A Caçada: pegaremos em armas?

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A Caçada discute se combater o mal com o mal seria válido e quem são os cidadãos de bem que nos rodeiam


O cidadão de bem é uma figura fora do comum. Ele defende o conservadorismo e diz que é amante da família tradicional e dos bons costumes. Boa parte deles tem casos extraconjugais e disseminam discursos de ódio, tanto pela internet quanto pessoalmente. Andam com armas em punho porque não tem coragem de sair no soco (frase da internet). Em “A Caçada”, cidadãos de bem são o foco, mas, será que o motivo daqueles que os opõe são de fato genuínos?

Proibido nos EUA por um período devido o forte teor político e violento, “A Caçada” se aproveita dos tempos atuais para contar a história de um grupo de ricos que caçam pessoas menos favorecidas, com a desculpa de que são seres humanos piores que eles. Desde o primeiro trailer, a produção foi dita como “o Bacurau deles”, em referência aos EUA, mas apesar das similaridades estamos diante de um filme bem diferente.

A Caçada: pegaremos em armas? 3

Se em Bacurau o regionalismo, a identidade com o povo e sobretudo o orgulho de ser nordestino dominam a tela, em “A Caçada” são todos americanos. Não existe personagem com um viés moral melhor do que outro. São selvagens em busca da sobrevivência. Os caçados podem revidar, tornando a dinâmica um jogo onde todos podem perder, por puro divertimento.

O que está embutido aqui são os discursos que o seguem. Matar alguém que mata animais, que frequenta protestos fascistas ou trai a esposa é perfeitamente plausível para a elite de “A Caçada”, mas fazer uma piada racista, homofóbica ou até mesmo caçoar do visual do amigo é motivo de apedrejamento. É como se a timeline do Twitter estivesse aberta diante dos nossos olhos com toda sua hipocrisia.

No centro da ação, Crystal (Betty Gilpin), uma veterana do exército, tenta sobreviver com o que tem e o que aprendeu durante a vida. Mesmo sendo uma garota durona, é difícil se identificar com a personagem pois pouco sabemos de seu passado. Ela de certa forma é um produto de um país violento, como se tivesse sido criada pelos seus próprios opositores comandados por Athena (Hilary Swank), em uma espécie de desafio.

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Dirigido por Craig Zobel (diretor de 2 dos melhores episódios de “The Leftovers”) e escrito pela dupla Nick Cuse e Damon Lindelof (The Leftovers/Watchmen), “A Caçada” tem um discurso poderoso, mas que é engolido pela boa direção e momentos tensos de pura inspiração. O sangue é jorrado na tela, e a facilidade com que os personagens morrem torna tudo imprevisível e ao mesmo tempo descartável.

Praticamente uma sátira dos novos tempos, o que vemos são corpos sendo dilacerados em nome do entretenimento, agradando ou desagradando dois lados do espectro político. Não existem heróis ou vilões, apenas o coelho e a tartaruga. Quem você é?

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