A Netflix não soube aproveitar o material que tinha em mãos e fugiram da responsabilidade de fechar a 4a temporada de La Casa de Papel. A série merecia mais
¿Por qué no te callas? Disse o rei espanhol Ruan Carlos ao então presidente venezuelano Hugo Chavez durante uma conferência Íbero-Americana em 2007.
Na época, Chavez falou por um tempo demasiadamente longo, dava voltas e voltas em seu discurso e interrompia os companheiros de Estado constantemente. Irritado, Ruan Carlos disse a célebre frase.
Curioso é que o termo facilmente se aplica à 4a temporada de La Casa de Papel. A série se estende por histórias que levam a lugar nenhum, dá voltas em seu próprio enredo e no fim, por mais que tenhamos boas esquetes, como um todo não funciona e falta pouco chamar o fã de bobo por perder seu tempo em oito episódios nada convincentes.
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A síndrome do autorama
Um dos grandes problemas da 4a temporada de La Casa de Papel é bater na ideia de um super plano do Professor(Alvaro Morte), quando ele mesmo diz repetitivamente que é falho, mas ainda assim consegue sobrepor adversidades e estar sempre um passo a frente de qualquer decisão da polícia.
Essa estratégia cria situações muito convenientes para endeusar o Professor, mesmo os roteiristas estando convictos que não têm ideia de onde querem chegar com a série.
Cada evento da 4a temporada de La Casa de Papel ajuda a empurrar com a barriga uma história que se mostra cansativa e repetitiva. Mesmo que por vezes tenha lá seus bons momentos de ação e tensão.
Você já brincou de autorama alguma vez na vida?
No brinquedo, você tem o controle do carrinho, aperta um botão e ele vai embora, dando voltas num circuito que você pode montar, desmontar, e criar traçados diferentes. No fim, o carrinho fica dando voltas e voltas e acaba sempre passando nos mesmos lugares. Se der sorte, você pode acelerar demais numa curva, capotar o carrinho e botar ele de novo nos trilhos. É a ação que a brincadeira permite.
A 4a temporada de La Casa de Papel vive essa síndrome do autorama. A maioria de suas histórias são forçadas, convenientes e tudo é feito pra endeusar o piloto a frente do carrinho. Depois de um tempo, fica cansativo saber que tudo vai se resolver e, literalmente, voltar vários passos, ou voltas atrás.
Os personagens
Câmeras lentas, contra-plongée e música pop tentam dar um ar de superstars aos ladrões, colocando-os como divas do entretenimento. A opinião pública realmente é importante na 4a temporada de La Casa de Papel e joga os Dalís a favor da sociedade, enfatizando isso sempre que possível.
Contudo, existe uma insistência descomunal em endeusa-los como seres acima da lei e esquecendo que estão dentro de um assalto em local nacional. A primeira temporada fez isso com maestria, humanizando os personagens mas sempre lembrando do risco que estavam e do quão nocivo aquilo poderia ser.
Isso se perdeu por completo na terceira e, ainda mais, na quarta parte da série. Justamente quando a Netflix assumiu o controle de La Casa de Papel e criou mais uma temporada, forçando uma história onde não tinha.
Personagens como Palermo (Rodrigo de la Serna) e a inspetora Alicia Sierra (Najwa Nimri) são tão maniqueístas e egocêntricos que as poucas cenas de amor de Palermo ou a história do marido falecido da inspetora grávida não são suficientes para justificar as atitudes nada condescendentes com eles próprios.
Ajudar a libertar um segurança combatente de guerra não é nada inteligente num plano tão complexo como esse, né?
Arturito (Enrique Arce), por exemplo, pra início de conversa não deveria nem estar por ali. Forçaram a entrada dele na terceira parte, em função da excelente atuação de Arce, porém a subtrama que fizeram com ele foi tão desnecessária que além do asco já natural do personagem, o nonsense reinava em seu núcleo, com situações, no mínimo, constrangedoras para a série.
Outro destaque triste foi o pouquíssimo aproveitamento de Nairóbi nisso tudo. O gancho que a terceira parte entrega, com Alba Flores à beira da morte merecia um final mais digno para a excelente atriz. Gastar metade dos episódios recuperando Nairóbi, para depois servir de cobaia e terminar da forma que terminou é escancarar a falta de ideias na sala de criação e uma tentativa frívola de despedir da personagem
Mas e aí, vale a pena?
Pra ser bem sincero, a 4a temporada de La Casa de Papel é exatamente o que o Professor disse do assalto.
“Um bando de boas ideias que não funcionam juntas”.
Tirar proveito do sucesso que se tornou a série, muito em função de sua primeira temporada arrebatadora, para ficar colocando ganchos atrás de ganchos nas temporadas seguintes é no mínimo desonestidade com quem alçou La Casa de Papel no patamar de hoje.
A forma que a temporada se encerrou foi a gota d’água de uma sequência de episódios que já estavam difíceis de engolir. Não serem capazes de assumir a extraordinária proporção que La Casa de Papel tomou e fechar uma história é atestar a completa perda do material que a Netflix tinha em mãos.
Uma pena, mas já passou da hora de La Casa de Papel se calar.
Você está louco querido.
O site resguarda o direito de preservar a sanidade mental dos nossos colaboradores. Louca quem está é a Netflix em não terminar nada que começa.
Crítica fraca e sem cabimento algum. Gostei da síndrome do autorama, tirando isso umas das piores críticas do site. Parabéns