Coletivo Terror é uma boa aposta de passatempo

coletivo terror

Nova antologia de horror da Netflix, Coletivo Terror reúne histórias nórdicas em episódios curtos e eficientes.


Não existe outra opção: se quiser se manter viva na disputa entre os serviços de streaming, a Netflix precisa encher seu catálogo com produtos que chamem a atenção dos assinantes. Uma das propostas que a “locadora vermelha” costuma explorar nesse caminho pra completar tal missão é apostar em conteúdos diversificados em relação aos formatos e nacionalidades, chegando em obras que conquistam a audiência justamente por reunirem elementos pouco encontrados nas mídias tradicionais.

Algo que, sem dúvida nenhuma, deve acontecer com Coletivo Terror, já que estamos falando de uma série norueguesa que abraça o gênero – relativamente nichado – do terror, enquanto explora o formato das antologias. Em outras palavras: é um exemplar “barato” que, além de pegar quem gosta de horror ou de conhecer novas culturas, ainda pode ser visto em qualquer ordem no tempo que o espectador achar melhor.

O resultado é uma série curiosa que, a partir dos roteiros escritos por Kjetil Indregard (responsável pela versão original de Maniac) e Atle Knudsen (ZombieLars), insere novos olhares no jogo, explorando o gênero de uma maneira que talvez não seja a mais convencional. É claro que só esses argumentos não fazem com que Coletivo Terror seja necessariamente acima da média, mas ajuda a colocá-la na lista de originais da Netflix que merecem alguma atenção.

É por isso que, na tentativa de guiar os passageiros mais desconfiados por essa assustadora e bizarra viagem de ônibus pelas terras nórdicas, nós reunimos a redação para comentar separadamente cada um dos episódios (que são bem diferentes entre si).

Compre sua passagem, encontre seu lugar e prepare-se para nosso passeio através do Coletivo Terror!


Episódio 01 – Ultimate Sacrifice

Direção: Geir Henning Hopland (Lilyhammer)

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Desde o primeiro episódio, Coletivo Terror já abraça suas origens e usa uma lenda viking como premissa para uma história bem dividida entre os clichês e as novidades. A trama acompanha uma família em dificuldade financeira que precisa se mudar para uma casa velha no interior do país. Acostumada com a cidade grande, Molly não perde a chance de implicar com os vizinhos e deixar claro que odeia aquela ideia até descobrir uma segredo que pode recuperar as finanças da família.

Entre os acertos que mais me chamam atenção no episódio estão: a maneira como tudo é apresentado e desenvolvido com muita agilidade sem perder o fio da meada; a construção do clima que sugere estar lidando com diversos subgêneros do terror (a casa mal-assombrada, os vizinhos assassinos e etc..) antes de revelar suas reais intenções; e a entrega de uma reviravolta que realmente mexe com o público.

O problema é que um pequeno detalhe desse ótimo terceiro ato acabou diminuindo minha experiência com Ultimate Sacrifice: o segredo final é revelado antes do que deveria pela montagem da sequência. Não posso falar muito pra não dar spoilers, mas, se a edição não transitasse tantas vezes entre passado e presente, eu teria terminado o episódio com o queixo no chão.

Por Flávio Augusto (Nota: 8,5/10)

Episódio 02 – Three Sick Brothers

Direção: Atle Knudsen (Orps: The Movie)

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O segundo episódio, por sua vez, sai das histórias típicas da Noruega pra mergulhar em um suspense onde a loucura é usada da maneira mais óbvia possível. A trama acompanha Eric, um jovem que acabou de sair de um hospital psiquiátrico após três anos de internação, numa viagem com seus dois irmãos para a cabana da família.

A premissa funciona, a trilha sonora empolga e a tensão até rouba os holofotes em em algumas cenas, mas a abordagem convencional e a direção problemática tiram boa parte da graça de Three Sick Brothers. Atle Knudsen (que também o criador da série e roteirista de todos os episódios) mostra que tem mais talento como escritor do que atrás das câmeras, escorregando bastante na construção do clima. Por mais que o suspense exista, a condução do episódio não só peca na manutenção desse medo, como começa a entregar alguns segredos bem mais cedo do que deveria.

Algumas reviravoltas ainda sobrevivem (a cena final do carro, por exemplo), mas a parada é que, sem uma abordagem mais inventiva, uma parte muito importante da graça acaba se perdendo quando o todo é compreendido. Principalmente se você já assistiu os outros filmes que flertam a mesma proposta narrativa.

