FILE São Paulo 2023 discute o tema ‘Singularidades Interativas’ com 183 participações de artistas de 39 países
A interação entre as inteligências artificiais e a humanidade inspira mais uma edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – FILE, que ocupa o Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp, de 5 de julho a 27 de agosto. A visitação à exposição principal acontece de terça a domingo, das 10h às 20h, com entrada gratuita.
O tema da atual edição do festival é “Singularidades Interativas”, uma referência à hipótese à la ficção científica de que a interação mútua entre as inteligências artificiais (IAs) e humanas levaria ao desenvolvimento de uma consciência simulada, ou seja, de um “eu artificial”, que poderia dialogar com o “eu natural”, trocando informações e experiências de diversas maneiras.
Essa ideia, segundo Paula Perissinotto e Ricardo Barreto, os curadores e cofundadores do FILE, vai na contramão daquele pensamento de que a IA se tornará em breve autônoma e autoconsciente.
“Uma ‘consciência mixada’ conjunta conectaria consciências humanas ao vasto conhecimento produzido na história da humanidade por intermédio de uma consciência artificial e isso poderia ocasionar uma transformação evolutiva. Não como uma única singularidade artificial que dominaria a humanidade, mas como ‘Singularidades Mixadas’ que interagiriam entre si, na solução dos problemas complexos do mundo”, explicam os curadores sobre a proposta da edição.
A programação do FILE São Paulo 2023 é composta pela exposição principal, uma instalação na entrada do Centro Cultural Fiesp, projeções de trabalhos na fachada do prédio, parcerias com outras instituições, workshops e uma instalação no Metrô.
Realizado em parceria com o SESI-SP, desde 2004, o festival é um evento em que o público pode interagir e conhecer o que há de mais inovador na união entre arte, ciência e tecnologia.
Destaques da FILE São Paulo 2023
A exposição principal do FILE São Paulo 2023 reúne 183 participações de 302 artistas, vindos de 39 países, como Brasil, Estados Unidos, Argentina, Alemanha, China, França, Finlândia, Japão, Irã, Reino Unido, Espanha, México, Colômbia, Itália e Portugal.
A ideia é que os visitantes possam interagir ativamente com essas obras e, dessa forma, aprendam com essas experiências estéticas. O público se deparará com novas possibilidades de pensar e de agir em um mundo tecnológico menos massificado, além de se adaptar ao desenvolvimento acelerado das novas formas de Arte, não apenas estéticas, mas também inteligentes.
Uma das obras da mostra é a instalação interativa “Expanded Iris” (2022), da brasileira Anaisa Franco, que convida os visitantes a olhar por um dispositivo chamado pela artista de “iriscópio espacial” (“space iriscope”). O instrumento escaneia a íris da pessoa e projeta sua imagem misturada a galáxias e nebulosas. A ideia é que o público possa olhar para o micro-universo da íris e encontrar similaridades com o Universo das galáxias.
A finlandesa Hanna Haaslahti apresenta a instalação “Captured” (2021), que captura o rosto do visitante e cria um avatar digital para ele em um cenário coletivo no mundo virtual. A ideia desse trabalho, que explora captura fotorrealista e tecnologias em 3D, é que, ao ver seu duplo digital, a pessoa se torne ao mesmo tempo espectadora e atuante na obra.
A dupla canadense Victor Drouin-Trempe (V.ICTOR) e Jean-Philippe Côté (Djip.Co) traz para a exposição a instalação “Empreintes Sonores” (2022), que propõe uma reflexão sobre os rastros digitais que deixamos na vida contemporânea. Na prática, uma assistente digital ativada por voz escuta discretamente e grava os sons emitidos pelas pessoas na instalação. Esses registros sonoros são mixados e transformados em imagem. Com o recurso de sensores de movimento, os visitantes podem percorrer os rastros das ondas sonoras, interferindo na reprodução dos sons originais.
Outro destaque é “VastWaste” (2022), da norte-americana Özge Samanci, uma instalação em realidade virtual que propõe uma conscientização em relação à exploração espacial, baseada em dados que revelam conexões entre a poluição marítima e a recente poluição espacial. Na obra, é possível vivenciar por meio de recursos sonoros e visuais, as altas velocidades dos detritos de satélites e o seu impacto na atmosfera e mares.
Já a instalação “Phase” (2022), de Seph Li, de Hong Kong, também é criada a partir da geração de dados. A obra é inspirada em um conjunto de regras estabelecidas a partir do Projeto de Física de Wolfram misturado ao universo do taoísmo chinês, transformando hipóteses científicas em um sistema visual generativo. Nessa experiência, os visitantes podem manipular animações em 4k a partir do movimento.
Destaca-se também a obra Unbonded on a Bonded Domain, encomendado pela FACT, Londres, do artista brasileiro de Gabriel Massan, que procura alinhar a experiência emocional de sua infância no Rio de Janeiro, adolescência em São Paulo e maturidade na Europa como matéria-prima para seu trabalho, seguindo as dicas da escritora e acadêmica Saidiya Hartman no conceito de ”Fabulação Crítica”, para explorar um ecossistema virtual.
Os visitantes do FILE terão a oportunidade de experimentar o jogo HUMANITY, lançado recentemente pelo estúdio japonês Enhance, liderado pelo criador de jogos Tetsuya Mizuguchi. A equipe se dedica a criar experiências de entretenimento emocionais e sinestésicas por meio do poder de jogos, VR, AR, MR e tecnologia móvel.
Por fim, no trabalho Learning to see do artista turco Memo Akten, o público poderá observar e manipular em tempo real a percepção de redes neurais que reinterpretam objetos do cotidiano para gerar composições visuais, fazendo surgir paisagens na tela.
