As Duas Faces de um Crime (1998)

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“As Duas Faces de um Crime” é um filme simples e pouco ambicioso, mas consegue agradar vários tipos de públicos distintos. Vai agradar quem gosta de filmes policiais (mesmo não sendo um filme verdadeiramente policial), quem curte filmes de tribunal e quem só quer um roteiro que não subestime o espectador. Vai agradar até as mães que gostam do Richard Gere…

O filme segue um advogado ambicioso e narcisista que pega um caso famoso e quase perdido só para aparecer na mídia. No caso em questão, ele tem que defender um jovem que está sendo acusado de matar  o arcebispo de Chicago de maneira sádica. Todas as pistas apontam para este jovem, mas algumas reviravoltas podem mudar o final da história.

O roteiro é simplesmente genial e não é só por causa das reviravoltas que são muito bem planejadas e realizadas. Todo o contexto do filme é bem trabalhado. A maneira como o estilo do advogado interpretado por Richard Gere encaixa no julgamento. A maneira como o júri e as testemunhas são manipulados pelos advogados também é muito interessante. Todo estudante de advocacia deve assistir esse filme.

O roteiro ainda encontra espaços para criticar alguns aspectos sociais sem prejudicar o andamento da história. O filme critica a corrupção e as atividades pedófilas dentro da igreja de uma maneira simples e interessante.

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A construção da história também é muito interessante. Muitas pistas aparecem e diversas delas não servem pra nada. Isso faz com que algumas pistas importantes sejam ignoradas. Não é um filme complexo, mas exige que o público preste um pouco de atenção no que está acontecendo no filme.

A construção da história é constantemente influenciada e direcionada pela direção segura de Gregory Hoblit em seu primeiro filme feito para o cinema (antes tinha dirigido alguns filmes televisivos). A câmera guia o olhar do espectador de uma maneira sutil e cadenciada. Depois dessa experiência positiva, Goblit se especializou em filmes de suspense e fez filmes mais conhecidos, como “Possuídos” e “Um Crime de Mestre”.

O elenco é muito bom e funciona bem, ainda que o filme se apoie nos personagens de Gere e de um jovem brilhante chamado Edward Norton. Gere faz o tipão de sempre, sendo o sujeito bem-sucedido, bonito, galanteador. Mas em alguns momentos Richard sai da sua usual zona de conforto para confrontar Aaron (personagem de Norton) e cria um personagem bem interessante.

O restante do elenco possui alguns atores famosos, como Frances McDormand, John Mahoney, Laura Linney (ótima) e Terry O’Quinn. Todos eles estão muito bem, mas Gere e Norton ocupam o filme de uma maneira tão estrondosa que o elenco coadjuvante fica apagado.

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Agora vamos falar de Edward Norton. Um dos melhores atores do cinema, ele rouba a cena em qualquer filme, interpretando qualquer personagem. Esse foi o primeiro filme de Norton e ele certamente mostrou que veio pra ficar. E por sua atuação nesse filme conseguiu, merecidamente, uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante.

Edward Norton é o quinto nome a aparecer nos créditos, mas seu personagem é a força motriz do filme. Norton vestiu o personagem e fez tudo parecer real, desde a gagueira até a mente surtada de Aaron. Sua face, sua voz e seu porte corporal mudam várias vezes na mesma cena, criando um personagem vivo e cheio de nuances. Não posso falar muito sobre o seu personagem para não entregar nada, mas posso garantir que Norton está mais do que sensacional.

Um filme espetacular que presenteia seu espectador com boas atuações e com um final inesperado e surpreendente. O filme é simples, mas totalmente surpreendente. Merece ser assistido pela atuação de Edward Norton, por causa do seu roteiro, por causa das suas criticas e pelo seu final arrebatador.

OBS 1: CUIDADO!!! Qualquer spoiler pode entregar o final do filme.

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  1. : Brilhante estória, que captura a multidiversificada vida dos militantes do Direito. Tanto o renomado Marty Vail (Gere), sempre criativo e cerebral, quanto a pressionada Promotora Pública, Janet Venable (Linney), que, embora brilhante, sempre fustigada pelas injunções de seu cargo, quanto a juíza do caso, draconiana mas legalista. O assassino, Aaron Stampler (Norton) – feito vítima por Vail (Gere), para justificar seu crime hediondo – acaba por apresentar facetas subterrâneas, só à força do clímax episódico liberadas. De forma gradual, concatenada e de considerável força emocional. Conseguiu burlar a justiça e comunicar uma mensagem final de que se não há crime perfeito, também não há julgamento infalível. Após tantas artimanhas apresentadas, em revezamento, pela defesa e pela acusação, de forma lúdica, como num jogo de xadrez, o próprio criminoso – quem diria – também se mostra um primoroso jogador, para desfecho decepcionante dos “ experts” da justiça que sobre os seus atos homicidas se digladiavam… Final irônico, trágico, porém essencialmente reflexivo e inesquecível…

    Cotação : de 1 a 10 ——— Nota 10.

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