Por Flávio Augusto (Nota: 7/10)

Episódio 03 – Bad Writer

Direção: Geir Henning Hopland (Lilyhammer)

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O melhor episódio de Coletivo Terror, Bad Writer conversa diretamente com qualquer pessoa que escreve ou que já escreveu algo na vida e muitas vezes tem medo de revelar sua história para o julgamento alheio. Na trama, Olivia é uma jovem que tem a vida perfeita: o namorado e as amigas a amam, tem tudo que deseja em suas mãos, além de ter ganhado dos pais um pônei na infância e uma Porshe na vida adulta.

Certo dia, ela decide fazer um curso para aspirantes a escritor, conhece um cara e seu mundinho perfeito começa a ruir sem que ela pudesse fazer nada. Mas, até que ponto ela tem controle sobre tudo que está vivendo? O episódio brinca com a metalinguagem, espelhando camadas cada vez mais conflitantes, afinal: o que você faria se tivesse o poder de alterar a vida de alguém?

O escritor é um Deus e Bad Writer se sente no direito de brincar com sua narrativa, flertando com absurdo, até mesmo no final WTF.

Por Tiago Soares (Nota: 9,5/10)

Episódio 04 – Lab Rats

Direção: Geir Henning Hopland (Lilyhammer)

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Lab Rats é uma daquelas histórias com o potencial maravilhoso que se perde pela própria ganância (quase metalinguística eu diria) e pela forma preguiçosa que encerra sua trama. Aqui acompanhamos um grupo de farmacêuticos comandados por Philip, um empresário ganancioso de uma grande rede farmacêutica, que acabou de descobrir a cura para a depressão.

Quando o protótipo some misteriosamente num jantar, sem ninguém além dos convidados ter entrado em seu luxuoso apartamento, Philip tenta descobrir das formas mais absurdas quem o roubou, fazendo de seus funcionários cobaias em um jogo doentio. Com bastante potencial, existe uma discussão sobre poder, privilégios e crueldade, destruídos pelo final anti-climático e com perceptíveis furos.

As atitudes posteriores de alguns personagens não tem sentido, e é possível imaginar inúmeros finais melhores do que aquele que vimos neste episódio de Coletivo Terror.

Por Tiago Soares (Nota: 6,5/10)

Episódio 05 – The Old School

Direção: Atle Knudsen (Orps: The Movie)

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Talvez esse seja um dos episódios que mais flertam com o terror como construção do medo no espectador. A trama conta a história de Sanna, uma professora do primário que muda para uma pequena cidade do interior para dar aulas em uma escola da região, reaberta após 40 anos. Contudo, esse tempo fechada não foi o suficiente para a escolinha exorcizar todos os fantasmas que habitavam por lá.

Quando digo construir o medo, me refiro a aflição do sobrenatural que, num primeiro momento, não podemos ver. As vozes ecoantes, as fotografias antigas e o clima de perseguição fazem de The Old School um episódio bem apreensivo.

Por mais que algumas situações soem forçadas como um ex-zelador visitar o filho no mesmo pensionato que a professora resolveu morar, ou uma casa abandonada no meio da floresta, praticamente aberta à visitantes, entendemos que pelo tempo dos episódios isso é necessário para fechar uma história.

No fim, na necessidade de resolver o mistério, The Old School foge do seu clima apreensivo e abraça o terror escrachado e sanguinário. Mas é bem no finzinho e até que gostei.

Por Felipe Hoffmann (Nota: 8,5/10)

Episódio 06 – The Elephant in the Room

Direção: Geir Henning Hopland (Lilyhammer)

Coletivo Terror é uma boa aposta de passatempo 4

Festas de empresas são sempre assustadoras, isso é um fato. Fantasiados de animais então, mostra-se uma bela pedida para o terror. The Elephant in the Room se passa durante uma festinha numa pequena empresa norueguesa. Dois novatos da corporação descobrem uma história sinistra de uma ex-funcionária e resolvem investigar os motivos por trás da sua morte.

Eu não sei vocês, mas quando chego numa empresa nova, demoro até ter afinidade com as pessoas e não tenho a cara de pau de abrir o computador dos colegas procurando vestígios de uma suposta morte. E nesse episódio que fecha Coletivo Terror, essas atitudes prafrentex me descolaram um pouco da proposta do conto, que até soa bem interessante.

Entretanto, The Elephant passeia pelo cômico sempre com o mistério de fundo e funciona dentro dessa ideia. Usar os personagens fantasiados de ratos, porcos e elefantes misturam o bizzaro com a comédia, ajudando a criar força no mistério. Seu climax fica prejudicado por uma direção indecisa entre mostrar uma morte ou outra e a reação dos funcionários. No fim, até o sangue jorrando parece engraçado.

Por Felipe Hoffmann (Nota: 6/10)
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