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Ativação especial:
Logo na entrada do Centro Cultural Fiesp, o público se depara com a instalação “Light Falls” (2021), do brasileiro Vigas (Leandro Mendes Vigas). Com 5 metros de altura, a obra em formato de cachoeira propõe uma reflexão sobre a importância da água e da preservação da natureza. O trabalho é formado por grandes tubos que partem do alto e imitam o curso da água até o chão, onde se entrelaçam no chão, criando o efeito da água batendo nas pedras. E ao fundo, o visitante pode ouvir sons da Floresta Amazônica.
LED Show
Uma atração já tradicional no FILE São Paulo, o LED Show é a projeção de obras de artes eletrônicas no painel de led instalado na fachada da FIESP, de frente para a Avenida Paulista, durante todo o evento.
Neste ano, são expostos os trabalhos de 11 artistas de vários países: Alejandro Casales Navarrete (México), Anabela Costa (França), Christian Merrill (EUA), Gilbert Sinnott (Alemanha), Hernan Roperto (Argentina), Leonardo Uehara (Argentina e Brasil), Lucas Oggioni Cypriano (Brasil), V.A.N.H (Espanha), mammasONica (Itália), Patricio Ballesteros Ledesma (Argentina) e Pedro Henrique Hochscheid Stelmach (Brasil)
Além desses trabalhos, o LED Show recebe a série “Cotidianos Imperceptíveis”, resultado de uma parceria do festival com o curso de Artes Visuais do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), da Universidade de São Paulo. As obras foram desenvolvidas, sob orientação da Prof. Dra. Silvia Laurentiz, pelos participantes do Grupo Realidades.
O nome dessa série de trabalhos faz referência àqueles aspectos da vida diária que passam despercebidos ou são negligenciados pela maioria das pessoas.
Workshops
Com a proposta de difundir a tecnologia como linguagem criativa e o processo de desenvolvimento artístico, as oficinas do FILE SP 2023 acontecem no mezanino do Centro Cultural Fiesp – entre os dias 5 e 7 de julho. As atividades são gratuitas e, para participar, é necessário se inscrever por meio do link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfcHCSTzwmkuIpFeDxv_pmBNHxZBMCKEjFtcsG7cTAj3t8GbQ/formResponse
Desde 2009, as oficinas oferecidas pelo FILE têm contado com grupos de educadores da ciência da computação e artistas que buscam uma imersão experimental na essência da linguagem binária. Essa imersão tem como propósito a transferência de conhecimento e a pesquisa sobre o uso da computação para fins artísticos.
Neste ano, ministram os workshops Felipe Gomes, Bruna Mayer, Miguel Alonso, Mauricio Jabur, Luca Ribeiro, Sergio Venâncio, Samuel Mariani, Paulo Nenflidio e Felipe Mamone.
Confira aqui a programação completa dos workshops.
FILE Hypersonica
Na edição “Singularidades Interativas”, o festival conta com o Arquivo de Áudios do CYLAND como parte integrante do programa FILE Hipersônica 2023. Esta parceria visa aumentar a visibilidade deste acervo e estimular a criação e divulgação de produções sonoras inovadoras e experimentais.
CYLAND é uma organização sem fins lucrativos que promove o surgimento de novas formas de arte e interações de alta tecnologia, desenvolvendo conexões entre artistas, curadores, engenheiros e programadores.
Para enfrentar o desafio de apresentar o som “puro” em espaços expositivos junto a outras obras de arte contemporânea mais “materiais” e preservar a arte sonora, o laboratório criou em 2013 o Arquivo de Áudios do CYLAND. O projeto tem curadoria de Sergey Komarov e inclui mais de 60 participações.
Todo esse material pode ser conferido em https://cyland.bandcamp.com/.
ANIMA+
Em 2023, a SCM/CityU participa do FILE São Paulo como instituição parceira integrante do FILE ANIMA+. A colaboração entre as instituições propõe a disseminação de obras criativas e a propulsão de novos artistas no cenário internacional. O programa é apresentado sob orientação do Prof. Dr. Max Hattler.
Primeira instituição desse tipo na região, a SCM/CityU foi fundada para nutrir uma nova geração de artistas interdisciplinares empreendedores e profissionais de mídia criativa e ser um centro de inovação para as indústrias criativas em Hong Kong, China Continental e no exterior. Atualmente, é reconhecida como centro internacional de descoberta e inovação na Ásia.
FILE no Metrô
O FILE METRÔ 2023 exibe a obra de realidade aumentada “Traces”, da artista venezuelana Camila Magrane. Essa intervenção pretende criar um espaço expositivo nas estações Trianon-Masp e Consolação, da Linha 2-Verde, do Metrô, tornando acessível uma experiência estética e tecnológica para o público que percorre esses espaços diariamente.
As entradas das estações receberão as obras da artista, a comunicação visual do evento e o público poderá acessar as obras em realidade aumentada através de seus próprios celulares.
“Traces” explora a relação entre o passado e o presente com foco no processo de transformação como fio condutor. A obra consiste em uma série de colagens e uma coleção de polaroids que são acompanhadas por animações e videoclipes vistos exclusivamente por meio do uso de um aplicativo de realidade aumentada.
Onde e quando visitar a exposição?
FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica
Período: de 5 de julho a 27 de agosto de 2023 | Horários: terça a domingo, das 10h às 20h
Local: Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp | Avenida Paulista, 1313 – em frente à estação Trianon-Masp
Entrada gratuita e por ordem de chegada. Agendamentos de grupos e escolas: [email protected]
O descritivo de todas as obras da edição do FILE Singularidades Interativas pode ser encontrado no site www.file.org.br