficiente para que Barry decida, apesar da discordâncias com seu “associado”, largar tudo para seguir esse sonho americano.

O roteiro – escritos em sua maioria pela própria dupla de criadores – tem pleno conhecimento do quão surtada e aleatória é sua ideia inicial e aproveita esse pontapé para entregar uma temporada engraçada, inventiva e cheia de diálogos rápidos e inspirados. É verdade que uma parcela considerável dessa comédia vem de um humor mais negro e crítico que exige certo repertório da audiência, porém Barry também acerta em não ficar presa a estruturas fixas. Só pra exemplificar, é muito interessante como um mesmo episódio consegue criar momentos que enfiam o dedo na ferida criada pelos abusos de poder na indústria cinematográfica e uma sequência de piadas extremamente física sobre o desconforto de Barry no palco.

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É uma mistura de temáticas e escolhas narrativas que só funciona porque está sempre orbitando um protagonista muito complexo e completo. Barry Berkman é um assassino profissional que sequer pisca quando precisa “apagar” alguém, mas essa casca, que pode conter até mesmo alguns traços de psicopatia, também esconde um anti-herói cheio de boas intenções que encontrou na morte de supostos criminosos uma maneira de sobreviver no mundo sem oportunidade dos ex-soldados. É uma vibe meio Dexter que Bill Hader (protagonista, roteirista e diretor de vários episódios) captura com imensa sensibilidade e devolve para o espectador com um equilíbrio certeiro entre humor e doses inesperadas de drama.

No entanto, seria tremendamente injusto falar apenas do protagonista quando a temporada ainda acerta em cheio na construção dos contextos policial, mafioso e teatral, recheando os três núcleos com boas subtramas e coadjuvantes marcantes. É impossível não terminar a série vibrando pelo sucesso do romance de Barry e Sally (Sarah Goldberg), colecionando risadas com as ações absurdas comandadas em um núcleo por um professor de teatro mulherengo (o incrível Henry Winkler) e, no outro, por uma dupla de mafiosos completamente sem noção (Glenn Fleshler e um hilário Anthony Carrigan), torcendo contraditoriamente pela detetive que finge ser durona (Paula Newsome), criando teorias sobre o futuro de Fuches (o ótimo Stephen Root de Corra!) e sentindo o peso das decisões de Chris (Chris Marquette).

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Isso porque esse último está no epicentro de um sétimo episódio que funciona como ponto de virada para Barry, levando a série para caminhos sombrios e cravando a mesma como uma das melhores produções do ano. Não acho válido especificar os exatos acontecimentos que carregam os 33 minutos em questão, mas posso garantir que o machismo e o militarismo discutidos de maneira tão séria ficam parecendo comédia pastelão a partir daqui. A conversa entre o protagonista e Chris no carro está na lista das sequências mais tensas e densas que eu já vi, enquanto o paralelo perfeitamente montado entre a espera nos bastidores da peça e uma certa revelação deveria receber um prêmio pro brilhantismo.

Esse peso todo não exclui a possibilidade do episódio ter alguns dos melhores e mais divertidos diálogos da temporada, mas garante que o tal balanceamento entre drama e comédia fique cada vez mais surpreendente. Observem como Bill Hader (que é um gênio da comédia, por sinal) assume o peso do personagem, se entrega ao gore e abandona o humor completamente até o último episódio permitir que um raio de otimismo entre pela janela dele. É verdade que a câmera extremamente pausada e tensa deixa claro que alguma coisa vai dar errado, mas é aí que está o último grande acerto da narrativa. Ela prepara o terreno para que uma sensação terrivelmente agridoce invada a tela, se una ao impecável mix de drama, comédia, romance e suspense proposto pelo texto e, finalmente, culmine no final mais sensível e chocante que a primeira temporada de Barry e a televisão americana poderiam entregar.

Barry é uma obra que na falta de um adjetivo mais certeiro pode ser classificada como divertida, violenta, inesperada, densa, complexa e matadoramente imperdível!


OBS 1: Gostaria de chamar a atenção para as cenas no futuro, visto que elas funcionam tanto como comédia, quanto como uma forma diferente de explorar a psique e os sentimentos do protagonista. Ótima sacada!

OBS 2: A participação especial do Jon Hamm é um deliciosa surpresa desses momentos descritos acima.

OBS 3: Bill Hader merece um prêmio urgente. E, nesse caso, pode ser como ator, roteirista ou diretor…

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