Desventuras em Série | 1ª Temporada

Desventuras em Série

Uma série estupenda. Estupenda, nesse caso, significa maravilhosa


Desventuras em Série não é uma série qualquer. Sua ambição em ser despretensiosa é justamente o que a diferencia de outras produções. Desventuras é arte, poesia, música e simplicidade, fazendo a Netflix acertar novamente em mais uma adaptação.

A série, criada originalmente por Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler), é composta por 13 livros e conta a história dos órfãos Baudelaire em sua odisseia para encontrar um tutor legal até que Violet (Malina Weissman) complete dezoito anos e assuma o controle da herança deixada pelos pais. Desventuras em Série já esteve no cinema, sendo estrelado por Jim Carrey em 2004 e chega no formato seriado em oito episódios de sua primeira temporada.

Por justamente conter oito episódios, a série adapta um livro a cada dois capítulos. Isso faz com que o desenvolvimento das histórias seja bem explorado e a cada final tenhamos um desfecho e um gancho para o próximo episódio, deixando a narrativa mais linear, sempre inserindo coisas novas, criando um produto estupendo para acompanhar.

Grande parte do sucesso de Desventuras em Série está na figura de Conde Olaf, vivido por Neil Patrick Harris (How I Met Your Mother). O vilão é carregado de trejeitos e Neil consegue, no talento de suas atuações, calibrar um personagem maléfico e engraçado, perigoso e atrapalhado. Por vezes somos pegos sentido medo das atitudes de Olaf mas na cena seguinte somos surpreendidos com algo cômico para quebrar esse clima de tensão. A dissemelhança dos papeis de Neil e Jim Carrey é evidente. Enquanto o primeiro leva um ar mais dramático, o segundo carrega o peso do filme consigo, representando um Conde Olaf mais caricato e engraçado. Isso até pode incomodar alguns, contudo não foi algo realmente inquietante.

Desventuras em Série | 1ª Temporada 3

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As carismáticas crianças conseguem estar no mesmo nível de excentricidade de Conde Olaf. Os Baudelaire Violet, Klaus (Louis Hynes) e Sunny (Presley Smith) possuem uma característica peculiar em cada um. Com o poder da engenhosidade, da literatura e de super dentes afiados, eles conseguem escapar de situações pitorescas. Sunny, a bebê, é uma das agradáveis surpresas da série. Suas piadas carregadas de sarcasmo entram em momentos precisos, contudo, como ainda é um bebezinho, o CGI que ajuda nos movimentos dela são pouco trabalhados. Só que isso acaba sendo totalmente irrelevante, dado a proposta de Desventuras.

Na linha estética, Desventuras em Série tem seu ponto alto. São traços que passeiam pela morbidez de cenários mais pesados, passando pelas vívidas cores impressionistas indo até os característicos movimentos artísticos de vanguarda. Na fotografia, as referências aos quadros perfeitamente simétricos de Wes Anderson, o sombrio de Tim Burton e as técnicas de suspense de Hitchcock se destacam. O surrealismo proposto também invade os personagens, encaixando uma proposta bem cartunesca em suas personalidades.

Desventuras usa e abusa da figura do narrador onipresente. Sempre que a série julga necessário explanar alguma situação ou observação mais pontual para situar o público, Lemony Snicket entra em cena. Contudo, no início, suas inserções parecem mais forçadas, ilustrando demais uma situação que já vai acontecer. Mas aos poucos, as aparições vão se encaixando melhor, com menos frequência, justificando a importância de sua personificação.

Os acontecimentos da série passam longe do realismo diário, mas encanta justamente por ser algo tão fora da nossa realidade. A quebra da quarta parede, o roteiro bem encaixado, um visual artístico maravilhoso e o carisma dos personagens criam uma atmosfera perfeita para deixar Desventuras em Série uma delícia de se assistir.

 

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