Luke Cage (1ª Temporada)

A verdadeira Marvel das ruas


marvel-luke-cage-posterDepois de duas temporadas de Demolidor e uma com Jessica Jones, a parceria entre Marvel e Netflix já comprovou a qualidade das adaptações dos seus heróis mais sombrios, urbanos e próximos de grandes dilemas vividos pelos americanos. Dentro dessa ideia, Luke Cage desenvolve um dos principais heróis da década de 70 com muita intensidade, mostra que ele continua sendo o reflexo da nossa sociedade e ainda nos apresenta uma Marvel verdadeiramente urbana.

[Atenção: Esse texto não foi feito à prova de spoilers. Você foi avisado!]

Claro que essa conexão começa com a presença marcante do hip hop, do jazz e de outras batidas marcantes da cultura negra, sendo que muitas dessas músicas utilizadas dão nome aos episódios, ditam o ritmo de todas as cenas que se passam em Harlem’s Paradise e funcionam como um verdadeiro fio condutor entre os episódios. Mas podem acreditar que essa é só a pontinha do iceberg, visto que a mudança de ambientação para o Harlem coloca o bairro quase como um personagem que exala cultura pop, blaxploitation e problemas sociais que são notícias atualmente. Temos brutalidade policial, corrupção, tráfico de armas, racismo e muitos momentos que brincam com pessoas e filmes populares, como Al Pacino, Star Wars, Richard Price, Walter Mosley, Quentin Tarantino, Beyoncé, Tupac, Notorius B.I.G, Method Man, Arquivo X e vários outros. São referências que claramente fazem parte do dia-a-dia das pessoas que moram no bairro.

Dentro dessa ambiente muito propício, o roteiro comandado por Cheo Hodari Coker (roteirista da cinebiografia de Notorius B.I.G) repete os mesmo caminhos das parcerias anteriores para trabalhar a origem do herói. Apesar de uma participação importante em Jessica Jones, essa é a história de origem que apresenta Luke Cage (Mike Colter) para o público de forma oficial, considerando algumas mudanças bem óbvias em relação a sua origem nos anos 70. A influência de Reva nas suas motivações e o figurino original, por exemplo, são deixados de lado, mas acabam virando boas referências em um episódio de flashback que deve mexer com os verdadeiros fãs. E olha que eu nem estou contando as inúmeras vezes em que o protagonista avisa que não xinga, que não está disponível para ser alugado ou que não vai usar máscara.

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Os vilões também perdem algumas ligações pessoais que mantinham com Luke nas primeiras HQ’s, mas o bom desenvolvimento de todos eles consegue apagar essa informação. Cottonmouth (Mahershala Ali) rouba os holofotes e até ganha aquele típico flashback familiar que justifica sua transformação em vilão, mas isso não o impede de dividir o espaço com Mariah Dillard (Alfre Woodard), Shades (Theo Rossi) e o clássico Diamondback (Erik LaRay Harvey). Tudo muito bem construído para fazer com que todos se tornem inesquecíveis de alguma forma, sem necessariamente repetir as fórmulas usadas em Demolidor e Jessica Jones.

Da mesma forma, a maior parte dos coadjuvantes (aparecendo pouco ou não) possui carisma suficiente, importância dentro da história ou participações simplesmente divertidas que ajudam a prender a atenção do espectador. Assim Misty Knight (Simone Missick), Pop (Frankie Faison), Rafael Scarfe (Frank Whaley), Bobby Fish (Ron Cephas Jones), Dr. Burstein (Michael Kostroff), Damon Boone (Clark Jackson), Priscilla Ridley (Karen Pittman) e até Soledad Temple (a brasileira Sônia Braga) ganham – pelo menos – uma frase de efeito, uma morte impactante ou seu espaço ao sol por alguns minutos. Isso sem esquecer, logicamente, do retorno decisivo de Claire Temple (Rosario Dawson) após os eventos da segunda temporada de Demolidor.

Ela é uma das principais ligações entre as séries de heróis do serviço de streaming, mas o malandro Turk Barrett (Rob Morgan) também dá as caras pelo Harlem ao mesmo tempo em que os diálogos muito construídos não perdem a oportunidade de referenciar todos os Vingadores, Wilson Fisk, Kilgrave, Jessica Jones, o programa de rádio apresentado por Trish e até o vindouro Punho de Ferro no finalzinho do último episódio. Até o esquecido Justin Hammer (interpretado por Sam Rockwell em Homem de Ferro 2) é citado como o desenvolvedor de uma tecnologia que poderia tranquilamente ser usada nos filmes da Casa das Ideias. Ou alguém duvida que Judas mataria o Hulk com mais facilidade que a flecha do Gavião nas últimas edições de Guerra Civil 2?

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Apesar de ter começado a temporada esperando algo um pouquinho mais acelarado, as cenas de ação funcionam dentro do que foi proposto, entregam um nível de violência um pouco maior, possuem coreografias bem melhores do que as de Jessica Jones e encaixam com a ambientação urbana pensada pelo design de produção e pela fotografia majoritariamente amarelada. O cuidado com ângulos e enquadramentos também impressiona, graças a direção comandada por nomes reconhecidos como Paul McGuigan (Victor Frankenstein), Guillermo Navarro (Preacher e Narcos), Vincenzo Natali (Hannibal e Westworld), Marc Jobst (melhor episódio da segunda temporada de Demolidor), Sam Miller (Luther), Andy Goddard (Doctor Who), Magnus Martens (Banshee), Tom Shankland (House of Cards e Ripper Street), Stephen Surjik (Person of Interest e Jessica Jones), George Tillman Jr. (Homens de Honra), Phil Abraham (Breaking Bad, The Walking Dead e Mad Men) e Clark Johnson (Hell on Wheels e Homeland).

Eles também acabam, de certa forma, sendo os responsáveis por tirar grandes atuações de boa parte do elenco, com destaque merecido para Mahershala Ali (House of Cards), Simone Missick (Ray Donovan), Alfre Woodard (12 Anos de Escravidão), Frankie Faison (The Wire) e Rosario Dawson (Sin City). No entanto, eu preciso dizer que fiquei muito surpreso com a ótima atuação de Mike Colter (The Good Wife e Halo: Nightfall) como o protagonista, principalmente depois de acompanhar uma participação bem apagada em Jessica Jones. Ele sabe como lidar com os trejeitos travados do personagens, mas não falha nos diálogos mais difíceis e dramáticos.

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No final das contas, Luke Cage só comprova que a parceria entre Marvel e Netflix tem fôlego e qualidade suficiente para durar muitos anos daqui pra frente. Não sei se acho essa temporada melhor do que as anteriores, mas posso afirmar sem nenhuma dúvida que todos os assinantes vão ficar muito felizes com a trilha sonora pulsante e a relevância social do programa. Já os fãs já podem simplesmente preparar a pipoca e assistir com muita tranquilidade a empreitada mais urbana e violenta da Marvel na televisão.


OBS 1: Me desculpem, mas eu gosto de citar o nome dos principais diretores, porque muita gente passa a abertura e esquece a importância deles. Nesse caso, fiquei impressionado com a qualidade dos nomes e acabei falando sobre todos.

OBS 2: Outra coisa muito interessante é que a grande maioria deles possui algum trabalho anterior com a Netflix, além dos que eu citei junto com os nomes. É só conferir o perfil deles no IMDB.

OBS 3: Toda a sequência em que o Method Man faz um rap sobre o Luke Cage, enquanto a edição mostra o povo apoiando o herói, é maravilhosa. Uma das melhores da série.


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