Eu não sou o maior fã de 007 e também não sou o maior defensor dessa fase mais séria do personagem, mas tenho que admitir que a ótima qualidade de Skyfall me deixou ansioso pela sua continuação. Tudo melhorou quando garantiram a mesma equipe, o diretor também decidiu continuar e o elenco foi anunciando grandes nomes, mas, apesar disso tudo, esse filme não deu muito certo e acabou sendo mais fraco do que seu antecessor.
O longa chega com o objetivo claro de fechar o arco comandado por Daniel Craig e para isso decide fazer sua versão de uma das histórias mais clássicas do espião. Nesse caso, Bond está em uma caça solitária para realizar um dos últimos desejos de M (Judi Dench) e acaba esbarrando com a organização que, além de dar nome ao filme, é a responsável por tudo o que aconteceu nos três filmes anteriores.
Eu realmente achei que essa premissa poderia ser interessante, mas o roteiro de John Logan, Neal Purvis, Robert Wade e Jez Butterworth é simplesmente fraco. A história até começa bem, mas o desenrolar dos acontecimentos não convencem e acabam ficando completamente perdidos em um texto recheado de clichês, diálogos ruins, coincidências e mudanças de opiniões que não condizem com o que os personagens (vulgo 007) fariam.
E, na minha opinião, o que causa boa parte desses problemas foi justamente a premissa de concluir esse arco na figura de uma organização que controlaria tudo. A questão é que tudo isso ainda se misturou com questões pessoais, vinganças individuais e uma motivação extremamente fraca, fazendo com que tudo soasse extremamente forçado. E no fim das contas, eu não consegui comprar o discurso fraco de um vilão que merecia mais peso (afinal, ele era a cabeça por trás de TUDO) e fiquei com entalado com uma conclusão completamente previsível.
A única coisa boa que eles consegue fazer é entregar esse filme nas mãos da nostalgia como nenhum outro dessa safra mais séria tinha feito. É verdade que não foi dessa vez que o filme entregou aqueles vilões completamente caricatos, mas o roteiro sabe usar seus momentos de alívio cômico e ainda faz a alegria dos fãs com muitas referências a todos os filmes já feitos, incluindo gadgets no carro e alguns traços marcantes de vilões clássicos.
E isso só não funciona mais porque a direção de Sam Mendes insiste em tentar dar ao filme um clima mais pesado e sombrio do que ele precisava ter nesse momento específico. Considerando que ele já dirigiu longas muito mais interessante, como Beleza Americana, esse é um trabalho um pouco preguiçoso e automático que resulta em um filme que não tem ritmo nenhum e poderia ser um pouco menor para ficar menos arrastado.
Entretanto, isso não quer dizer que o seu trabalho é ruim. Na verdade, ele ainda consegue traduzir muito bem a essência desse Bond mais físico e bruto sem perder alguns aspectos mais artísticos que funcionaram no longa anterior e já são marcantes na sua filmografia. Inclusive, a união desses aspectos com um trabalho perfeito de fotografia e direção de arte é a melhor parte do filme e ainda resulta em uma cena de abertura feita em plano-sequência que é de encher os olhos de qualquer um.
Esse era um bom caminho para anular os problemas de roteiro, mas o elenco acaba não colaborando quando ficam baicamente divididos entre aqueles que não queriam estar ali, aqueles que sofrem para tentar dar algum rumo para o seu personagem mesmo sem a ajuda de um bom texto e aqueles que são simplesmente desperdiçados. Logicamente, o primeiro grupo é comandado pelo protagonista Daniel Craig, que deu várias entrevistas falando (de forma mais ríspida) que não queriam mais interpretar o personagem e faz questão de estampar isso na cara durante boa parte do longa.
Por conta disso, os coadjuvantes ficam com boa parte do destaque, já que atores como Ben Wishaw, Léa Seydoux, Ralph Fiennes, Naomie Harris e Dave Bautista tentam dar alguma profundidade aos seus personagens ou, no caso do último, fazer o que faz de melhor. Entretanto, ao mesmo tempo, ainda temos um grupo relativamente grande de bons atores, incluindo Monica Belucci, Rory Kinnear e Andrew Scott (o Moriarty da BBC), que são jogados fora sem nenhuma preocupação pelo roteiro.
Além disso, ainda temos o vilão, que é interpretado pelo glorioso Christoph Waltz. E eu só deixei ele por último porque percebi que ele tem um pouco dessas três categorias: o roteiro atrapalha muito sem crescimento na trama, a má-vontade do ator faz com que ele simplesmente repita a sua interpretação em Bastardos Inglórios e isso tudo faz com que ele seja desperdiçado e nem sua bela mudança facial seja eficiente para convencer o público.
Por conta de vários problemas assim, 007 Contra Spectre termina como um filme que não funciona e acaba sendo uma decepção depois do ótimo Skyfall. Apesar disso e dos problemas de roteiro e ritmo, preciso dizer que o filme não é totalmente descartável, já que funciona muito bem para os fãs mais enlouquecidos, consegue ser uma boa diversão para qualquer um e, principalmente, não é (e nunca será) pior do que o horroroso Quantum of Solace.
OBS 1: Não falei no meio da crítica, mas a abertura é muito boa e a música Writing’s on the Wall, cantada pelo britânco Sam Smith, também funciona muito bem dentro da história.